Premiê espanhol defende medida semelhante à adotada contra Rússia em razão da guerra na Ucrânia e se diz orgulhoso dos protestos pró-Gaza no país. Madrid cancela contrato de US$ 825 mi para compra de armas israelenses.O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, sugeriu nesta segunda-feira (15/09) que Israel seja banido dos esportes internacionais devido à sua ofensiva militar na Faixa de Gaza. A fala do premiê veio pouco depois da notícia de que seu governo também havia cancelado um contrato militar de 825 milhões de dólares (R$ 4,3 trilhões) com o país.

Sánchez expressou “profunda admiração” pelos milhares de manifestantes que interromperam neste domingo a etapa final da Volta da Espanha, uma das três maiores competições anuais do ciclismo mundial.

Ele disse que Israel deveria ser penalizado da mesma forma que ocorreu com a Rússia após sua invasão da Ucrânia. “Nossa posição é clara e categórica: enquanto a barbárie persistir, nem a Rússia nem Israel devem participar de qualquer competição internacional”, afirmou Sánchez.

O líder espanhol se tornou um dos maiores críticos europeus das ações de Israel em Gaza, onde a ONU vem alertando que os palestinos correm o risco de fome.

“As organizações esportivas deveriam se perguntar se é ético que Israel continue competindo internacionalmente”, disse Sánchez. “Por que a Rússia foi expulsa após invadir a Ucrânia, mas Israel não enfrenta expulsão após invadir Gaza?”

A declaração gerou irritação em Israel, que tinha uma equipe representando o país na corrida, e também os conservadores espanhóis.

Protesto em Madrid

Cerca de 100.000 manifestantes se reuniram para a etapa final da Volta da Espanha neste domingo, que foi interrompida a cerca de 60 quilômetros da chegada, no centro de Madri. Houve alguns confrontos com a polícia.

Os manifestantes criticaram a participação da equipe Israel-Premier Tech, de propriedade privada da incorporadora imobiliária israelense-canadense Sylvan Adams.

Barreiras foram derrubadas e jogadas na via por onde os ciclistas deveriam passar. A polícia interveio inicialmente em um ponto do percurso, mas acabou permitindo que os manifestantes ocupassem a via pacificamente.

A UCI (União Internacional do Ciclismo) declarou na segunda-feira que lamenta o apoio do governo espanhol às manifestações, que “podem colocar em dúvida a capacidade da Espanha de sediar grandes eventos esportivos internacionais”.

O ministro do Exterior de Israel, Gideon Saar, acusou Sánchez de “incentivar manifestantes a irem às ruas”, chamando seu governo de “uma vergonha para a Espanha”.

Seus comentários refletiram as críticas do Partido Popular (PP) da oposição conservadora espanhola. “O governo permitiu e induziu a não realização da Volta e, dessa forma, um constrangimento internacional televisionado para o mundo todo”, escreveu o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, no X.

Espanha cancela contrato de US$ 825 mi com Israel

A agência de notícias AFP relatou nesta segunda-feira que o governo espanhol teria cancelado um contrato no valor de 825 milhões de dólares para a compra de lançadores de foguetes de design israelense.

O contrato, concedido a um consórcio de empresas espanholas, envolveria a compra de 12 sistemas lançadores de foguetes Silam, derivados da plataforma Puls, fabricados pela empresa israelense Elbit Systems, de acordo com dados do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

No início do mês, Sánchez revelou medidas destinadas a impedir o que seu governo chamou de “genocídio em Gaza”, que Incluem a aprovação de um decreto que impõe a proibição de compra ou venda de equipamentos militares de Israel.

A Espanha também formalizou o cancelamento de outro contrato avaliado em 337 milhões de dólares para a compra de 168 lançadores de mísseis antitanque, que seriam fabricados sob licença de uma empresa israelense. Esse contrato havia sido noticiado pela primeira vez pela imprensa em junho.

Relações diplomáticas em xeque

A tensão nas relações entre os dois países vem escalando há meses. Israel não tem um embaixador na Espanha desde que Madri reconheceu o Estado palestino em 2024.

Na semana passada, a Espanha chamou seu embaixador em Israel de volta a Madrid após algumas discussões acaloradas sobre medidas adotadas por Sánchez.

O Delas Centre, um instituto de pesquisa em segurança com sede em Barcelona, estimou em abril que, desde o início da guerra em Gaza, a Espanha havia concedido 46 contratos no valor de 1,044 bilhão de dólares a empresas israelenses, com base em dados de licitações públicas.

O ministro espanhol da Cultura, Ernest Urtasun, disse nesta segunda-feira que a Espanha poderá boicotar o Festival da Canção Eurovisão do próximo ano se Israel participar, se juntando a outras nações europeias que ameaçam se retirar do megaevento.

rc (AP, AFP)