11/12/2025 - 10:11
Presidente do Congresso alega interferência de Trump no pleito presidencial e de grupos do narcotráfico. Candidatos denunciam fraudes, e observadores internacionais pedem cautela.O Parlamento de Honduras disse nesta quarta-feira (10/12) que não validará o resultado da eleição no país devido a pressões interna e externas.
A nação caribenha realizou o pleito em 30 de novembro, mas o resultado final ainda não foi divulgado, em meio a denúncias de fraude, interferências e problemas no escrutínio de centenas de atas, enquanto o país segue mergulhado na incerteza.
Em um documento, o Parlamento deixa claro que “não validará um processo manchado por pressões internas de estruturas do crime organizado vinculadas ao narcotráfico” e “muito menos sob pressões externas”, ao referir-se a declarações do presidente americano, Donald Trump feitas horas antes do pleito, a favor de um dos candidatos.
O presidente do Parlamento hondurenho, Luis Redondo, condenou a “ingerência” de Trump e denunciou que suas declarações públicas em favor de Nasry “Tito” Asfura, candidato do conservador Partido Nacional, constituíram “coação” contra os eleitores.
A declaração do Parlamento acrescenta que o apoio de Trump a Asfura e sua decisão de perdoar o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández “constituem uma interferência inadmissível, uma ameaça direta ao povo hondurenho e uma violação flagrante dos princípios democráticos e do direito internacional para influenciar a votação por meio de pressão, desinformação e condições econômicas”.
Membro do mesmo partido de Asfura, Hernández cumpria pena de 45 anos de prisão em Nova York desde junho de 2024 por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. O Ministério Público hondurenho empreende esforços para prender novamente o ex-governante.
“Condenamos de maneira absoluta a ingerência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que mediante declarações públicas realizadas 72 horas antes das eleições de 30 de novembro ameaçou e coagiu os cidadãos hondurenhos, alterando o livre exercício do sufrágio”, indicou Redondo em comunicado acordado pela Comissão Permanente do Parlamento, que integra nove dos 128 deputados, mas que tem grandes poderes.
Hernández foi extraditado em 2022 por seu país e condenado por narcotráfico em 2024, mas o ex-mandatário insiste que tudo foi um “montagem” perpetrada pelo governo do ex-presidente americano Joe Biden.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNEA) ainda não divulgou o resultado final da eleição e admitiu que 2.773 atas apresentaram inconsistências e deverão ser submetidas a um escrutínio especial, cuja data ainda não foi definida. Com isso, 500 mil votos estão em jogo.
O último cômputo oficial, com 99,40% das atas escrutinadas, dá vantagem a Asfura, apoiado por Trump, com 1.298.835 votos (40,52%). Logo atrás está Salvador Nasralla, do Partido Liberal, com 1.256.428 votos (39,48%). Ambos são candidatos de direita.
Em terceiro vem a candidata do partido governante, de esquerda, Liberdade e Refundação (Libre), Rixi Moncada, com 618.448 votos (19,29%).
Denúncia de fraudes
Nasralla denunciou na terça-feira uma “fraude monumental” nas eleições e exigiu uma recontagem especial “ata por ata” diante de uma série de falhas técnicas e supostas irregularidades no sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP).
“A falha do sistema de transmissão de resultados eleitorais, administrado pela empresa colombiana ASD, representa o maior risco técnico e jurídico observado no presente processo eleitoral. Não estamos diante de um erro menor, estamos frente a vulnerabilidades que comprometeram a confiabilidade da contagem digital, gerando inconsistências que deveriam ser impossíveis em um sistema corretamente validado”, enfatizou.
Para Nasralla, um sistema com segurança ativa “teria rejeitado essas inconsistências e obrigado a revisar manualmente as atas antes de transmiti-las”.
O partido no poder, liderado pela presidente esquerdista Xiomara Castro, também rejeitou os resultados provisórios, afirmando que o apoio de Trump e o indulto ao ex-presidente Juan Orlando Hernández foram uma interferência eleitoral.
O que dizem as missões de observação
O Parlamento solicitou às missões de observação internacional que “incluíssem nos seus relatórios finais uma análise detalhada dos acontecimentos ocorridos, especialmente as ameaças externas e internas, as falhas do TREP e as decisões administrativas que afetaram a verificação biométrica dos votos”.
Ao mesmo tempo, as missões internacionais pediram na quarta-feira que os partidos políticos respeitem a vontade popular expressa nas eleições.
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (MOE UE) apelou aos atores políticos que respeitem a vontade dos hondurenhos nas eleições e incentivou as forças políticas a utilizarem “os mecanismos de rastreabilidade” oferecidos pelo CNE e os recursos previstos pela lei para dirimir “questionamentos sobre os resultados”.
A delegação europeia, presente no país com 138 observadores desde 11 de outubro, pediu ainda aos membros do CNE e do Tribunal de Justiça Eleitoral que atuem “de maneira imparcial e exemplar”, evitando “obstruções ou atrasos” de caráter político.
Por sua vez, a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (MOE/OEA) instou partidos, candidaturas e autoridades a “aguardarem os resultados oficiais e manterem uma vigilância ativa sobre os escrutínios em curso” para garantir que as “fases finais do processo se desenvolvam conforme a lei e reflitam a vontade popular”.
A OEA destacou a necessidade de “máxima transparência”, pediu ao CNE que agilize a contagem e reiterou que continuará monitorando o processo conforme o capítulo 5 da Carta Democrática Interamericana.
Além disso, advertiu contra “qualquer chamado para alterar a ordem pública” durante o escrutínio e enfatizou a importância de que as forças de segurança protejam os materiais eleitorais.
le/md (EFE, Lusa, AFP)