03/06/2019 - 18:03
Entre 1946 a 1958, 67 testes nucleares feitos pelos EUA destruíram recifes e ilhas tranquilas do Pacífico central. Sendo a maior – e mais desproporcional – de todas as explosões aquela realizada próxima ao Atol de Bikini nas Ilhas Marshall, mil vezes mais poderosa do que a explosão da bomba atômica que destruiu Hiroshima.
O Atol Enewetak, um pequeno anel de ilhas de corais no canto noroeste das Ilhas Marshall, por sua vez, foi outro ponto submetido a diversas explosões durante essa fase, logo depois de os habitantes terem sido forçados a deixar o local. Os danos causados por tanta atividade atômica, entretanto, não têm fim.
Quando pressionados para jogar uma pá de cal nessa corrida armamentista, os Estados Unidos construiu na década de 1980 um tipo de “caixão” nas Ilhas Marshall para abrigar os destroços radioativos mortais. Mas a estrutura foi pensada para funcionar temporariamente, embora nunca tenha sido substituída por outra.
A partir de 1977, a Agência Nuclear de Defesa iniciou uma limpeza dos destroços nucleares deixados no Atol de Enewetak. 4.000 militares americanos começaram a coletar cerca de 73.000 metros cúbicos de solo contaminado nas ilhas, de acordo com o governo das Ilhas Marshall.
O material foi então transportado para a ilha Runit aproveitando uma cratera de 328 pés de outra explosão de teste realizado em 1958. Por três anos, o exército americano despejou material na cratera. Depois uma gigantesca cúpula de concreto, com 45 centímetros de espessura e formato de disco voador, foi colocada sobre o lixo radioativo.
Em 1983, as Ilhas Marshall assinaram um pacto com os Estados Unidos, que concedeu à nação insular o direito de governar a si mesma. Mas o ônus nuclear ficou todo para a ilha. O governo local, no entanto, não tem dinheiro para sustentar a estrutura e, muito menos, para melhorar sua segurança. E, agora, com o elevação do nível do mar e o aumento da fúria das tempestades, o passado da era nuclear e presente das mudanças climáticas se encontram.
Essa foi a mensagem do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, numa recente visita às ilhas do Pacífico para discutir as alterações climáticas. Rachaduras começaram a aparecer na cúpula. Parte da ameaça é que a cratera nunca foi devidamente revestida, o que significa que a crescente água do mar poderia comprometer sua estrutura. O lixo radioativo já começou a vazar da cúpula, segundo análises locais, o atol está novamente povoado e a água já está no pescoço. Outra bomba está armada!