24/07/2025 - 17:53
Uma nova pesquisa desafia a ideia de um único satélite natural, mostrando que fragmentos da nossa própria Lua são constantemente capturados pela gravidade terrestre, criando um balé cósmico de pequenos mundos ao nosso redor.
Desde o início da humanidade, a Lua tem sido nossa companheira constante, um farol solitário que dita marés e guia navegantes. Essa imagem de um satélite fiel e único está tão enraizada em nossa consciência que parece imutável. No entanto uma nova e surpreendente pesquisa, publicada na prestigiada revista Icarus, nos convida a repensar essa solidão cósmica. A Terra, ao que tudo indica, não tem apenas uma, mas sim uma coleção inteira de “miniluas” que dançam discretamente ao nosso redor.
Um estudo liderado por uma equipe internacional de cientistas revelou que nosso planeta é orbitado por pelo menos seis desses pequenos satélites. A descoberta mais fascinante, porém, não é a sua quantidade, mas a sua origem. Contrariando a crença de que esses objetos vinham exclusivamente do distante cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, a pesquisa aponta para um berço muito mais familiar: a nossa própria Lua.
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A teoria sugere que a superfície lunar, ao ser bombardeada por asteroides, ejeta uma nuvem de poeira e detritos. Pedaços maiores dessa “ejecta lunar”, com cerca de dois metros de diâmetro, são lançados ao espaço com força suficiente para serem “pescados” pelo campo gravitacional da Terra. Ao serem capturados, eles entram em órbitas temporárias e instáveis, transformando-se nesses companheiros celestes passageiros.
Essas miniluas, tecnicamente conhecidas como Objetos Temporariamente Capturados (TBOs), não são moradoras permanentes. Elas participam de um complexo balé gravitacional, permanecendo em nossa vizinhança por meses ou anos antes de inevitavelmente escaparem, serem recapturadas pelo Sol ou, em casos mais raros, colidirem com a Terra ou com a própria Lua.
Robert Jedicke, pesquisador da Universidade do Havaí e um dos autores do estudo, descreve o fenômeno de forma brilhante: “É como uma dança de quadrilha, onde os parceiros trocam regularmente e às vezes deixam o salão de dança por um tempo.”
A chave para essa reviravolta científica está na análise detalhada de dois objetos específicos que serviram como prova definitiva. O primeiro, Kamoʻoalewa, descoberto em 2016, é uma minilua considerável, medindo entre 40 e 100 metros. Sua assinatura de luz, ao ser analisada, revelou uma compatibilidade impressionante com a da superfície lunar, além de possuir a mesma composição rica em silicatos – características muito distintas das de um asteroide comum. O segundo, 2024 PT5, que ganhou o apelido de “segunda lua temporária” da Terra por seu tamanho e proximidade, exibiu as mesmas propriedades lunares, convencendo os astrônomos de que estavam olhando não para um viajante distante, mas para um legítimo fragmento da Lua.
Essa descoberta não apenas redefine nosso bairro cósmico, mas também se conecta de forma poética à própria origem do nosso satélite principal. A “hipótese do grande impacto”, a teoria mais aceita sobre a formação da Lua, postula que ela nasceu dos detritos de uma colisão colossal entre a Terra primitiva e um planeta do tamanho de Marte.
Se a Lua nasceu da Terra – e agora vemos que as miniluas nascem da Lua – estamos diante de uma verdadeira linhagem cósmica. Isso transforma o planeta na “avó” desses pequenos e fugazes mundos, revelando que o sistema Terra-Lua é muito mais dinâmico, interligado e fascinante do que o imaginado.