28/03/2019 - 8:52
Longyearbyen, a cidade mais setentrional do mundo, localizada a apenas 800 quilômetros do Polo Norte, também é a capital de um aglomerado de ilhas norueguesas chamado Svalbard. O que a cidade vive hoje é um alerta ao mundo de quanto o aquecimento global vai afetar a vida na Terra.
A paisagem de montanhas, fiordes e geleiras de Svalbard – que vive quatro meses na escuridão no inverno e quatro meses de luz do dia no verão – está construída sobre um solo formado de terra, rochas e gelo até então permanentemente congelado, chamado permafrost. Durante milhares de anos, o permafrost forneceu uma base tão dura quanto o concreto. Mas agora está derretendo.
Inger Hanssen-Bauer, pesquisador sênior do Instituto Meteorológico Norueguês e editor de um novo relatório sobre Svalbard, diz que o clima em Longyearbyen provavelmente está aquecendo mais rápido do que em qualquer outra cidade do planeta. Isso é por causa do acelerado aquecimento da região do Ártico – à medida que o aumento da temperatura reduz a cobertura de gelo e neve, menos luz solar é refletida e mais energia solar é absorvida pelas superfícies mais escuras que foram expostas.
Segundo Hanssen-Bauer, a temperatura média anual em Longybearbyen em 1900 era de -7,8 °C. Desde então, aumentou 3,7 °C – enquanto a média global de aquecimento foi cerca de 1 °C . No final do século 20, a precipitação anual na cidade era de cerca de 200 milímetros, mas, na última década, chuvas torrenciais chegaram a desaguar 50 milímetros em um único dia.
As casas estão rachando e caindo porque os pilares de madeira afundados no permafrost estão ficando umedecidos e começam a apodrecer, desestabilizando as estruturas. Além de mais avalanches que têm assustado os locais e causado mortes. As novas casas em construção pela Statsbygg, agência governamental norueguesa responsável por imóveis, e dona de 75% dos prédios da cidade, estão sendo apoiadas em longos postes de aço fixados no leito rochoso, abaixo do que ainda resta do permafrost.
O chamado “cofre do Juízo Final”, o Cofre Global de Sementes de Svalbard, que armazena quase 1 milhão de pacotes de sementes originárias de quase todos os países do mundo está localizado na cidade. O local foi escolhido porque a área não é propensa a vulcões ou terremotos, e o sistema político norueguês também é “extremamente estável”.
Criado para funcionar como um apoio em caso de catástrofes como doenças, pragas, guerra e mudanças climáticas, já precisou passar por reforma para se adaptar e sobreviver à nova realidade do clima. Situado no fundo de uma montanha, precisou ter seu túnel de acesso de 120 metros de comprimento concretado, tubos com refrigeração foram enfiados no solo e uma esteira de congelamento foi colocada no topo do túnel para ajudar o permafrost a permanecer congelado.
Os animais também sofrem com a situação. O bacalhau polar, que costumava nadar nos fiordes, desapareceu junto com o gelo do qual eles dependem. Animais terrestres não podem se mudar e as renas famintas são agora vistas com regularidade. Como o gelo se desconecta da terra mais cedo e por mais tempo, os ursos polares enfrentam escassez de alimentos.
Segundo um novo relatório, prevê-se que a temperatura média em Longyearbyen aumente entre 7 °C e 10 °C e as precipitações subam entre 40% e 65% até ao final do século, dependendo do nível das emissões globais de carbono. Talvez o mais preocupante de tudo é que o derretimento do permafrost pode alimentar ainda mais o aquecimento global, pois ele retinha uma imensa quantidade de CO2.
Kim Holmen, do Instituto Polar Norueguês, diz que a história de Longyearbyen é um “aviso prévio” para outras partes do mundo, em entrevista à CNN. As suposições de que as mudanças climáticas atuais “não são tão sérias” já derreteram por lá, diz ele, acrescentando que o aumento da força e da frequência de eventos extremos “precisa de atenção”.