Um dia após reunião inédita, presidente brasileiro diz que americano “garantiu” que os dois países vão fechar acordo comercial. Trump elogia Lula, mas evita antecipar possível acerto para acabar com tarifaço.Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump mantiveram nesta segunda-feira (27/10) um tom cordial ao se referirem ao encontro inédito entre os dois realizados no dia anterior, mas manifestaram impressões contrastantes sobre a possibilidade e rapidez de um acordo que possa revogar o tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil.

Lula disse a repórteres nesta segunda que Trump “garantiu” durante reunião entre os dois líderes no domingo que os dois países chegarão a um acordo sobre o comércio. “O compromisso que ele fez é que ele pretende fazer um acordo de muita boa qualidade com o Brasil. Isso está muito registrado na minha cabeça e na cabeça dele”, disse Lula.

“Embora ele não tenha feito promessa, ele garantiu que nós vamos ter acordo. E eu acho que vai ser mais rápido do que muita gente pensa”, disse o brasileiro, acrescentando ainda estar convencido de que “em poucos dias nós teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil”.

Trump, por outro lado, adotou um tom mais cauteloso ao falar separadamente com jornalistas. O presidente dos EUA reservou elogios a Lula, afirmando que teve uma “boa reunião” com o brasileiro, a quem descreveu como “um cara bastante enérgico”. No entanto, Trump revelou incerteza sobre as perspectivas de um acordo.

“Tivemos uma boa reunião. Vamos ver o que acontece. Não sei se alguma coisa vai acontecer, mas vamos ver. Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver —agora eles estão pagando acho que 50% de tarifa. Mas tivemos uma ótima reunião”, disse Trump a repórteres a bordo do avião presidencial Força Aérea Um.

Trump também aproveitou a deixa para parabenizar Lula, que completa 80 anos nesta segunda. “Quero desejar um feliz aniversário ao presidente, Hoje é o aniversário dele. Ele é um cara muito vigoroso, na verdade, e foi muito impressionante.”

Depois do encontro no domingo, a Casa Branca publicou nas redes uma foto que mostrava Trump e Lula com a legenda “é uma grande honra estar com o presidente do Brasil”. ” Acho que conseguiremos fechar bons negócios para ambos os países… Sempre tivemos um bom relacionamento — acho que continuará assim”, dizia o texto.

Expectativas do governo Lula

Ainda nesta segunda-feira, um dia após o encontro, Lula disse que reforçou na reunião o argumento de que os Estados Unidos registram superávit no comércio com o Brasil, não havendo necessidade de taxação dos produtos brasileiros. Lula afirmou ter entregado um documento com os temas que pretende abordar nas negociações.

“Eu não estou reivindicando nada que não seja justo para o Brasil e tenho do meu lado a verdade mais verdadeira e absoluta do mundo — os Estados Unidos não têm déficit com o Brasil —, que foi a explicação da famosa taxação ao mundo, que os Estados Unidos só iam taxar os países com quem eles tinham déficit comercial”, disse.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, equipes dos dois países vão se reunir nas próximas semanas para costurar um acordo.

“Concordamos em trabalhar para construir um acordo satisfatório para ambas as partes. Nas próximas semanas, acordamos um cronograma de reuniões entre as equipes negociadoras para tratar das negociações de ambos os países com foco nos setores mais afetados pelas tarifas”, afirmou Vieira.

Por sua vez, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, disse que as discussões com os Estados Unidos estão “avançando espetacularmente bem”.

Reunião inédita entre os dois líderes

Lula e Trump se reuniram no domingo (26/10) em Kuala Lumpur, na Malásia, paralelamente à cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). A reunião, que marcou o primeiro encontro pessoal formal entre os dois líderes, durou cerca de 50 minutos, e ocorreu na esteira de quase dois meses de tensões diplomáticas entre os EUA e o Brasil.

Durante a reunião, Lula disse que não há razão para desavenças com os Estados Unidos e pediu a Trump a suspensão imediata do tarifaço sobre as exportações brasileiras enquanto os dois países estiverem em negociação.

A suspensão era a principal demanda levada por Lula à reunião, já que as demais tratativas comerciais entre o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, já haviam se iniciado previamente.

Em julho deste ano, Trump anunciou um tarifaço de 50% sobre todos os produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos. Em seguida, ministros do governo brasileiro e do Supremo Tribunal Federal (STF) também foram alvo da revogação de vistos de viagem e outras sanções pela administração norte-americana.

Logo após o encontro, Lula classificou a reunião como “ótima” e disse acreditar que os dois países devem encontrar saídas às tarifas e sanções impostas ao Brasil. Membros do governo Lula também divulgaram avaliações similares, enquanto figuras do bolsonarismo reagiram ao encontro de maneira irônica ou tentaram questionar o impacto da reunião.

jps/ra (Reuters, AP, Agência Brasil, DW)