20/10/2024 - 12:07
Encontro tem sido usado por Moscou para fazer frente a isolamento internacional. Em primeira reunião do bloco desde a inclusão de cinco novos membros, será discutida inclusão de categoria de países parceiros.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca neste domingo (20/10) para a Rússia, para participar da reunião dos Brics, grupo formado pelas principais economias emergentes do mundo.
O encontro acontece na cidade de Kazan entre os dias 22 e 24 de outubro e tem sido visto como um palco usado pelo presidente russo, Vladimir Putin, para mostrar que o país não está isolado. Isto porque a cúpula será a maior sediada na Rússia desde o início do conflito na Ucrâniae acontece em meio a uma tentativa de Putin de contornar as sanções impostas pelo Ocidente.
Esta também é a primeira reunião do bloco desde a inclusão de cinco novos membros – Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita –, ao grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A Argentina também foi convidada, mas o presidente Javier Milei recusou a adesão.
A nova formação do bloco tem sido vista com cautela por reunir novos regimes autoritários e antiocidentais a democracias consolidadas como o Brasil. Já o Kremlin tem tomado o encontro como um triunfo diplomático que o ajudará a construir uma aliança capaz de “desafiar a hegemonia” ocidental. No último encontro do bloco, na África do Sul, Putin não esteve presente para contornar a ordem de prisão emitida contra ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Com Brics, Rússia contesta isolamento
Ao reunir o Brics em Kazan, o Kremlin “pretende mostrar que a Rússia não só não está isolada, como também tem parceiros e aliados”, disse à agência de notícias AFP o analista político Konstantin Kalachev, baseado em Moscou.
“Acreditamos que o Brics é um protótipo de multipolaridade, uma estrutura que une os hemisférios sul e leste com base nos princípios de soberania e respeito mútuo”, disse Yuri Ushakov, assessor do Kremlin.
Os Estados Unidos rejeitam a ideia de que o Brics poderia se tornar um “rival geopolítico”, mas expressaram preocupação com o fato de Moscou flexionar sua força diplomática, enquanto endurece o conflito na Ucrânia e reforça seus laços com China, Irã e Coreia do Norte.
O Ocidente acredita que a Rússia está usando o grupo para expandir sua influência e promover suas próprias narrativas sobre a guerra.
Brics quer ampliar bloco
Um dos focos do encontro será justamente a expansão dos Brics para receber também países parceiros, além dos Estados-membros. O tema tem sido uma prioridade da política externa russa. Atualmente há cerca de 30 países que se candidataram para esta categoria, entre eles a Turquia, cujo presidente, Recep Tayyip Erdogan, foi convidado a estar presente no encontro em Kazan.
“Na Cúpula de Joanesburgo, em 2023, foram incorporados novos membros plenos e, naquela ocasião, se encomendou ao canal de Sherpas a elaboração da categoria de parceiros. É nisso que é consumido o nosso trabalho neste semestre”, disse o embaixador brasileiro Eduardo Paes Saboia, em coletiva de imprensa sobre o evento.
A agenda também inclui a discussão de alternativas ao uso do dólar como moeda internacional. Um dos temas debatidos será, por exemplo, a ideia de Putin de criar um sistema de pagamento liderado pelo Brics para rivalizar com o Swift, um sistema de transferências internacionais da qual os bancos russos foram cortados em 2022.
Segundo Saboia, Lula cumprirá agendas bilaterais com alguns países, e os membros do Brics devem publicar uma declaração sobre o avanço do multilateralismo para o desenvolvimento global.
O Brasil assume a presidência do bloco em janeiro de 2025. “Em 2014, durante a presidência brasileira do Brics, foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento e o Acordo Contingente de Reservas, dois dos maiores êxitos do bloco. Então, será uma presidência austera, mais focada em resultados”, disse o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixador Eduardo Paes Saboia.
gq/md (AFP, ots)