É a primeira conversa entre os dois presidentes desde julho, quando americano anunciou taxação de produtos brasileiros. Haddad disse que reunião foi “positiva”. Líderes avaliam possível encontro presencial.O presidente Luiz Inácio Lula da Silvaparticipou nesta segunda-feira (06/10) de uma videoconferência com seu homólogo americano, Donald Trump, semanas após o breve encontro entre os dois líderes na Assembleia Geral da ONU, nos EUA.

Segundo nota divulgada pelo Palácio do Planalto, os presidentes discutiram as tarifas impostas pela Casa Branca contra produtos brasileiros e abriram um canal de negociação entre o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

“O presidente Lula descreveu o contato como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente. Recordou que o Brasil é um dos três países do G20 com quem os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços. Solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras”, disse o governo brasileiro em nota.

O Planalto também disse que Lula se dispôs a viajar aos Estados Unidos ou encontrar Trump na cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que ocorre na Malásia no final de outubro.

Após a reunião, Haddad afirmou que o diálogo foi “positivo”. A conversa era esperada por parte do governo brasileiro desde julho, quando Trump anunciou tarifas de 50% contra produtos brasileiros em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por envolvimento na trama golpista.

Na ocasião, além do tarifaço, o presidente americano também abriu uma investigação comercial contra o Brasil, mirou o Pix, e divulgou uma carta na qual reiterou seu apoio a Bolsonaro diante do que chamou de “caça às bruxas”.

Também sancionou autoridades brasileiras como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, submetido a vetos de viagem e financeiros sob a Lei Magnitsky, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que teve seu visto americano cancelado.

Brasil tenta espaço para negociação desde julho

Desde julho, Haddad e Alckmin, que também participaram da videoconferência, tentavam sem sucesso abrir canais diretos de negociação com a Casa Branca. As tensões escalaram com a continuidade do julgamento da trama golpista e o sinal dado por Lula de que não iria interferir na atuação da Justiça ou acatar uma anistia que beneficie Bolsonaro.

A atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, junto a autoridades americanas levou a Procuradoria-Geral da República a denunciá-lo por coação em processo judicial.

Ao assinar a ordem executiva que consolidou a ameaça tarifária, porém, o governo Trump abriu exceção para cerca de 700 produtos, o que aliviou a pressão sobre o plano elaborado pelo governo brasileiro para auxiliar os produtores afetados pelas medidas. Em agosto, o americano falou que aceitaria conversar com Lula, ainda que tenha reiterado sua ofensiva verbal contra a Justiça brasileira.

A celeuma se ampliou também sobre as big techs. Os EUA alegam que empresas americanas têm a atuação restringida no Brasil devido às regras de responsabilização por conteúdos publicados nas plataformas. Propondo um “diálogo construtivo”, o Ministério das Relações Exteriores respondeu à investigação comercial americana, mas levou a disputa àOrganização Mundial do Comércio (OMC).

Trump anunciou reunião em discurso na ONU

O capítulo mais recente da queda de braço se deu na Assembleia Geral das Nações Unidas, quando Lula e Trump se encontraram rapidamente entre seus discursos. O brasileiro, primeiro a falar, criticou duramente as políticas unilaterais do americano, sem citá-lo diretamente.

Já Trump, apesar de reiterar ataques contra o Brasil, mudou de tom, disse que Lula “parece um homem muito agradável” e que teve com ele “uma química excelente” após um encontro de 30 segundos nas dependências da ONU. Ele prometeu, então, realizar uma reunião para discutir a questão tarifária.

Segundo o governo brasileiro, nesta segunda-feira, os dois relembraram a “boa química” e “a impressão positiva” que tiveram um do outro no encontro.

gq/ra (ots)