Em cúpula com líderes sul-americanos, presidente defende “unidade de referência comum” para diminuir dependência do dólar e apresenta propostas para reforçar integração no comércio, meio ambiente, defesa e educação.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta terça-feira (30/05) em Brasília uma cúpula de países da América do Sul convocada pelo Brasil, com a presença de 11 chefes de Estado, e defendeu o aprofundamento da integração regional, inclusive com a criação de uma moeda comum.

A proposta não significa a adoção de uma moeda corrente comum entre todos os países sul-americanos, como é hoje o euro na maioria dos países da União Europeia (UE), mas uma unidade monetária para pagamento de importações e exportações, que permitiria que os países concluíssem essas transações sem recorrer ao dólar.

Lula disse que os interesses dos países presentes no encontro estão acima de “divergências ideológicas” e propôs a criação de um grupo formado por representantes dos 11 governos que prepararia dentro de 120 dias um plano de políticas públicas para aproximar as relações e as trocas econômicas entre os países.

“Permitir que as divergências se imponham teria um custo elevado, além de desperdiçar o muito que já construímos conjuntamente”, afirmou. O brasileiro disse que a região teria os meios necessários para superar os abismos sociais que persistem desde a época colonial.

Moeda comum

Lula apresentou os dez pontos iniciais de sua estratégia visando essa nova integração regional, que inclui a criação de uma “unidade de referência comum para o comércio” na América do Sul, para diminuir a dependência do dólar.

Desde o início de seu terceiro governo, Lula vem fazendo críticas ao predomínio do dólar no comércio internacional e defendendo a adoção de alternativas.

Durante a posse de Dilma Rousseff no comando do Banco do Brics, em abril, em Xangai, Lula já havia questionado o papel da moeda norte-americana como moeda universal e sugerido que os países do bloco – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – utilizassem suas próprias moedas para as trocas comerciais entre si.

Na abertura da cúpula nesta terça-feira, ele defendeu ainda colocar a economia da região “a serviço do desenvolvimento econômico e social”, por meio de organismos financeiros regionais, discutir iniciativas para homologar regulamentações e reduzir a burocracia no setor do comércio, ampliar o comércio eletrônico e “atualizar a carteira de projetos” do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), para reforçar a multimodalidade e priorizar propostas de alto impacto para a integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira.

A sua estratégia inclui ainda reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, para permitir a adoção de medidas visando ampliar a cobertura vacinal, fortalecer o complexo industrial da saúde no continente e expandir o atendimento a povos indígenas e populações carentes.

Meio ambiente e defesa

Entre as propostas também está a criação de um “mercado energético sul-americano que assegure o abastecimento, o uso eficiente dos recursos, a estabilidade jurídica, os preços justos e a sustentabilidade social e ambiental”.

O petista sugeriu ainda criar um programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no ensino superior e a retomada da cooperação na área de defesa, aumentando a capacidade de formação e treinamento, intercâmbio de experiências e conhecimentos em matéria de indústria militar, de doutrina e políticas de defesa.

A cúpula contou com a presença dos presidentes da Argentina, Alberto Fernández; Bolívia, Luis Arce; Chile, Gabriel Boric; Colômbia, Gustavo Petro; Equador, Guillermo Lasso; Guiana, Irfaan Ali; Paraguai, Mario Abdo Benítez; Suriname, Chan Santokhi; Uruguai, Luis Lacalle Pou, e Venezuela, Nicolás Maduro. O Peru estava representado pelo presidente de seu Conselho de Ministros, Alberto Otárola.

rc/bl (ots)