10/07/2025 - 20:48
Presidente brasileiro rebate críticas ao Judiciário por “caça às bruxas” contra Bolsonaro e anuncia criação de comitê de empresários após Trump ameaçar sobretaxar em 50% exportações do país.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai buscar o diálogo com o seu homólogo americano, Donald Trump, para tentar reverter a tarifa extra de 50% que ele ameaça impor aos produtos brasileiros, mas que vai retaliar na mesma medida se não houver negociação com os Estados Unidos.
“Temos vários caminhos”, disse em entrevista à TV Record veiculada na noite desta quinta-feira (10/07), ao ser perguntado sobre como o Brasil reagirá à tarifa. “Podemos recorrer à OMC [Organização Mundial do Comércio], propor investigações internacionais, cobrar explicações. Mas o principal é a Lei da Reciprocidade, aprovada no Congresso. Se ele cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele.”
A lei brasileira sancionada em abril, após a primeira onda de tarifas anunciadas por Trump, permite ao governo reagir a medidas unilaterais adotadas por país ou bloco econômico que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira. Entre os instrumentos de retaliação previstos estão a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual, como patentes de medicamentos.
Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, o decreto que normatiza a lei deve ser publicado nos próximos dias.
Mas, de acordo com a Folha de S.Paulo, uma retaliação só deve acontecer a partir do dia 1º de agosto, prazo dado por Trump para entrada em vigor da tarifa adicional de 50%. A medida se somaria a uma sobretaxa de 10% já em vigor.
Carta de Trump é “afronta”, diz Lula
À Record, Lula também chamou de “afronta” a carta pública que Trump usou na quarta-feira para informar o governo brasileiro sobre o tarifaço e disse ser “inadmissível” que interesses externos se sobreponham à soberania brasileira.
Na carta, publicada por Trump na rede dele, a Truth Social, o republicano atribuiu a medida à política comercial “injusta”, mas também citou “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos” e o julgamento no Supremo Tribunal Federal do ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu acusado de tentar dar um golpe para reverter a derrota eleitoral de 2022.
“Esse julgamento não deveria estar acontecendo”, escreveu Trump. “É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE! [sic]”
Para Lula, Bolsonaro deveria “assumir a responsabilidade” pelo tarifaço, já que teria endossado a medida. “Aliás, foi o filho dele que foi lá fazer a cabeça do Trump”, disse, referindo-se ao deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está desde março nos Estados Unidos e tem feito lobby em benefício do pai junto a políticos americanos conservadores.
Na quarta, logo após a carta de Trump, o presidente já havia defendido em resposta pública que o “processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
“Se tivesse feito no Brasil o que fez no Capitólio, Trump estaria sendo processado”
À TV Record, Lula dispensou as críticas de Trump ao processo que Bolsonaro enfrenta no STF e às decisões da Corte desfavoráveis a redes sociais americanas, como o X, argumentando que o Judiciário é independente. “Eu não me meto no Poder Judiciário, porque ele é autônomo.”
“Ele [Trump] tem que respeitar a Justiça brasileira, como eu respeito a americana. Se o que Trump fez no Capitólio ele tivesse feito no Brasil, ele estaria sendo processado, como o Bolsonaro, e arriscado a ser preso, porque feriu a democracia”, disse, evocando a invasão da sede do Legislativo americano por trumpistas em 2021.
O petista disse ter tido boas relações com outros presidentes americanos, do republicano George W. Bush aos democratas Barack Obama e Joe Biden, e pediu respeito à soberania do país e às suas instituições.
Lula também voltou a repetir que a alegação do presidente americano de que a taxação seria aplicada em razão de déficit na balança comercial com o Brasil é falsa e demonstra “total desconhecimento” – o saldo é, na verdade, positivo para os EUA.
O presidente anunciou que criará um comitê com empresários para repensar a política comercial com os EUA.
A nova tarifa de 50% anunciada por Trump parece também ter repercutido mal entre amplos setores da sociedade brasileira, inclusive na oposição.
Também nesta quinta, os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgaram nota conjunta em defesa do “diálogo”, mas frisaram estar prontos para agir com “equilíbrio e firmeza” em defesa da economia nacional.
ra (ots)