Uma equipe de biólogos apontou que macacos-prego da ilha de Jicarón, no Panamá, sequestraram 11 bebês bugio entre 2022 e 2023 sem uma motivação aparente. Os pesquisadores publicaram um estudo com as descobertas nesta segunda-feira, 19, no periódico “Current Biology”.

A pesquisa foi iniciada em 2022, após os biólogos observarem um filhote de bugio agarrado às costas de um macaco-prego com uma das 85 câmeras instaladas na ilha. Os equipamentos foram espalhados pelo local durante um estudo que visava entender o uso de ferramentas pelos primatas.

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“Esta foi uma descoberta muito chocante”, comentou à “Associated Press” Zoë Goldsborough, ecologista comportamental do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha. “Nós não vimos nada parecido no reino animal”, acrescentou a pesquisadora.

Ao assistir as imagens em 2022, Zoë notou que um jovem macho da espécie carregava um bebê nas costas, mas o filhote era de um bugio.

Inicialmente, os pesquisadores suspeitaram que o macho, chamado de Joker, pudesse ter adotado o bebê. Esse comportamento já foi observado em primatas fêmeas. Joker, porém, não cuidou do filhote e tampouco lhe deu algo para comer.

“Concluímos então que seria apenas um único indivíduo que estava provando algo novo”, explica Brendan Barrett, coordenador do projeto no Instituto Max Planck de Comportamento Animal. Segundo ele, isso não é incomum entre os macacos-prego, que são muito curiosos e buscam constantemente interagir de diferentes maneiras com o ambiente onde vivem.

Contudo, a análise dos vídeos revelou que esse não era um caso isolado. Ao longo do tempo, Joker carregou consigo quatro filhotes diferentes de bugio. Todos os bebês tinham menos de quatro semanas de idade.

Os pesquisadores também encontraram evidências de que os bebês provavelmente foram tirados de seus pais biológicos. Isso porque eles chamavam desesperadamente de longe por seus bebês. Quando os pequenos tentavam fugir, Joker os pegava novamente.

Surpreendentemente, depois de algum tempo, outros macacos-prego machos adotaram o comportamento estranho de Joker. Ao longo de um período de 15 meses, os pesquisadores documentaram cinco macacos-prego carregando um total de onze filhotes de bugios por até nove dias.

Quatro bebês sequestrados foram encontrados mortos, sendo que os demais provavelmente também não sobreviveram. “Os macacos-prego não machucaram os bebês, mas não conseguiram fornecer o leite que eles precisam para sobreviver”, contou Zoë.

Os pesquisadores interpretam o comportamento, que é fatal para os filhotes de bugios, como uma tendência macabra, mas sem nenhum significado mais profundo. O comportamento estranho do “influenciador” Joker foi imitado por outros machos na população através do aprendizado social.

“Dessa forma, até mesmo os animais podem desenvolver tradições que não têm uma função clara, mas que podem ter efeitos nocivos ao meio ambiente”, afirma Barrett. A subespécie de macaco bugio encontrada no sudoeste do Panamá está ameaçada de extinção.

Modismos entre os animais

O surgimento de modismos dentro de uma população também foi observado em outras espécies animais. As orcas que atacam veleiros em alto mar provavelmente o fazem por diversão. Por um tempo, na década de 1980, um grupo também de orcas achou interessante equilibrar salmões mortos em suas cabeças, como se fossem um chapéu. Um animal começou, os outros imitaram.

Na Zâmbia, uma chimpanzé fêmea começou a usar uma folha de grama na orelha sem motivo aparente. Depois de algum tempo, quase todos os animais do grupo imitaram essa tendência e também adotaram o acessório.