16/11/2020 - 16:29
Uma nova pesquisa mostra que desde 1970 a maconha vendida em ruas em todo o mundo se tornou substancialmente mais forte, trazendo um risco maior de danos.
A equipe responsável pelo estudo do Grupo de Vício e Saúde Mental da Universidade de Bath (Reino Unido) sintetizou dados de mais de 80 mil amostras de maconha testadas nas últimas cinco décadas, originárias de produtos coletados em ruas de Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, França, Dinamarca, Itália e Nova Zelândia. Suas descobertas foram publicadas na revista “Addiction”.
Os pesquisadores investigaram como as concentrações de tetra-hidrocanabinol, ou THC (o componente intoxicante da maconha responsável por dar aos usuários um “barato”) mudaram ao longo do tempo em diferentes tipos de plantas do gênero Cannabis. Na marijuana (cannabis herbácea), eles descobriram que as concentrações de THC aumentaram 14% de 1970 a 2017. Isso se deveu principalmente ao crescimento da participação no mercado de variedades mais fortes, como Sinsemilla, em relação à marijuana tradicional. Esta última contém sementes e menos THC.
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A equipe já havia encontrado evidências consistentes de que o uso frequente de maconha com níveis mais elevados de THC acarreta um risco aumentado de problemas como dependência e transtornos psicóticos.
Impacto ampliado
O autor principal do estudo, dr. Tom Freeman, diretor do Grupo de Vício e Saúde Mental da Universidade de Bath, disse: “À medida que a força da maconha aumentou, também aumentou o número de pessoas que entram em tratamento para problemas de uso de cannabis. Mais europeus estão entrando agora em tratamento contra drogas por causa da cannabis do que heroína ou cocaína.”
Os pesquisadores descobriram que os aumentos de THC foram particularmente altos para a resina de cannabis (haxixe). Entre 1975 e 2017, as concentrações de THC cresceram 24%. A resina de cannabis é extraída da marijuana. Agora, ela é tipicamente mais forte do que a marijuana, de acordo com os resultados.
Eles também analisaram as concentrações de canabidiol (CBD). Esse componente não é intoxicante, mas pode ter usos médicos potenciais, como ajudar as pessoas a abandonar a maconha. Em contraste com o THC, os pesquisadores não encontraram evidências de mudanças no CBD na cannabis ao longo do tempo.
Sam Craft, também do Grupo de Vício e Saúde Mental da Universidade de Bath e coautor do estudo, explicou: “A resina de cannabis – ou haxixe – é frequentemente vista como um tipo mais seguro de cannabis. Nossas descobertas, porém, mostram que agora é mais forte do que a marijuana. Tradicionalmente, o haxixe continha quantidades muito menores de THC com quantidades iguais de CBD. Contudo, enquanto as concentrações de CBD permaneceram estáveis, o THC aumentou substancialmente. Isso significa que agora ele é muito mais prejudicial do que há muitos anos.”
Estratégias mais amplas
Droga ilícita mais usada no mundo, a maconha foi recentemente legalizada no Canadá, no Uruguai e em vários estados dos EUA. As descobertas desse novo estudo têm relevância particular à luz das crescentes demandas para legalizar a cannabis na tentativa de torná-la mais segura. Mais recentemente, um referendo na Nova Zelândia incluiu medidas para limitar a força da cannabis vendida por meio da legalização. O referendo não obteve apoio público suficiente para a aprovação do consumo.
Os pesquisadores argumentam que os aumentos na força da maconha destacam a necessidade de implementar estratégias mais amplas de redução de danos semelhantes às usadas para o álcool. Entre elas estão o estabelecimento de unidades padrão e diretrizes públicas sobre limites de consumo mais seguros.
“À medida que a concentração da cannabis aumenta, os consumidores se deparam com informações limitadas para ajudá-los a monitorar sua ingestão e orientar as decisões sobre os benefícios e riscos relativos”, acrescentou o dr. Freeman. “A introdução de um sistema de unidades padrão para a cannabis – semelhante às unidades padrão do álcool – poderia ajudar as pessoas a limitar seu consumo e usá-la com mais segurança.”