06/03/2022 - 18:33
Em meio à fuga de mais de 1,5 milhão de pessoas e dos constantes ataques russos, grupos correm contra o tempo na Ucrânia para salvar itens históricos da destruição.
O diretor do Museu Nacional Andrey Sheptytsky, o maior museu de arte da Ucrânia, percorre os corredores do prédio supervisionando os funcionários que guardam as coleções para proteger o patrimônio nacional caso a invasão russa avance para o oeste.
Em uma galeria parcialmente vazia, funcionários colocam em caixas de papelão peças barrocas cuidadosamente embrulhadas. A poucos metros dali, um grupo desce a majestosa escadaria principal do museu carregando uma gigantesca obra de arte sacra, a iconóstase Bohorodchany, do século 18.
“Às vezes, as lágrimas vêm porque muito trabalho foi colocado aqui. Leva tempo, energia. Você está fazendo algo bom, se sente satisfeito. E então, hoje, você vê paredes vazias, parece amargo, triste. Não acreditávamos até o último minuto que isso pudesse acontecer”, disse o diretor-geral do museu, Ihor Kozhan.
As portas da instituição, localizada na cidade de Lviv, próxima à fronteira com a Polônia, estão fechadas desde que começou a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro. Patrimônios históricos em todo o país estão em perigo, à medida que os combates continuam.
Korzhan disse que recebe ligações diárias de outras instituições culturais europeias oferecendo ajuda, enquanto ele e sua equipe correm para preservar as obras do museu.
Futuro das obras é incerto
Anna Naurobska, chefe do departamento de manuscritos e livros raros do museu, ainda não sabe onde guardar com segurança a coleção de mais de 12 mil itens, que foram embalados em caixas.
“Esta é a nossa história. Esta é a nossa vida. É muito importante para nós”, disse Naurobska.
Ela entra em outra sala e ergue um volume enorme. Lágrimas se formam em seus olhos: “é um livro russo”, diz ela, colocando-o de volta na prateleira. “Estou com tanta raiva”, declara.
Como o museu, outros locais em Lviv estão correndo para proteger obras de importância artística e cultural. As vitrines do Museu de História da Religião estão quase vazias. Os trabalhadores montam recipientes de metal no pátio para armazenar com segurança os itens restantes antes de colocá-los nos porões.
Na Catedral Latina, as esculturas foram cobertas com papelão, espuma e plástico na esperança de protegê-las de possíveis estilhaços.
Em meio às paredes vazias e estátuas encobertas, Kozhan lamenta a situação do museu, que sobreviveu a duas guerras mundiais.
“Museu tem que viver. As pessoas têm que estar lá, e antes de tudo as crianças. Eles têm que aprender o básico de sua cultura”, emociona-se.
le (AP)