USS Gerald R. Ford reforça contingente dos EUA na região e aumenta tensões com Caracas. Maduro reage com mobilização de forças, e Rússia condena ataques americanos em águas internacionais.O porta-aviões USS Gerald R. Ford da Marinha dos Estados Unidos e sua força de ataque chegaram à América Latina, informaram autoridades americanas nesta terça-feira (11/11). A presença do maior porta-aviões do mundo significa uma escalada significativa nas tensões entre os EUA e a Venezuela.

O USS Gerald R. Ford entrou na área de responsabilidade do Comando Sul das Forças Navais dos EUA, que abrange a América Latina e o Caribe, disse o comando militar americano em nota. O destacamento do porta-aviões foi ordenado há quase três semanas sob o argumento de ajudar no combate ao narcotráfico na região.

Com mais de 5 mil homens a bordo, a embarcação tem um reator nuclear próprio e um arsenal de mísseis de médio alcance e terra-ar, além de radares sofisticados que podem ajudar a controlar o tráfego aéreo e marítimo.

EUA afirmam agir contra o narcotráfico

Sob a justificativa oficial de deter o envio de drogas aos EUA, o governo do presidente Donald Trump mobiliza desde agosto tropas no mar do Caribe, próximo à costa da Venezuela.

A mobilização inclui destróieres com mísseis guiados, caças F-35B, drones MQ-9 Reaper, um grupo de assalto anfíbio com 4,5 mil militares (sendo cerca de 2,2 mil fuzileiros navais), um submarino de propulsão nuclear e um navio de apoio a operações de guerra especial. Isso representa 8% de toda a frota global americana de navios de guerra.

A presença do porta-aviões “reforçará a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e interromper atores e atividades ilícitas que comprometem a segurança e a prosperidade do território dos Estados Unidos e nossa segurança no Hemisfério Ocidental”, afirmou o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell.

Trump: Maduro está com os “dias contados”

O governo venezuelano teme que o destacamento do poderio militar americano seja uma conspiração disfarçada para pôr fim ao regime do presidente Nicolás Maduro, cujas duas últimas reeleições foram consideradas fraudulentas por Washington e dezenas de outros países. Caracas, por sua vez, acusa o governo Trump de tentar “fabricar uma guerra”.

Em agosto, Washington dobrou a recompensa por informações que levassem à prisão de Maduro para 50 milhões de dólares (R$ 263 milhões), acusando o ditador venezuelano de ligações com o narcotráfico e grupos criminosos, o que Maduro nega.

Em 2 de novembro, Trump minimizou a possibilidade de entrar em guerra com a Venezuela, mas disse que os dias de Maduro estavam contados.

As forças americanas realizaram desde o início de setembro ataques contra pelo menos 20 embarcações no Caribe e na costa do Pacífico da América Latina, matando pelo menos 76 pessoas, segundo dados dos EUA.

O governo Trump afirmou, em um comunicado ao Congresso, que os Estados Unidos estão envolvidos em “conflito armado” com cartéis de drogas latino-americanos, os quais descreve como grupos terroristas.

Washington, no entanto, não apresentou nenhuma prova de que as embarcações foram usadas para contrabandear drogas. Especialistas em direitos humanos afirmam que os ataques equivalem a execuções extrajudiciais e são ilegais, mesmo que tenham como alvo traficantes.

Venezuela anuncia mobilização

A Venezuela anunciou nesta terça-feira o que chamou de uma grande mobilização militar em todo o país para se contrapor à presença naval dos EUA em sua costa.

O Ministério da Defesa venezuelano se referiu a um “desdobramento maciço” de forças terrestres, navais, aéreas, fluviais e de mísseis, bem como milícias civis, para combater o que chamou de “ameaças imperialistas”.

A emissora estatal VTV transmitiu imagens de líderes militares discursando em vários estados, algo que se tornou comum no país recentemente, mas que nem sempre resultou em desdobramentos militares visíveis.

Especialistas afirmam que a Venezuela estaria em séria desvantagem em um confronto militar com os Estados Unidos, com uma força de combate indisciplinada e um arsenal obsoleto.

Moscou condena ataques a embarcações

Nesta terça-feira, a Rússia denunciou os ataques dos EUA contra embarcações da Venezuela como ilegais e “inaceitáveis”. “É assim que, em geral, agem os países sem lei, assim como aqueles que se consideram acima da lei”, disse o Ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, questionando o que descreveu como um “pretexto para combater as drogas”.

Maduro depende fortemente do Kremlin para apoio político e econômico.

As relações entre EUA e Rússia azedaram nas últimas semanas, com Trump expressando frustração com Moscou pela falta de uma solução para a guerra na Ucrânia.

rc/ra (AFP, Reuters)