11/07/2025 - 14:23
Falta de consciência de classe e falta de senso crítico impulsionam movimentos que vão contra o próprio povo. Precisamos, mais do que nunca, nos voltar para a educação. É uma política de longo prazo, mas a única possível”A esquerdalha é um câncer maligno em todo o mundo. Viva Elon Musk. Deus está com você.”
Li esse comentário em um post sobre a taxação dos super-ricos e me chamou muito a atenção. Entrei nas redes da pessoa que fez o comentário e, não surpreendentemente, ela não é rica e tampouco super-rica. É de baixa renda e trabalhadora, como a esmagadora maioria dos brasileiros.
Chegamos em um ponto em que o povo vai contra políticas pensadas em seu benefício, em que pessoas defendem com unhas e dentes aqueles que claramente não se importam com eles. Ou seja, o próprio povo promove a manutenção do sistema que o oprime.
Uma dose de consciência de classe poderia otimizaria o desenvolvimento do país, mas cidadãos que tiveram algum tipo de mobilidade e ganham 8 ou 10 mil reais simplesmente se comportam como super-ricos. Para além da falta de consciência de classe, há muita dificuldade com interpretação textual e falta de senso crítico.
Temo que exista um limite sobre o quanto a comunicação do governo pode ser eficiente, pois o objetivo sempre vai esbarrar na problemática descrita acima. A solução é um trabalho de longo prazo. Precisamos recorrer à famigerada educação.
Falhamos com a educação
Sejamos honestos: falhamos na educação. Ela ainda parte de uma lógica meritocrática e mercadológica. A tendência têm sido uma demasiada preocupação com índices e plataformas digitais e não com a formação cidadã de nossos jovens. Não estamos preparando-os para atuar na sociedade.
A culpa não é dos professores. Estes, coitados, têm cada vez menos tempo para se preocupar com os conteúdos, com a aprendizagem e com a formação do senso crítico de seus alunos. Eles estão ocupados com obrigações burocráticas. Governos de estados como São Paulo e Paraná parecem achar que a educação pública deve seguir as mesmas lógicas de metas e resultados de uma empresa.
A culpa é de todo um sistema. O resultado são cidadãos terminando o colégio sem saber interpretar um simples texto, sem saber racionalizar uma informação ou notícia e, sobretudo, sem saber a qual classe pertencem.
A mobilidade social tem sido uma exceção e não a regra
Na prática, a educação como instrumento de ascensão social está com seu potencial muito limitado. Apenas uma parte das pessoas que passam pela educação formal tem a oportunidade de mudar significativamente a própria história. Mas a maioria não tem o mesmo privilégio e o sistema é tão cruel que ainda os culpabiliza.
A maior crueldade, na verdade, é a consequência: a formação de uma grande massa de manobra que integrará movimentos que visam tudo menos os beneficiar. Sem exagero, literalmente vão contra tudo aquilo que pode os ajudar. O mais triste é que eles nem percebem.
No entanto, não precisa ser sempre assim. Precisamos de uma política pública federal de formação cidadã, transversal a todo o currículo da educação básica ao ensino superior. Precisamos ter a oportunidade de sermos agentes ativos e para isso precisamos saber o básico sobre orçamento público, sistema eleitoral e sobre o funcionamento dos Três Poderes. Não basta saber ler, precisamos também saber ler e interpretar a sociedade a qual pertencemos e essa emancipação só pode vir via educação
__
Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.