Dados mostram que o país ainda tropeça no enfrentamento a esse tipo de ameaça – e isso em um momento em que tem assistido à crescente popularização de ideologias de extrema direita.Autoridades na Alemanha têm falhado com o seu dever de vigilância sobre centenas de pessoas que militam em grupos de extrema direita e/ou golpistas no país e, apesar disso, ainda tinham permissão para portar armas de fogo pelo menos até o final de 2022, informou a imprensa alemã nesta sexta-feira (05/04).

Os dados revelam que o país ainda tropeça no enfrentamento a esse tipo de ameaça – e isso em um momento em que a Alemanha tem assistido à crescente popularização de ideologias de extrema direita. Até 31 de dezembro de 2022, 1.051 extremistas e outros cerca de 400 membros do movimento golpista e conspiracionista Reichsbürger tinham permissão para ter ao menos uma arma de fogo. Um ano antes, esse número era de 1.561 e outros cerca de 500.

Os números foram divulgados pela agência RND, que cita um ofício do Ministério do Interior enviado à bancada do partido A Esquerda no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.

O Reichsbürger (em tradução literal, “cidadãos do império”) é um movimento ancorado em uma visão de mundo antissemita, que prega a rejeição da ordem democrática alemã e a restauração do Império Alemão. Seus adeptos se veem como guardiões da soberania do império que vigorou de 1871 até a morte do líder nazista Adolf Hitler, em abril de 1945.

Oposição cobra ação rápida

A deputada que solicitou as informações ao Ministério do Interior, a esquerdista Martina Renner, apelou ao governo para que agilize o desarmamento de extremistas e acusou-o de “não avançar com as medidas necessárias” à regulação do porte de armas.

“Não precisamos de anúncios, mas de ação concreta contra nazistas e os reichsbürger por parte das autoridades”, afirmou Renner à RND.

Ministra do Interior, a social-democrata Nancy Faeser diz querer leis mais rigorosas para a posse de armas. As medidas incluem, entre outros pontos, o banimento de armas semi-automáticas e a introdução do licenciamento para balestras (um tipo de arco e flecha mais sofisticado). Além disso, a militância em organizações potencialmente extremistas também poderia servir de base para a revogação de licenças já concedidas.

As reformas na lei, porém, ainda estão em debate na coalizão de governo, da qual fazem parte ainda os verdes e liberais – este último tem se oposto às mudanças e defendido a implementação mais rigorosa das leis atuais.

Agência de inteligência doméstica emitiu alerta

Recentemente, o chefe da agência de inteligência doméstica da Alemanha, Thomas Haldenwang, afirmou que o número crescente de extremistas é um risco para a democracia, e que essa ameaça chegou a um patamar que não era visto em anos.

“O número de extremistas e o potencial extremista têm crescido por anos”, escreveu Haldenwang em um artigo publicado no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Segundo ele, a digitalização está ajudando extremistas a “disseminar ideologias contra a ordem democrática livre e incitações ao ódio”.

Na última quinta, a imprensa alemã também divulgou que a Alemanha tem mais de 400 policiais enfrentando processos disciplinares ou investigações por uma suposta afiliação política à extrema direita ou simpatia por teorias da conspiração.

Já um estudo da Universidade de Leipzig que mede tendências autoritárias no leste da Alemanha constatou no ano passado a popularidade de ideias negativas sobre estrangeiros, por exemplo de que eles migram apenas para parasitar o Estado social (41,1%) ou que a Alemanha corre o risco de perder a própria essência (36,6%).

ra (dpa, AFP, ots)