Famílias dos reféns pressionam pelo fim da guerra em Gaza antes de reunião do gabinete de segurança. Mediadores ainda aguardam posição de Israel sobre proposta de cessar-fogo.Manifestantes saíram às ruas em Israel nesta terça-feira (26/07) para exigir o fim da guerra na Faixa de Gaza e o retorno dos reféns ainda mantidos no enclave palestino, antes de uma reunião do gabinete de segurança marcada para o mesmo dia.

Multidões incendiaram pneus e bloquearam rodovias e ruas no centro comercial de Tel Aviv, enquanto outros grupos se reuniam perto da embaixada dos Estados Unidos e em frente às casas de vários ministros. Os manifestantes portavam bandeiras israelenses e cartazes com imagens dos reféns.

Os protestos foram convocados pela entidade Fórum de Reféns e Famílias de Desaparecidos de Israel, que anunciou para esta terça-feira um “Dia Nacional de Luta”. Os familiares dos reféns disseram esperar que a pressão pública constante possa levar o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu gabinete de segurança a se comprometerem com as negociações em torno de um cessar-fogo.

No entanto, membros dos partidos de extrema direita que integram a coalizão de governo rejeitaram as demandas dos manifestantes e ameaçaram renunciar caso Israel concorde com uma trégua.

Cerca de 251 pessoas foram feitas reféns nos ataques do grupo terrorista Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que deixaram cerca de 1.200 mortos. Segundo o Exército israelense, 49 reféns ainda estão detidos em Gaza, mas somente em torno de 20 ainda estão vivos.

A maioria dos reféns foi libertada durante cessar-fogos anteriores, enquanto as forças israelenses conseguiram resgatar apenas oito reféns vivos.

A pauta da reunião do gabinete de segurança não foi oficialmente confirmada, mas, segundo a imprensa israelense, as autoridades deverão discutir as negociações em andamento sobre um novo cessar-fogo e um acordo para a libertação dos reféns

Cessar-fogo ainda depende de Israel

Na semana passada, Netanyahu ordenou negociações imediatas com o objetivo de garantir a libertação de todos os reféns restantes em Gaza, ao mesmo tempo em que reforçou os planos para uma nova ofensiva para tomar a maior cidade do enclave palestino.

A decisão veio dias após o Hamas ter aceitado uma nova proposta de cessar-fogo apresentada pelos mediadores internacionais que prevê a libertação escalonada de reféns ao longo de um período inicial de 60 dias em troca de prisioneiros palestinos mantidos em Israel.

Em Doha, o porta-voz do Ministério do Exterior do Catar, Majed al-Ansari, disse em coletiva de imprensa que os mediadores ainda aguardavam uma resposta de Israel à proposta.

“A responsabilidade agora recai sobre o lado israelense, que deve responder à oferta que está em discussão. Qualquer outra coisa será mero maneirismo político do lado israelense”, disse o porta-voz.

Israel tem sofrido crescente pressão interna e externa para encerrar sua campanha em Gaza, onde a guerra gerou uma grave crise humanitária e devastou grande parte do território.

Mortes de civis e jornalistas

Nesta segunda-feira, ataques israelenses atingiram um hospital em Gaza, matando pelo menos 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas que trabalhavam para a emissora de notícias Al Jazeera e para as agências Associated Press e Reuters, entre outros veículos.

Governos em todo o mundo, incluindo aliados israelenses, condenaram o ataque. Netanyahu posteriormente lamentou o que chamou de “acidente trágico”, e o Exército israelense disse que ordenou uma investigação.

A guerra em Gaza tem sido uma das mais mortais para jornalistas, com cerca de 200 profissionais de imprensa mortos na ofensiva israelense, que já está em seu 23º mês, de acordo com órgãos de monitoramento da imprensa.

Nesta na terça-feira, ao menos 16 palestinos foram mortos em ataques israelenses, relataram autoridades dos hospitais Nasser e Shifa e da clínica Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza, reiterando que entre as vítimas estavam famílias, mulheres e crianças.

Mais vítimas da desnutrição e fome

O Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao governo do Hamas, informou nesta terça que mais três adultos morreram de causas relacionadas à desnutrição e fome, elevando para 186 o número de mortes relacionadas à essas causas desde o final de junho, quando o Ministério da Saúde de Gaza – controlado pelo Hamas – começou a contabilizar os óbitos nessa faixa etária. Os números incluem ainda 117 crianças que morreram por desnutrição e fome desde o início da guerra.

A ofensiva israelense em Gaza matou pelo menos 62.819 palestinos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde palestino.

rc (AFP, DPA, AP)