Um novo e detalhado mapa digital da antiga malha rodoviária do Império Romano acaba de ser lançado, revelando uma rede muito mais extensa do que as estimativas anteriores sugeriam. Chamado Itiner-e, o recurso reúne 299.171 quilômetros de estradas que conectavam, no auge do império, regiões que vão das Ilhas Britânicas ao Oriente Médio.

Reconhecidos por estradas retas e pela infraestrutura que sustentava a expansão, os romanos deixaram um sistema viário essencial para o controle administrativo, a circulação de pessoas e o transporte de mercadorias. Mas, apesar da importância histórica, essa rede permanecia pouco mapeada. Até agora, o Atlas Barrington do Mundo Grego e Romano, publicado há 25 anos, era a principal referência, apesar da resolução limitada.

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Segundo os criadores do Itiner-e, o objetivo foi justamente aprimorar essa base. “Estávamos basicamente jogando um jogo de ligar os pontos em escala continental”, explica o arqueólogo Tom Brughmans, da Universidade de Aarhus. Como arqueólogos raramente escavam trechos inteiros de estradas, mas apenas pontos específicos como cidades ou marcos, a reconstrução completa das rotas exigiu cruzar diferentes fontes.

Como o mapa foi criado?

O estudo descreve que o novo mapa foi criado a partir da identificação de vias em registros arqueológicos e históricos, sua localização em mapas modernos e antigos, uso de sensoriamento remoto e digitalização. O método permitiu ampliar significativamente a cobertura em regiões como Península Ibérica, Grécia e Norte da África.

Itiner-e

Além disso, o Itiner-e corrige limitações do Atlas Barrington ao adaptar as vias aos terrenos reais. Em áreas montanhosas, por exemplo, as estradas deixam de aparecer como linhas retas e passam a seguir caminhos sinuosos. O resultado surpreendeu até os pesquisadores: o novo total é 110 mil quilômetros maior do que se imaginava. “Foi uma surpresa total… mais de três voltas ao mundo. É uma loucura”, afirma Brughmans.

O que ele mostra?

O mapa representa a rede viária por volta de 150 D.C. quando o império atingia o auge, e inclui rotas comprovadas. Do total mapeado, 34,58%, cerca de 103.478 quilômetros, são estradas fundamentais para conquistas e administração. Os restantes 195.693 quilômetros correspondem a vias secundárias, revelando padrões de mobilidade local.

O impacto do novo conjunto de dados vai além da arqueologia. A ferramenta pode ajudar a entender fenômenos como pandemias antigas, migrações e desenvolvimento de religiões. Ele destaca também o papel das estradas na disseminação da peste antonina, no século II, que se espalhou a partir do Oriente Médio acompanhando deslocamentos de soldados.

O estudo foi publicado na revista Scientific Data.