O que é preciso para ser feliz? O que é uma boa governança? Em suas “Meditações”, o imperador-filósofo abordou questões tão antigas quanto a humanidade, e é constantemente citado nas redes sociais.”Olha para dentro de ti! Lá está uma fonte de bem que nunca deixa de jorrar, se tu não paras de cavar.”

Frases sábias como esta se encontram nas Meditações do imperador romano Marco Aurélio (121-180). Apesar de não terem sido concebidas para publicação, hoje, traduzidas para numerosos idiomas, elas contam entre os escritos mais divulgados, ao lado da Bíblia e do Alcorão. Um bestseller, por assim dizer.

O soberano-filósofo anotou essas considerações para si mesmo numa época em que as guerras com a tribo germânica dos marcomanos abalavam as bases do Império Romano. Além disso, problemas econômicos, tensões sociais e a epidemia de peste antonina, uma forma de varíola, assolavam todo o império.

Enquanto grande admirador do estoicismo, a escola filosófica fundada pelo grego Zenon de Cítio por volta de 300 a.C., um dos princípios fundamentais para Marco Aurélio era a equanimidade. E uma questão o ocupava intensamente: o que caracteriza um bom soberano?

A grande mostra dedicada a Marco Aurélio no Museu Municipal Simeonstift de Trier, de 15 de junho a 23 de novembro de 2025, parte do princípio de que essa e outras reflexões expostas nas Meditações seguem relevantes até hoje. Seus curadores são a historiadora Viola Skiba, diretora da instituição, e o arqueólogo e diretor do Museu Estadual Renano, sediado em Trier, Marcus Reuter.

Filho de sua época

Segundo Skiba, a atualidade da exposição é maior do que se esperava: especialmente numa época de crises e polarização, ganha nova urgência a questão – tão antiga quanto a própria história humana – de o que constitui uma boa governança.

Marco Aurélio se orientava pelas virtudes cardinais da Antiguidade, entre as quais sabedoria, justiça, prudência e temperança. Um ponto chave era garantir que as decisões servissem realmente ao bem comum. A historiadora lembra que, já para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a orientação pelo bem comum era o que separava a boa da má liderança.

Reuter complementa que Donald Trump certamente não seria um bom exemplo, aos olhos do imperador estoico, porém ressalva que este era um filho de seu tempo, crescido nas estruturas sociais da Antiguidade. Assim, ele nunca considerou acabar com a escravidão, ou questionou que houvesse indivíduos privados dos direitos de cidadão romano, ou que as mulheres fossem menos privilegiadas do que os homens.

Do ponto de vista atual, pode parecer estranho que um imperador considerado virtuoso travasse guerras sangrentas, porém os critérios da época ditavam que ele “cuidasse pela segurança do império e de seus habitantes, se necessário também com meios muito brutais”, frisa o arqueólogo.

Assim, para os romanos, Marco Aurélio foi um imperador exemplar, que “estudava os processos judiciais de modo abrangente, se preocupava em pronunciar sentenças justas, sempre colocando os interesses do Estado em primeiro lugar”. A ele a cidade de Trier deve sua célebre marca registrada, a Porta Nigra, parte das muralhas que mandou construir para proteger a população.

Legado duradouro de um soberano esclarecido

A imagem do imperador-filósofo só se formou depois da publicação das Meditações, no século 15-16. Frases sábias como “Só é preciso pouco para ter uma vida feliz” podem parecer ironia, partindo de um abastado monarca, porém eram absolutamente sinceras.

De fato, Marco Aurélio praticava um estilo de vida simples, e quando o Estado entrou numa crise financeira, ele chegou a leiloar parte dos bens imperiais – isto é, de sua fortuna pessoal. “Até onde eu sei, isso é algo que nenhum outro imperador romano fez, nem antes, nem depois dele”, comenta Reuter.

Em geral, ele refletia muito sobre o sentido da vida, o que talvez explique por que hoje em dia tantos jovens se interessem pelos seus escritos: “É preciso dizer: suas Meditações são um pequeno tesouro, onde se pode encontrar algo para quase toda e qualquer situação de vida.”

Para Reuter, não se trata de uma obra para ser lida do início ao fim, mas sim para folhear e colher inspirações: em última análise, são as anotações particulares de um ser humano que refletia sobre o que é importante na vida. Portanto não é de espantar que, mais de 18 séculos depois, esse líder estoico seja citado com tanta frequência nas redes sociais, por todo o mundo.

A mostra em Trier visa também incitar seus visitantes à reflexão, sobre si mesmos e a sobre a sociedade, à luz das ideias de um imperador romano esclarecido. Ou, como formula Viola Skiba: “Cada sociedade se baseia no indivíduo, e se cada um também se colocar essas questões filosóficas e políticas, ela também funcionará como um todo.”