09/06/2014 - 11:23
Muitas ilhas e países em regiões áridas, com limitados recursos de água doce, dependem cada vez mais da dessalinização para fornecer água a populações em rápido crescimento e atender às demandas sociais e econômicas que sustentam o desenvolvimento. As evidências atuais mostram que a floração (proliferação) de algas nocivas, ou maré vermelha, ameaça crescentemente a indústria da dessalinização e a segurança da água dessas regiões.
Estudar as marés vermelhas nas cercanias de usinas de dessalinização é uma ciência emergente, pois há poucos dados sobre os problemas que as proliferações podem causar. A Comissão Oceanográfica Intergover namental (IOC-Unesco) tem sido um motor na definição da agenda de pesquisa internacional sobre marés vermelhas e seus impactos, e agora também estuda como fornecer soluções aplicáveisa usinas de dessalinização aos países do Mar da Arábia e do Golfo Pérsico.
A escassez dos recursos hídricos e a necessidade de suprimentos adicionais de água já são críticas em muitas regiões áridas, mas as projeções futuras de impactos das mudanças climáticas adicionam mais estresse à segurança da água. Essas regiões têm muitas vezes limitados recursos hídricos subterrâneos, alguns dos quais ficam mais salobros à medida que a extração dos aquíferos continua. Atualmente, há mais de 14 mil plantas de dessalinização em operação em mais de 150 países, a maioria no Oriente Médio, na América do Norte, na Austrália e no Caribe, exemplificando a crescente confiança nessa tecnologia.
A osmose reversa é o método mais comum de dessalinização; a água é bombeada através de uma membrana que limita a passagem dos íons de sódio e de cloro. Mas a maré vermelha constitui um desafio a essa tecnologia. Com uma biomassa suficientemente alta, ela pode entupir filtros e comprometer a integridade das usinas de dessalinização.
Além disso, algumas marés vermelhas produzem neurotoxinas que ameaçam a saúde humana. Em 2008-2009, um surto de Cochlodinium polykrikoides na região do Mar da Arábia e do Golfo Pérsico durou oito meses, restringindo fortemente a capacidade de dessalinização de água na área. A floração de algas é uma enorme ameaça para a segurança do acesso aos recursos e à economia da região.
Pesquisa escassa
Há necessidade de mais documentação e pesquisa sobre os impactos da floração de algas sobre as plantas de dessalinização. Apenas medições preliminares de toxinas de algas marinhas, antes e depois da dessalinização, têm sido feitas em usinas de grande escala. As florações de algas nocivas muitas vezes são eventos não reconhecidos, e os operadores de plantas em geral desconhecem a ameaça que as toxinas das algas representam.
Há um consenso científico geral de que o número de florações de algas tóxicas, as perdas econômicas resultantes, os tipos de recursos afetados e o número de toxinas e espécies tóxicas reportadas têm aumentado nas últimas décadas.
O envolvimento da IOC-Unesco nas florações de algas e na dessalinização é voltado para o desenvolvimento de sistemas de testes capazes de prever essas proliferações, que podem até fechar usinas. Isso inclui o uso de tecnologia de sensoriamento remoto por satélite para detectar a proliferação de algas nas zonas costeiras e o acoplamento desses dados a modelos numéricos da hidrologia costeira para melhorar a previsão do transporte das florações e de sua aproximação ao continente.
A Unesco considera essas florações uma ameaça à economia e à saúde das nações áridas e está comprometida com a capacitação e a cooperação internacional na pesquisa sobre a dessalinização e as proliferações de algas.