Um novo medicamento experimental para o tratamento de Alzheimer diminuiu o declínio cognitivo em 35% em pacientes que receberam o diagnóstico de estágio inicial da doença, segundo um estudo divulgado nesta segunda-feira (17/07). Os resultados criaram expectativas de um novo tratamento promissor para a doença neurodegenerativa, embora os testes também tenham apresentado alguns efeitos colaterais preocupantes.

O fármaco, chamado donanemab, está sendo desenvolvido pela farmacêutica americana Eli Lilly, que já solicitou sua aprovação por parte da Food and Drug Administration (FDA), agência dos Estados Unidos equivalente à Anvisa.

Em maio, a Lilly já tinha anunciado que o donanemab mostrava resultados promissores, mas os resultados finais de um ensaio clínico que envolveu 1.700 pacientes entre 60 e 85 anos só foram publicados hoje pela revista científica Journal of the American Medical Association e apresentados numa conferência da Associação Internacional de Alzheimer em Amesterdã.

“Finalmente há alguma esperança, certeza, sobre a qual podemos elaborar”, disse John Sims, da Eli Lilly, em Amsterdã. “Não curamos a doença. Diabete também não tem cura. Mas isso não significa que você não possa ter tratamentos muito significativos para os pacientes”, completou.

À semelhança do fármaco Leqembi ou lecanemab, produzido pela farmacêutica japonesa Eisai e recentemente aprovado, o donanemab é composto por anticorpos produzidos em laboratório, administrados por via intravenosa e que têm como alvo um dos principais responsáveis pela doença de Alzheimer – os aglomerados de proteínas conhecidas como placas amiloides.

O estudo envolveu pessoas entre os 60 e 85 anos, que estavam ainda numa fase precoce da doença. Os 1.700 doentes foram divididos em dois grupos, em que metade recebeu infusões mensais do donanemab e a outra metade infusões placebo, ao longo de 18 meses. O medicamento é intravenoso e aplicado uma vez por mês. Segundo o estudo, o fármaco retardou o declínio cognitivo em aproximadamente 35% no período.

Além das placas amiloides, os investigadores monitorizaram os níveis da proteína tau, também responsável pela Alzheimer.

De acordo com os resultados, os dois grupos pioraram ao longo dos 18 meses, mas a evolução foi cerca de 22% mais lenta naqueles que receberam donanemab, sendo que o medicamento parece funcionar melhor nos estágios iniciais da doença, uma vez que os doentes com níveis baixos a médios de tau tiveram um declínio 35% mais lento.

Isso significa que o donanemab atrasou entre quatro a sete meses o declínio do estado de saúde dos doentes. Entre os doentes a quem foi administrado o medicamento, 47% foram considerados estáveis um ano após o início do estudo, comparado com os 29% do outro grupo.

Contraindicações

Tanto o donanemab quanto o Leqembi têm também uma contraindicação séria: a possibilidade de inchaço ou hemorragia cerebral que no estudo da Lily foi associada a três mortes, sendo que cerca de um quarto dos doentes apresentaram sinais de inchaço e 20% tiveram microhemorragias. Houve hemorragia cerebral em 31,4% do grupo que recebeu donanemab e 13,6% do grupo placebo.

Apesar de apontaren que estes medicamentos podem representar uma nova era no tratamento de Alzheimer, os cientistas admitem que ainda há muitas questões sobre o perfil dos pacientes em que devem ser testados e o nível do benefício.

Outro ponto levantou preocupação: mais de 90% dos participantes dos testes eram brancos, o que acabou não oferecendo muitos dados sobre como outros grupos poderiam reagir ao tratamento, escreveu a especialista em Alzheimer Jennifer Manly, da Universidade de Columbia.

“Esses efeitos colaterais não devem ser menosprezados, mas a maioria dos casos foi controlada por monitoramento com ressonância magnética ou interrupção do fármaco”, disse a investigadora do estudo, Liana Apostolova, professora da Escola de Medicina da Universidade de Indiana.

“Provavelmente, os benefícios modestos não seriam questionados por pacientes ou médicos se os anticorpos fossem de baixo risco, baratos e simples de administrar, mas não são nada disso”, escreveu o médico Eric Widera, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, no editorial do Journal of the American Medical Association.

Se o medicamento for aprovado, será o segundo tratamento para a doença de Alzheimer comprovadamente capaz de retardar os sintomas da doença neurodegenerativa, depois de a FDA ter autorizado, no início do mês, a utilização do Leqembi.

jps (Lusa, ots)