03/10/2025 - 11:10
Apelo foi feito no dia em que a reunificação da Alemanha completa 35 anos. Premiê também citou nova ordem econômica diante de guerra tarifária de Trump e mudanças tecnológicas.No dia em que a reunificação da Alemanha completa 35 anos, o chanceler federal Friedrich Merz fez um apelo à nação por união em meio a mudanças na ordem econômica mundial e à ascensão de autocracias.
“Vamos fazer um esforço conjunto por uma nova união em nosso país”, disse o premiê em solenidade nesta sexta-feira (03/10) em Saarbrücken, falando a uma plateia que incluiu o presidente da França, Emmanuel Macron.
Merz, que lidera um governo cuja popularidade está em baixa – aprovado apenas por um em cada cinco alemães –, encorajou seus compatriotas a se abrirem para mudanças e não se deixarem paralisar pelo medo. “Lembremos da confiança com a qual nossos concidadãos do Leste alemão ousaram recomeçar”, discursou.
Segundo o premiê, a Alemanha vive um “momento talvez decisivo” em sua história recente, e por isso é preciso investir em Defesa. “Novas alianças de autocracias estão se formando contra nós e atacando a democracia liberal como estilo de vida”, pontuou, apontando ainda para a polarização na sociedade provocada por anos de “migração irregular descontrolada”.
Para lidar com esses desafios, Merz disse que é preciso se concentrar “no que realmente importa” e olhar com confiança para o futuro. Esta tarefa, ponderou, cabe também aos alemães. “Nós – isso significa todos os alemães”, ressaltou. “Nós defendemos nosso jeito de viver neste mundo mais áspero – não como alemães ocidentais ou orientais, e sim como alemães.”
A Alemanha, frisou, precisa continuar a ser uma nação democrática, europeia, regida pelo Estado de Direito e forte do ponto de vista econômico e social – algo que requer separação de Poderes, órgãos para controlá-los e a liberdade de expressão, de imprensa, artística, acadêmica, religiosa e de escolha profissional. “A democracia é a disputa pública. Quando ouvimos que há discussão e embates, então o que estamos ouvindo é a democracia.”
Recado a Trump
Merz também aludiu à guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, embora não o tenha citado nominalmente. “A ordem econômica global está sendo reescrita. Barreiras tarifárias estão sendo erguidas e os egoísmos estão crescendo. Talvez também por isso tenhamos nos tornado mais fracos economicamente”, disse.
Por outro lado, mudanças tecnológicas também estariam desafiando a Alemanha. O líder conservador criticou o que chamou de “constrangimento” estatal contra o setor produtivo e defendeu a reforma do Estado de bem-estar social.
O partido de Merz, a União Democrata Cristã (CDU), tem pressionado por cortes de gastos sociais. A agenda, contudo, esbarra na resistência do Partido Social Democrata (SPD), parceiro de coalizão do governo e de quem os conservadores dependem para manter maioria no Parlamento.
Dia da Reunificação ainda evoca velhos ressentimentos no Leste da Alemanha
Todo ano, em 3 de outubro, a Alemanha marca a reunificação entre a Alemanha Ocidental e a antiga Alemanha Oriental comunista em 1990, que ocorreu oficialmente pouco menos de um ano após a queda do Muro de Berlim.
O feriado sempre gera um debate sobre a situação do país após a reunificação, com críticos apontando que o prometido boom econômico no Leste da Alemanha não se concretizou e que disparidades entre as duas regiões persistem até hoje. As disparidades não ocorrem apenas na economia, mas também na política.
Nos últimos anos, por exemplo, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de ultradireita, fincou raízes no Leste alemão e vem obtendo mais apoio na região do que nos estados do Oeste.
O feriado de 3 de outubro deste ano ocorre em um momento particularmente sensível para o governo de Merz, que assumiu há menos de cinco meses a Chancelaria Federal.
Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (02/10) apontou pela primeira vez empate entre o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e a coligação de Merz, formada por CDU e sua legenda-irmã bávara União Social Cristão (CSU), na liderança pela preferência do eleitorado alemão.
AfD e CDU/CSU têm ambos 26% das intenções de votos, contra 15% do SPD, 12% dos Verdes e 10% d’A Esquerda. O restante das intenções de voto está espalhado entre legendas nanicas, cuja votação não seria suficiente para lhes garantir assento no Parlamento.
Caso tal cenário se concretizasse, porém, a atual coalizão de governo, formada por CDU/CSU e SPD, já não seria mais viável. Isso obrigaria os conservadores a aceitar uma aliança tripartidária que incluísse os verdes, cuja agenda é mais progressista, e daria maior poder de barganha à AfD, que tenta se cacifar para participar do governo, mas é isolada no Parlamento por um “cordão sanitário”.
A sigla de ultradireita, que tem na agenda anti-imigração uma de suas principais bandeiras de campanha, tem avançado nos últimos anos na preferência do eleitorado.
Em entrevista veiculada nesta quinta-feira pela emissora pública de TV ZDF, a ex-chanceler federal alemã Angela Merkel disse que insatisfações com a situação do país não justificam votar em um país que, na visão dela, despreza pessoas e usa uma retórica divisiva.
“Se alguém tem algo a criticar, isso não é motivo para votar em um partido que despreza pessoas”, declarou Merkel.
ra (dpa, epd, Reuters)