Em 1ª visita a Israel, chanceler federal enfatiza “reponsabilidade” da Alemanha na defesa de Israel e diz que Berlim não pretende reconhecer Estado palestino num futuro próximo, mas desencoraja anexações na Cisjordânia.O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, cumpriu neste fim de semana a sua primeira visita oficial a Israel desde que assumiu o cargo em maio. Ao longo da viagem de dois dias, o líder alemão reafirmou tanto o que chamou de “responsabilidade histórica” do seu país na “defesa” e “segurança” de Israel e disse que a Alemanha não pretende reconhecer um Estado palestino num futuro próximo.

Por outro lado, Merz também advertiu contra a possibilidade de o governo do premiê Benjamin Netanyahu anexar território palestino na Cisjordânia ocupada.

A visita de Merz também marcou primeira viagem de um grande país europeu a Israel desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de captura contra Netanyahu por sua possível implicação em crimes de guerra na Faixa de Gaza palestina. No último ano, Merz criticou a decisão do TPI, embora a Alemanha seja signatária do tribunal e historicamente um dos países que mais colaborou na sua criação.

A viagem de Merz também ocorre após um período de breve tensão entre os dois governos, na esteira de uma decisão anunciada em agosto pelo governo alemão, que pressionado pela opinião pública, impôs restrições ao envio de algumas exportações de armamento para Israel que poderiam ser usadas em Gaza.

Embora a Alemanha estivesse bem distante de integrar o círculo de países mais vocalmente críticos às ações de Israel em Gaza, o episódio marcou um desgaste temporário nas relações entre as duas nações. Em outubro, após a entrada em vigor do cessar-fogo em Gaza, as exportações foram retomadas.

“A Alemanha deve defender a existência e a segurança de Israel”

Neste domingo (07/12), no segundo dia da viagem, Merz, visitou o Museu do Holocausto Yad Vashem em Jerusalém e destacou a “duradoura responsabilidade histórica” da Alemanha pelo assassinato de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

“Inclino minha cabeça em deferência aos seis milhões de homens, mulheres e crianças de toda a Europa que foram assassinados por alemães por serem judeus. Garantiremos que a lembrança do atroz crime da ‘shoá’ (Holocausto em hebraico) perpetrado por alemães contra o povo judeu se mantenha viva”, disse o chanceler.

Após visitar o museu, ressaltou que ali “a duradoura responsabilidade histórica da Alemanha se torna palpável”.

“A Alemanha deve defender a existência e a segurança de Israel. Isso permanecerá para sempre de forma indissociável na essência de nossa relação”, completou Merz.

No sábado, Merz havia iniciado sua visita com uma reunião com o presidente israelense, Isaac Herzog, após a qual também garantiu que a Alemanha está ao lado de Israel, um país que, segundo destacou, “tem o direito de se defender e de existir”.

Advertência contra anexação é minimizada por Netanyahu

Ainda neste domingo, durante encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Merz advertiu que Israel não pode levar a cabo “nenhuma medida” anexionista no território palestino da Cisjordânia. O chefe de governo israelense, por sua vez, respondeu que isso ainda é “tema de debate”.

Durante suas palavras introdutórias em uma entrevista coletiva, Merz afirmou categoricamente que “não pode haver medidas anexionistas na Cisjordânia”, e acrescentou que não pode ocorrer “nenhuma medida formal, política, estrutural ou de outro tipo que equivalha a uma anexação”.

Merz se pronunciou assim depois que o Parlamento israelense votou a favor, em uma leitura preliminar no último mês de outubro, de uma proposta para anexar a Cisjordânia ocupada, uma medida condenada por vários países e até mesmo pelo governo dos EUA, que ao lado da Alemanha está entre os maiores aliados de Israel.

Questionado na entrevista coletiva sobre o aviso de Merz, Netanyahu indicou que o statu quo na Cisjordânia “não mudou” e que Israel segue controlando sua segurança.

“Por isso não há uma explosão de terrorismo da Judeia e Samaria (termos que o governo israelense usa para se referir à Cisjordânia ocupada), nem das zonas palestinas”, afirmou o primeiro-ministro, acrescentando que “esse princípio se manterá no futuro previsível” e que “não tem nada a ver com a questão da anexação política, que segue sendo tema de debate”.

Solução de dois Estados, mas sem reconhecimento de Estado palestino por enquanto

Em relação a um futuro Estado Palestino (composto pela Cisjordânia e pela Faixa de Gaza), Merz disse que a Alemanha trabalha para que o Estado de Israel seja reconhecido e aceito no Oriente Médio, mas acrescentou que seu país acredita também “firmemente” na solução de dois Estados – palestino e israelense.

“Uma solução de dois estados só pode ser alcançada mediante negociações, e será o resultado destas negociações, mas estas negociações são necessárias agora mesmo”, explicou.

Segundo Merz, seu governo sustenta que “o reconhecimento de um Estado palestino só pode ser o final, não o começo, de tal processo”, razão pela qual a Alemanha não o reconheceu na Assembleia da ONU em setembro, ao contrário de vários países que deram esse passo, entre eles a vizinha e aliada França. A criação de um Estado palestino é firmemente rejeitada por Netanyahu e seu governo. Durante o encontro, Merz reiterou que a Alemanha não pretende reconhecer o Estado palestino “num futuro próximo”.

O chanceler federal se referiu também às reformas que a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que governa pequenas partes da Cisjordânia ocupada, se comprometeu a realizar, visando o seu papel no governo de Gaza e em um futuro Estado Palestino.

“Há muito o que criticar sobre esta autoridade, e com razão. Eu mesmo a critico”, declarou, para em seguida lembrar que, “agora que há indícios de reforma”, deve-se apoiar a ANP, o que ele mesmo fez em uma ligação ontem com seu presidente, Mahmoud Abbas.

Os territórios palestinos não contam atualmente com continuidade territorial, e enquanto em Gaza governa o braço político do Hamas, na Cisjordânia permanece a ANP, embora na maior parte desta zona (a denominada Área C que equivale a 60% do território) Israel possua tanto controle militar quanto civil desde os Acordos de Oslo de 1993.

Além disso, existem centenas de postos de controle militares israelenses ao longo de toda a Cisjordânia, e um sistema de permissões que não permite o livre movimento dos palestinos entre cidades, proibindo a muitos a entrada em Jerusalém (entre outras cidades).

jps (EFE, ots)