23/12/2022 - 8:34
A quantidade total de microplásticos depositados no fundo dos oceanos triplicou nas últimas duas décadas com uma progressão que corresponde ao tipo e volume de consumo de produtos plásticos pela sociedade. Esta é a principal conclusão de um estudo desenvolvido pelo Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Autônoma de Barcelona (ICTA-UAB, na Espanha) e pelo Departamento do Ambiente Construído da Universidade de Aalborg (AAU-BUILD, na Dinamarca), que fornece a primeira reconstrução de resolução da poluição microplástica de sedimentos obtidos no noroeste do Mar Mediterrâneo.
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Embora o fundo do mar seja considerado o sumidouro final dos microplásticos que flutuam na superfície do mar, a evolução histórica dessa fonte de poluição no compartimento de sedimentos, e particularmente a taxa de sequestro e soterramento de microplásticos menores no fundo do oceano, ainda é desconhecida.
Meta distante
O novo estudo, publicado na revista Environmental Science and Technology (ES&T), mostra que os microplásticos são retidos inalterados nos sedimentos marinhos e que a massa microplástica sequestrada no fundo do mar imita a produção global de plástico de 1965 a 2016. “Especificamente, os resultados mostram que, desde 2000, a quantidade de partículas de plástico depositadas no fundo do mar triplicou e que, longe de diminuir, o acúmulo não parou de crescer, mimetizando a produção e o uso global desses materiais”, afirmou Laura Simon-Sánchez, pesquisadora do ICTA-UAB e primeira autora do estudo.
Os pesquisadores explicam que os sedimentos analisados permaneceram inalterados no fundo do mar desde que foram depositados décadas atrás. “Isso nos permitiu ver como, desde a década de 1980, mas especialmente nas últimas duas décadas, aumentou o acúmulo de partículas de polietileno e polipropileno de embalagens, garrafas e filmes de alimentos, assim como de poliéster de fibras sintéticas em tecidos de roupas”, disse Michael Grelaud, pesquisador do ICTA-UAB. A quantidade desses três tipos de partículas chega a 1,5 mg por quilo de sedimento coletado. O polipropileno é o item mais abundante, seguido do polietileno e do poliéster. Apesar das campanhas de conscientização sobre a necessidade de reduzir o plástico de uso único, os dados dos registros anuais de sedimentos marinhos mostram que ainda estamos longe de conseguir isso.
Embora microplásticos menores sejam muito abundantes no meio ambiente, as restrições nos métodos analíticos limitaram evidências robustas sobre os níveis de pequenos microplásticos em estudos anteriores direcionados a sedimentos marinhos. No recente estudo, eles foram caracterizados pela aplicação de imagens de última geração para quantificar partículas de até 11 micrômetros, ou milionésimos de milímetro (µm), de tamanho.
Sem degradação
O estado de degradação das partículas foi investigado e verificou-se que, uma vez aprisionadas no fundo do mar, elas não se degradam mais, seja por falta de erosão, oxigênio ou luz. “O processo de fragmentação ocorre principalmente nos sedimentos da praia, na superfície do mar ou na coluna d’água. Uma vez depositados, a degradação é mínima, então os plásticos da década de 1960 permanecem no fundo do mar, deixando ali a marca da poluição humana”, observou Patrizia Ziveri, professora do ICTA-UAB.
O testemunho de sedimento investigado foi coletado em novembro de 2019, a bordo do navio oceanográfico Sarmiento de Gamboa, em uma expedição que partiu de Barcelona até a costa do delta do rio Ebro, em Tarragona, na Espanha. O grupo de pesquisa selecionou o Mar Mediterrâneo Ocidental como área de estudo, em particular o Delta do Ebro, porque os rios são reconhecidos como focos de vários poluentes, incluindo microplásticos. Além disso, o influxo de sedimentos do rio Ebro proporciona maiores taxas de sedimentação do que no mar aberto.