17/04/2019 - 11:20
Um novo estudo revelou que pequenos pedaços de plástico podem viajar até 100 quilômetros pelo ar, atingindo, inclusive, áreas remotas no alto de montanhas.
Microplásticos são pedaços minúsculos do material, medindo abaixo de 5 milímetros.
Os autores do estudo, publicado na revista “Nature Geoscience”, descreveram o plástico como “um dos principais desafios ambientais desta geração”. Fabricantes produziram cerca de 335 milhões de toneladas do material em 2016.
Pesquisas anteriores já mostraram como os microplásticos povoam corpos de água, navegando pelos rios até contaminar os oceanos. Mas agora, cientistas estão comprovando que esse material também consegue viajar para outros lugares.
Para esse novo estudo, uma equipe pesquisadores foi até a estação meteorológica de Bernadouze em uma área “remota e primitiva” dos Pireneus franceses. A área é pouco povoada e usada principalmente por visitantes que fazem caminhadas, esquiam ou para pesquisas científicas. Não há infraestrutura industrial, comercial ou agrícola nas proximidades.
Durante um período de cinco meses durante o período de inverno de 2017 a 2018, eles coletaram amostras de ar do local. Poliestireno e polietileno foram os plásticos mais comumente encontrados. Estes são amplamente utilizados em produtos de uso único, como recipientes para alimentos. O polipropileno, encontrado em alguns têxteis, representou 18% dos resultados.
“Este é o primeiro estudo que mostrou que os microplásticos são transportados atmosfericamente”, disse Deonie Allen, cientista atmosférico ambiental do Laboratório de Ecologia Funcional e Ambiental de Toulouse, França, e co-autor do estudo, em entrevista à revista “Newsweek”. Segundo Allen, a equipe esperava encontrar algumas partículas de microplástico, mas não tantas. “A descoberta de partículas de microplástico nesta área montanhosa remota reforça o fato de que a poluição plástica não é apenas um problema de cidade, rio ou mar ”, afirmou à revista.
Para Steve Allen, cientista da Universidade de Strathclyde, na Escócia, e também autor do estudo, disse à “Newsweek” que agora é preciso identificar o quão longe o microplástico pode viajar. Na opinião do pesquisador, também é importante cobrar ação dos governantes para reduzir a poluição e contaminação por esse material.
De acordo com Stephanie Wright, pesquisadora do Centro MRC-PHE de Meio Ambiente e Saúde da Universidade King’s College em Londres, não é surpreendente que o microplástico tenha sido encontrado em um ambiente intocado, dada a sua baixa densidade e natureza difusa
Mas, em entrevista à “Newsweek”, Wirght disse que, uma vez que sabemos muito pouco sobre as emissões de microplásticos para a atmosfera, é difícil concluir exatamente até onde eles viajaram.
Plástico nas águas
A contaminação de microplástico nos oceanos já é bem mais conhecida do que a presença do material na atmosfera. Vários estudos já mostraram a presença de microplásticos nos sistemas digestivos de animais marinhos encalhados, por exemplo.
Em uma outra pesquisa, publicada na terça-feira (16) na revista Nature Communications, pesquisadores britânicos calcularam um aumento significativo neste século na quantidade de plástico flutuando no Atlântico Norte e em mares adjacentes.
Eles descobriram que houve um aumento de mais de 10 vezes desde 2000 na quantidade de plástico que se emaranhou no Continuous Plankton Recorder (CPR) – um instrumento de amostragem que foi rebocado por mais de 12 milhões de quilômetros (6,5 milhões de milhas náuticas) na área do Atlântico Norte desde 1957.
O equipamento recolhe amostras de plâncton. Examinando as amostras, os pesquisadores descobriram que, antes de 2000, o dispositivo de coleta ficava preso em grandes pedaços de lixo de plástico em menos de uma em 200 saídas. Mas agora, os pesquisadores precisam parar para desembaraçar sacolas plásticas, equipamentos de pesca e outros detritos depois de uma em 20 redes de arrasto.
Equipamentos de pesca, como rede e linha, são os principais problemas, representando 55% dos emaranhamentos de plásticos encontrados.