Manifestantes criticaram possível racha do “cordão sanitário” contra a Alternativa para a Alemanha (AfD) e reagiram a falas do candidato a chanceler Friedrich Merz.Dezenas de milhares de pessoas protestaram contra a crescente influência legislativa da ultradireita alemã em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, neste sábado (25/01). Os manifestantes usaram a lanterna dos celulares para formar o que os organizadores descreveram como um “mar de luzes” dirigido contra o partido Alternativa para a Alemanha (AfD).

A polícia de Berlim estimou a presença de 30.000 pessoas no protesto, que acontece um mês antes de os alemães irem às urnas para uma eleição geral na qual se espera que a AfD obtenha um resultado expressivo. A cidade de Colônia, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, juntou 40 mil manifestantes, segundo a autoridade policial do município.

Com gritos e faixas, os manifestantes exigiram que os demais partidos alemães mantenham o “cordão sanitário” contra a AfD, um acordo que faz com que as siglas não se aliem direta ou indiretamente à ultradireita no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.

Merz abre caminho para voto com ultradireita

O apelo dos manifestantes foi repetido principalmente para o líder da oposição conservadora CDU/CSU, Friedrich Merz, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de 23 de fevereiro. Em Colônia, diversas placas criticavam diretamente falas recentes do candidato a chanceler federal.

Merz tem repetido que seu bloco no Parlamento jamais formaria um governo com a AfD, que desponta como segundo colocada nas pesquisas de intenção de voto.

Nesta semana, porém, ele provocou furor ao sugerir que está disposto a aceitar apoio da ultradireita para passar políticas mais duras contra a imigração, o que indicaria um fim do isolamento da AfD no Legislativo alemão.

Na sexta-feira, Merz afirmou que seu partido vai apresentar propostas neste tema na próxima semana “independentemente de quem concordasse com elas”.

“Não olho para a direita nem para a esquerda”, disse Merz. “Quando se trata desses assuntos, só olho para frente”, afirmou. O líder da CDU já havia prometido aumentar o número de deportações no país, se eleito, discurso que se acirrou após um ataque a faca em Aschaffenburg, deixar um homem e um menino de 2 anos mortos. O suspeito, um afegão de 28 anos, havia tido seu pedido de refúgio rejeitado, mas permaneceu na Alemanha.

O aceno à ultradireita na pauta migratória fez a candidata à chanceler federal pela AfD, Alice Weidel, publicar no X que “o cordão sanitário caiu”. “A CDU e a CSU aceitaram minha oferta para votar junto com a AfD no Bundestag na fatídica questão da imigração”, comemorou.

“Nós somos o cordão sanitário”

Os manifestantes que se reuniram em frente ao Portão de Brandemburgo gritaram: “Nós somos o cordão sanitário”. Muitas famílias com crianças estavam presentes.

Em Colônia o manifestante Thomas Schneemann, disse que o mais importante para ele era “permanecer unido contra a ultradireita”. “Especialmente depois de ontem e do que ouvimos de Friedrich Merz, temos que nos manter unidos”, disse Schneemann.

Os protestos ocorreram enquanto a AfD abria sua campanha eleitoral na cidade de Halle, na região central do país. Esperava-se que os líderes do partido, Alice Weidel, candidata da AfD a chanceler, e Tino Chrupalla falassem para um público de cerca de 4.500 pessoas.

No comício, Weidel recebeu novamente o apoio do bilionário Elon Musk, que discursou remotamente.

gq (DPA, AP, DW)