Na noite da segunda-feira, 23, uma missão carregando centenas de sementes de cannabis, fungos, algas e amostras de DNA humano foi enviada ao espaço. O experimento esteve a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9 e foi lançado pela Base da Força Espacial de Vandenberg, na Califórnia, EUA.

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As amostras foram armazenadas em uma pequena incubadora biológica batizada MayaSat-1, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Genoplant, uma companhia aeroespacial eslovena. Assim que atingir uma altitude superior a 500 km, o equipamento alojado dentro de uma grande cápsula cruzará zonas próximas aos polos Norte e Sul – onde as concentrações de partículas emitidas pelo sol são altas devido ao campo magnético da Terra.

Projeto da incubadora MayaSat – 1 – Foto: Instituto de Pesquisa Genoplant

Objetivos da missão espacial

O objetivo da missão é ser a primeira a enviar tecidos vegetais e sementes para uma órbita fora e trazê-la de volta, permitindo que cientistas estudem como os sistemas biológicos terrestres são afetados pelos altos níveis de radiação encontrados acima dos polos do planeta.

Segundo os especialistas, o sucesso da viagem e, posteriormente, a coleta de informações pode permitir que viajantes espaciais futuros passem a cultivar plantações em outros astros.

Após orbitar a Terra três vezes – cerca de três horas de duração – a aeronave deve voltar a atmosfera e pousar no Oceano Pacífico. Se tudo ocorrer como planejado, a tecnologia será coletada e mandada para a Europa, onde a equipe especializada no caso analisará os resultados.

Motivos para o envio da cannabis

Em parceria com a empresa que lidera a missão, o projeto Martian Grow, comandado pelo cientista Božidar Radišič, acrescentou 150 sementes da planta ao projeto. A intenção do experimento é testar a resiliência do produto e analisar seu comportamento.

A escolha do composto foi realizada com base em seu rápido crescimento, boa adaptação aos ambientes e presença na cultura agrícola há milhares de anos.

“Cedo ou tarde, teremos bases lunares, e a cannabis, com sua versatilidade, é a planta ideal para abastecer esses projetos. Ela pode ser uma fonte de alimento, proteína, materiais de construção, têxteis, cânhamo, plástico e medicamentos. Não acho que muitas outras plantas nos ofereçam todas essas coisas”, confirmou o pesquisador em entrevista ao site “WIRED”.

Além do grande avanço tecnológico, o cultivo futuro da planta pode favorecer a medicina terrestre, já que diversos tratamentos atuais dependem de compostos variados do canabidiol.

Área de pesquisa em processo de ampliação

Radišič completou a explicação ressaltando que testes anteriores já demonstraram que as condições espaciais, como a microgravidade e a radiação podem causar efeitos variados nas plantações. Agora, a busca é por uma prova concreta e física de como o espaço pode afetar a agricultura que possuímos.

Embora seja inovadora, esta não é a primeira investigação da área. Uma equipe de pesquisa colaborativa, sediada na Universidade do Colorado, em Boulder, já tinha enviado culturas de tecidos de cannabis para a Estação Espacial Internacional em 2019, mas nenhum dos resultados publicados analisou a exposição à radiação cósmica.

“Sejam mudanças ou não, ambos os resultados serão importantes para o futuro, para que saibamos como cultivar cannabis no ambiente espacial”, finalizou Radišič.