Cientistas estão desenvolvendo estruturas semelhantes a embriões humanos usando apenas células-tronco, sem óvulos ou espermatozoides. Esses modelos, mesmo longe de se tornarem embriões viáveis, estão se tornando cada vez mais sofisticados e realistas, despertando entusiasmo na comunidade científica, mas também levantando questionamentos éticos.

Os chamados modelos embrionários são formados a partir da auto-organização de células-tronco, capazes de gerar tecidos semelhantes aos do início da gestação, como saco vitelino e amnio. Apesar de ainda não terem potencial de se desenvolver até virarem fetos, avanços recentes demonstram que, em modelos de camundongos, órgãos rudimentares como cérebro e coração já começaram a surgir.

Tais estruturas podem mudar os estudos sobre reprodução humana e infertilidade, além de permitir experimentos inviáveis com embriões reais. No entanto, o progresso acelerado do campo exige uma revisão de normas. Por isso, a Sociedade Internacional de Pesquisa com Células-Tronco (ISSCR) está atualizando suas diretrizes para incluir revisões éticas mais rigorosas para todos os tipos de modelos.

As novas orientações, previstas para serem publicadas em breve, continuam com a proibição de transferência desses modelos para úteros –  humanos ou animais – e contraindicam o uso em experiências de ectogênese, ou seja, criação de embriões completos fora do corpo humano por meio de tecnologias artificiais.

Em países como Austrália e Holanda, há propostas para tratar esses modelos com o mesmo rigor legal que os embriões humanos. Já nos Estados Unidos, não há legislação específica, e cada proposta de pesquisa é analisada individualmente. Por isso, as diretrizes da ISSCR têm grande influência global.

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Potenciais e riscos

Pesquisadores como Naomi Moris propõem que, em algum momento, será necessário aplicar “testes de Turing” aos modelos embrionários. Essas avaliações indicariam quando essas estruturas se aproximam funcionalmente de embriões reais. Por exemplo, um modelo poderia ser considerado semelhante a um embrião se conseguir se desenvolver de forma previsível ou se, em experimentos com animais, resultar em gravidez.

Pesquisas conseguiram gerar modelos a partir de células da pele com todos os tipos celulares essenciais para o início da gravidez, ampliando o potencial desses estudos para compreender falhas reprodutivas. Essas estruturas têm valor único ao permitir o estudo de estágios cruciais da gestação, especialmente o momento da implantação do embrião, que é mal compreendido e frequentemente associado a perdas gestacionais.

O desafio, agora, é equilibrar o avanço científico com a responsabilidade social, sem abrir precedentes para a criação artificial de vida fora dos limites seguros e éticos.