Aumento de visitantes na montanha mais alta e icônica do Japão cria problemas de lixo e acidentes com alpinistas inexperientes e mal equipados.A administração local, que supervisiona uma das rotas de caminhada mais populares para o topo do icônico Monte Fuji do Japão, vai impor um pedágio e um limite diário para o número de alpinistas, devido à superlotação das já limitadas instalações no cume da montanha, ao acúmulo de lixo e à preocupação com o crescente número de acidentes com feridos durante a escalada.

O governo da província de Yamanashi anunciou no fim de 2023 que um limite diário de 4 mil alpinistas passará a vigorar na popular trilha Yoshida, no flanco norte da montanha, a partir de 1° de julho, quando começa a temporada de escalada de verão de 70 dias.

Ao anunciar o plano, numa entrevista coletiva em 20 de dezembro, o governador Kotaro Nagasaki antecipou várias regras adicionais, incluindo a proibição de que se comece a fazer a trilha entre 16h e 2h e a introdução de um pedágio para ajudar a cobrir os custos de manutenção das rotas de caminhada e a construção de abrigos a serem usados no caso de uma erupção.

O preço da entrada da trilha Yoshida provavelmente será definido em fevereiro, segundo o jornal Asahi, que cita o governador como fonte da informação.

Trilhas congestionadas

“Essa é uma medida para aliviar o congestionamento na trilha, já que pesquisas anteriores mostraram que a aglomeração excessiva ocorre perto do cume, quando o número de excursionistas ultrapassa 4 mil”, disse Nagasaki.

Os planos têm o amplo apoio de organizações de guias e outros grupos dedicados à preservação do meio ambiente do vulcão de 3.776 metros, reverenciado no Japão como um símbolo nacional e que recebeu o status de Patrimônio Mundial da Unesco em 2013.

Tatsuo Nanai, secretário geral do Fuji-san Club, organização sem fins lucrativos criada para proteger a montanha e educar os turistas, considera “bom e ruim” limitar o acesso: “Introduzir um limite do número de montanhistas e cobrar ingresso pode dissuadir alguns de virem aqui, o que pode prejudicar a economia local. Mas, por outro lado, há uma série de problemas que precisam ser resolvidos antes que se tornem muito piores.”

“Um grande problema é o lixo que as pessoas deixam para trás. Temos placas pedindo que cada um leve seus resíduos quando forem embora, mas nem todos o fazem. Em consequência, organizações como a nossa passem algum tempo recolhendo o lixo.”

“Há também um número muito limitado de banheiros públicos na montanha. E os depósitos de dejetos humanos também vão se acumulando.” Nanai também acredita que as autoridades têm razão em se preocupar com a possibilidade de os andarilhos se ferirem.

Temores de segurança

“O Monte Fuji pode ser muito perigoso, e acho que a maioria não se dá conta quanto. Esse é o pico mais alto do Japão e, nas altitudes mais elevadas se pode sentir os efeitos da privação de oxigênio e do mal de altitude”, alerta Nanai.

Da mesma forma, muitos começam a escalar numa altitude em que o calor e a umidade do verão japonês ainda são muito sentidos e não percebem as mudanças à medida que sobem mais.

Há relatos regulares sobre turistas que começam com sandálias de praia, shorts e camisetas, e se expõem a perigo quando as temperaturas caem abaixo de zero e ventos fortes sopram nas encostas áridas da montanha.

Luke Cummings, coproprietário da Fuji Mountain Guides, concorda que o Monte Fuji pode ser implacável. “Há alguns anos, houve uma queda de rocha perto do pico, e um escalador foi morto, e acho que há mortes de tantos em tantos anos, geralmente alguém mais idoso que sofre um ataque cardíaco.”

As autoridades esperam acabar com o assim chamado “bullet climbing” (escalada a bala), disse Cummings, que já guiou grupos ao topo do Monte Fuji mais de 100 vezes. Os alpinistas “bullet” geralmente partem ao cair da tarde ou anoitecer, e escalam durante toda a noite, não parando para descansar em nenhuma das cabanas que oferecem uma pausa do clima e permitem que se durma por algumas horas. “O objetivo é chegar ao pico pouco antes do nascer do sol, embora seja notoriamente difícil acertar o momento certo.”

Para quem chega cedo demais, não há abrigo, e temperaturas bem abaixo de zero. Quem se aproxima do pico tarde geralmente fica preso numa multidão que tenta completar a rota antes que o sol apareça. “Ambas as situações são potencialmente perigosas”, reforça, Cummings..

Um total de 221.322 montanhistas escalaram o Monte Fuji no verão de 2023, dos quais 137.236 passaram cerca de seis horas subindo a trilha Yoshida, e os demais utilizaram três trilhas menos congestionadas. “A Yoshida é a rota mais popular, por isso o governo da província está procurando limitar os números.”

“Se isso resultar em melhores instalações nas rotas, acho que será bom, e é provável que as prefeituras que abrigam as outras trilhas até o topo também introduzam sistemas semelhantes no futuro”, torce Cummings.