Pesquisadora britânica alterou a percepção global sobre a inteligência dos chimpanzés. Aclamada por suas descobertas, ela se transformou em defensora da vida selvagem e dedicou sua vida a lutar pela causa dos primatas.A primatologista britânica Jane Goodall, que se tornou mundialmente por suas pesquisas pioneiras que realizou sobre o comportamento dos chimpanzés, morreu aos 91 anos. A notícia foi confirmada nesta quarta-feira (01/10) pelo instituto que leva seu nome em uma publicação nas redes sociais.

“O Instituto Jane Goodall tomou conhecimento nesta manhã, quarta-feira, 1º de outubro de 2025, que a Dra. Jane Goodall, Mensageira da Paz da ONU e fundadora do Instituto Jane Goodall, morreu de causas naturais.”

“Ela estava na Califórnia como parte de sua turnê de palestras nos Estados Unidos. As descobertas da Dra. Goodall como etóloga transformaram a ciência, e ela foi uma defensora incansável da proteção e restauração do mundo natural” diz a postagem.

Aclamada por suas pesquisas, ela se transformou em uma defensora da vida selvagem e cruzou o mundo para defender a causa dos parentes mais próximos dos humanos e do planeta em geral.

Goodall e a inteligência animal

Vestindo sua habitual camisa de gola e shorts, de binóculos na mão, Goodall transformou a compreensão humana sobre os chimpanzés. Ela foi a primeira pesquisadora a dar-lhes nomes, em vez de números.

A britânica também foi a primeira cientista a observar que os primatas, assim como os humanos, usam ferramentas e sentem emoções.

O colega naturalista e amigo David Attenborough disse ao jornal britânico Daily Telegraph em 2010 que ela era “uma mulher que virou o mundo da zoologia de cabeça para baixo”.

Seus avanços científicos “alteraram profundamente a visão mundial sobre a inteligência animal e enriqueceram nossa compreensão da humanidade”, disse o chefe da Fundação John Templeton, sediada nos Estados Unidos, em 2021, ao lhe conceder um prêmio pelo conjunto de sua obra.

Amor pelos primatas começou na infância

Nascida em 3 de abril de 1934, em Londres, o amor de Goodall por animais selvagens começou logo na infância, quando seu pai lhe deu um chimpanzé de pelúcia, que ela guardou pelo resto da vida.

Ela também era fã dos livros de Tarzan, que narravam a história de um menino criado na selva por macacos que se apaixona por uma mulher chamada Jane.

“Quando eu tinha 10 anos, sonhava em ir para a África, conviver com animais e escrever livros sobre eles”, disse Goodall à emissora CNN em 2017.

Em 1957, ela aceitou o convite de uma amiga para visitar o Quênia, onde começou a trabalhar para o famoso paleontólogo Louis Leakey.

Sua grande chance veio quando Leakey a enviou para pesquisar chimpanzés selvagens na Tanzânia, tornando-se a primeira das três mulheres que ele nomeou para estudar os grandes primatas em seu habitat natural, juntamente com a americana Dian Fossey, especializada em gorilas; e a canadense Birute Galdikas, que pesquisava os orangotangos.

Apesar da falta de formação científica de Goodall, Leakey “sentiu que sua paixão e conhecimento pelos animais e pela natureza, sua alta energia e coragem a tornavam uma ótima candidata para estudar os chimpanzés”, descreveu a revista National Geographic, que apresentou Goodall em sua capa em 1965.

Foi no Parque Nacional de Gombe que Goodall testemunhou um macho, a quem chamou de David Greybeard, usando um talo de grama para pescar cupins de um cupinzeiro. Mais tarde, ela viu Greybeard e um segundo animal, Golias, arrancando folhas de um galho para transformá-lo em uma ferramenta melhor para desenterrar cupins.

Com base em suas descobertas, Leakey enviou Goodall para a Universidade de Cambridge para realizar uma pesquisa de doutorado. Ela se tornou a oitava pessoa a obter um doutorado em Cambridge sem primeiro possuir um diploma de graduação.

Cientista e ativista

Seu ativismo começou durante uma conferência nos Estados Unidos sobre chimpanzés na década de 1980, onde ouviu relatos de espécimes ameaçados de extinção sendo usados em pesquisas médicas, capturados para consumo de carne de caça e tendo seus habitats destruídos.

“Entrei como cientista, feliz, aprendendo sobre o comportamento dos chimpanzés […] mas saí daquela conferência como ativista”, disse Goodall em Nairóbi em 2013.

Suas percepções únicas sobre o mundo animal – ela animava as conferências com suas interpretações de chamados de chimpanzés no Parque Gombe, ao qual retornava regularmente –chamava a atenção de quem ouvia.

Em 1977, Goodall fundou um instituto em seu nome para promover o estudo de chimpanzés e, em 1991, criou o projeto Roots and Shoots, que trabalha com jovens em mais de 60 países em questões ambientais.

Vida pessoal

Em 1964, Goodall casou-se com o fotógrafo holandês Hugo van Lawick, que a imortalizou, junto com seus chimpanzés, nas revistas National Geographic e Life. Um modelo de David Greybeard enfeitou o bolo de casamento.

O casal teve um filho, Hugo Eric Louis Van Lawick, apelidado de Grub.

Goodall casou-se com seu segundo marido, Derek Bryceson, ex-diretor dos parques nacionais da Tanzânia e membro do Parlamento do país, em 1975. Cinco anos depois, Bryceson morreu de câncer.

Em abril de 2002, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a nomeou Mensageira da Paz das Nações Unidas, e ela foi condecorada como Dama Comandante da Ordem do Império Britânico em 2004.

rc (AFP, DPA)