Compositor, cantor e arranjador natural do Acre foi um dos principais pilares musicais da bossa nova. Tem lugar no panteão da MPB e do jazz ao lado de nomes como Tom Jobim, Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil.O compositor, arranjador, pianista, acordeonista e cantor João Donato morreu na madrugada desta segunda-feira (17/07) aos 88 anos. Ele fora internado com pneumonia na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, e estava intubado há cerca de duas semanas.

“Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias”, consta de suas redes sociais. “Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo.” O velório se realiza nesta terça-feira no Theatro Municipal do Rio. Em seguida o corpo será cremado no Memorial do Carmo.

Ao longo de sua carreira, Donato atuou com artistas como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann e Wes Montgomery. Suas músicas Amazonas, na gravação de Chris Montez, e A rã e Caranguejo, ambas na versão de Sérgio Mendes, fizeram muito sucesso.

Atuando como arranjador, destacam-se os álbuns O homem de Aquarius, de Tom Jobim, e Minha saudade, de Lisa Ono, ao lado de trabalhos com Gal Costa, Fagner e Martinho da Vila.

Seus 74 anos de carreira foram marcados por originalidade e a combinação de gêneros musicais diversos, resultando em títulos como Bluchanga, Sambolero e Sambongo. Músico incansável, em 2021 participou do disco Jazz is dead 7, ao lado de músicos de Los Angeles. Seu último CD foi Serotonina, lançado em 2022.

Experimental desde criança

João Donato de Oliveira Neto nasceu em 17 de agosto de 1934 em Rio Branco, Acre, numa família musical. O irmão caçula, Lysias Ênio, atuaria como letrista (Até quem sabe, com música de João; Flor de maracujá, com Caetano Veloso).

Desde pequeno, Donato já realizava experimentos musicais com flautinhas de bambu e panelas. Aos oito anos ganhou de presente um acordeão de oito baixos e escreveu sua primeira canção, Índio perdido, gravada em 1962 e regravada 33 anos mais tarde como Lugar comum, com letra de Gilberto Gil.

Em 1945 a família se mudou para o Rio de Janeiro. Numa nas festas de seu colégio em que tocava, Donato conheceu o grupo Namorados da Lua, travando amizade com Lúcio Alves, Nanai e Chicão. Quatro anos depois já atuava em jam-sessions na casa de Dick Farney e no Sinatra-Farney Fan Club, do qual era membro.

O ano de 1949 marca o início da carreira profissional de Donato, como integrante do grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional. Dois anos depois começou a estudar piano. Em 1953 formou o Donato e Seu Conjunto, no ano seguinte, o Trio Donato.

Aos poucos, o músico desenvolveu uma de suas características mais marcantes: um estilo pianístico essencial, quase minimalista, porém extremamente sutil e refinado nos detalhes.

No epicentro da MPB e do jazz

Em 1956, em São Paulo, atuou como pianista do conjunto Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar, e gravou seu primeiro LP, Chá dançante, produzido por Tom Jobim.

Em 1959, viajou para o México com Nanai e Elizeth Cardoso. Em seguida transferiu-se para os Estados Unidos, onde viveu por três anos. Lá atuou com Carl Tjader, Johnny Martinez, Tito Puente e Mongo Santa Maria. Donato também excursionou com João Gilberto pela Europa.

Em 1962 voltou para o Brasil, casado com a atriz americana Patricia del Sasser, mas já no ano seguinte foi para os EUA, onde viveu por mais dez anos. Embora não tão projetado quanto Jobim ou João Gilberto, Donato tornou-se um dos principais pilares musicais da bossa nova.

Em 2000 João Donato foi contemplado com o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da obra e participou do Free Jazz Festival, no Rio de Janeiro. Em 2003 recebeu o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Em 2004 o disco Emílio Santiago encontra João Donato lhe valeu o Prêmio Tim.

av (ots)