28/11/2025 - 13:09
Laudo aponta que quatro pessoas da mesma família morreram como resultado de dedetização irregular em hotel. Incidente lançou luz sobre negligência e falhas de segurança em vários casos semelhantes na Turquia.Agora é oficial: a família alemã de quatro pessoas que morreu neste mês na Turquia foi vítima de um envenenamento por pesticidas provavelmente utilizados no hotel onde estava hospedada em Istambul.
É o que diz o laudo médico-legal divulgado pelo Ministério Público da Turquia, responsável pela investigação. O comunicado não especifica o tipo exato de veneno, mas acrescenta que não há indícios de intoxicação alimentar, primeira hipótese levantada durante a investigação do caso.
Com a conclusão, quatro dos onze suspeitos presos — incluindo operadores de barracas de comida de rua e restaurantes — foram libertados, segundo a Procuradoria. Seis suspeitos, entre eles o dono do hotel e o proprietário de uma empresa de controle de pragas, continuam em prisão preventiva.
Na semana passada, a mídia havia relatado que os investigadores tinham encontrado gás fosfina no quarto da família. Esse gás altamente tóxico é produzido quando o fosfeto de alumínio entra em contato com água ou umidade. A fosfina danifica as células do corpo, impede o transporte de oxigênio no sangue em altas concentrações e pode causar tosse irritativa, vômitos, além de disfunções hepáticas e renais.
Negligências e graves falhas de segurança
A trágica morte da família de Hamburgo não apenas causou profunda consternação, mas também lançou luz sobre graves deficiências de segurança e uma série de casos antigos não esclarecidos de envenenamento na Turquia.
A família viajou para Istambul em 9 de novembro para um curto período de férias. Os primeiros problemas de saúde surgiram em 12 de novembro, quando procuraram atendimento hospitalar com sintomas como dores, náuseas e vômitos. Após um breve tratamento, os pais e seus dois filhos retornaram ao hotel. Na noite de 13 de novembro, o estado deles piorou drasticamente: pouco depois de serem levados ao hospital, as duas crianças, de 6 e 3 anos, morreram e, no dia seguinte, a jovem mãe de 27 anos. O pai morreu em 17 de novembro, após permanecer alguns dias na UTI.
A suspeita: de intoxicação a envenenamento
Inicialmente, as autoridades e os médicos suspeitaram de intoxicação alimentar. A família havia consumido diversas especialidades turcas de comida de rua e fast food.
No entanto, a hipótese rapidamente se voltou para o hotel onde a família de Hamburgo estava hospedada, depois que outros hóspedes apresentaram sintomas semelhantes de envenenamento e foram levados a hospitais da região. Segundo o gerente do hotel, foram utilizados inseticidas altamente tóxicos para combater percevejos no local. Por isso, os investigadores passaram a considerar uma intoxicação por produtos químicos como a causa mais provável da morte.
A investigação revelou detalhes preocupantes sobre a empresa de controle de pragas que atuava no hotel. De acordo com depoimentos, o proprietário não tinha licença ou a autorização necessária para prestar esse tipo de serviço, tampouco apresentava a formação adequada.
Além disso, após a morte da família, os pais de uma criança de três anos, que morreu em 18 de abril de 2025 em Istambul, se manifestaram. Segundo o laudo da autópsia, a criança morreu devido a uma intoxicação por inseticidas aplicados nas proximidades — pela mesma empresa que teria realizado o serviço no hotel da família alemã. Apesar da denúncia, na época a empresa aparentemente continuou operando.
Mais casos vêm à tona
O caso da família de Hamburgo também chamou a atenção pública para ocorrências mais antigas e ainda não esclarecidas, que indicam um problema generalizado no uso de pesticidas.
Os pais da estudante de intercâmbio Erasmus, Marlene P., de Lüneburg, que morreu há um ano em Istambul, pediram novas investigações. Eles só receberam o relatório forense sobre a causa da morte da filha em agosto passado. O documento também aponta para uma intoxicação por produtos de controle de pragas, após inseticidas contra percevejos terem sido aplicados no apartamento abaixo da república estudantil onde Marlene vivia. Os pais agora exigem que o caso da filha seja elucidado e que os responsáveis sejam punidos.
Há um ano, uma criança de um ano morreu em Izmir e um menino de sete anos faleceu na cidade de Konya, ambos em locais onde dedetizadores teriam aplicado inseticidas tóxicos nas proximidades.
Governo finalmente age
Na Turquia, tanto as intoxicações por inseticidas quanto as alimentares são problemas recorrentes. Segundo a agência de notícias turca DHA, somente em novembro foram registrados pelo menos 15 casos de intoxicações coletivas após refeições em cantinas, refeitórios ou grandes eventos, nos quais mais de 900 pessoas precisaram de atendimento médico. Observadores acreditam que isso representa apenas a ponta do iceberg, já que muitos casos não são notificados.
Como reação direta à tragédia da família alemã, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan , e os ministérios competentes estão tentando conter os danos e reforçar as fiscalizações. Além disso, o governo de Istambul anunciou um endurecimento das inspeções a vendedores ambulantes e a criação de comissões de controle para segurança alimentar. Também será exigido que os estabelecimentos mantenham gravações contínuas de áudio e vídeo. A venda e aplicação de produtos para controle de pragas também passarão por fiscalizações mais rigorosas.
O setor de turismo reagiu com preocupação aos recentes casos de intoxicação. Rasit Genc, proprietário de uma agência de viagens em Istambul, relatou à DW uma série de cancelamentos.
