Uma mulher escocesa chamada Joy Milne, de 72 anos, é capaz de farejar pessoas afetadas pela doença de Parkinson, uma doença neurodegenerativa progressiva. No Brasil, a estimativa é de que 200 mil pessoas vivam com a enfermidade.

Desde então, um grupo de cientistas do Reino Unido vem trabalhando com Milne para identificar as moléculas que dão ao Parkinson sua assinatura olfativa distinta. A equipe agora se concentrou em um conjunto de moléculas específicas para a doença e criou um teste simples baseado em cotonete para detectá-las.

Milne tem hiperosmia hereditária, uma condição que confere às pessoas uma hipersensibilidade ao olfato. Ela descobriu que podia sentir Parkinson com o nariz depois de perceber que seu marido, Les, estava emitindo um odor almiscarado que ela não havia detectado antes.

Eventualmente, ela vinculou essa mudança no cheiro ao Parkinson quando ele foi diagnosticado com a doença muitos anos depois. Les faleceu em 2015.

Em 2012, ao lado de Tilo Kunath, neurocientista da Universidade de Edimburgo, na Escócia, em um evento organizado pela instituição de pesquisa e apoio Parkinson’s UK, Milne comprovou suas habilidades.

Kunath e seus colegas deram a ela 12 camisetas, seis de pessoas com Parkinson e seis de indivíduos saudáveis. Ela identificou corretamente a doença em todos os casos e a camiseta de uma pessoa saudável que ela classificou como tendo Parkinson pertencia a alguém que foi diagnosticado com a doença menos de um ano depois.

Juntamente com a química Perdita Barran, da Universidade de Manchester, na Inglaterra, Kunath e seus colegas vem procurando quais são as moléculas responsáveis ​​pela mudança no olfato que Milne consegue detectar.

Os pesquisadores usaram espectrometria de massa para identificar tipos e quantidades de moléculas em uma amostra de sebo, uma substância oleosa encontrada na superfície da pele. Eles descobriram alterações nas moléculas de gordura conhecidas como lipídios em pessoas com Parkinson.

Em um estudo, publicado em 7 de setembro na revista JACS Au da American Chemical Society, os pesquisadores revelaram os resultados do uso de um teste simples baseado em cotonetes para detectar a assinatura lipídica que é indicativa de Parkinson.

Ao comparar amostras de sebo de 79 pessoas com Parkinson e 71 pessoas sem a doença, a equipe se concentrou em um conjunto de grandes lipídios que podem ser detectados em questão de minutos usando um tipo especial de espectrometria de massa em que as substâncias são rapidamente transferidas de uma amostra para um analisador usando apenas um pedaço de papel.

Embora os autores do estudo de 7 de setembro tenham relatado o perfil químico detalhado da assinatura única de Parkinson, eles não incluíram uma avaliação de sua precisão. De acordo com Barran, com base em dados ainda não publicados, o teste parece ser capaz de determinar se um indivíduo tem Parkinson com mais de 90% de precisão.

A equipe agora está trabalhando com hospitais locais para determinar se esse teste baseado em sebo também pode ser realizado em laboratórios clínicos, o que é um passo fundamental para determinar se pode ser usado como uma ferramenta de diagnóstico.

Em última análise, a esperança é usar o teste para ajudar a identificar indivíduos que foram encaminhados a seus neurologistas por seu clínico geral por suspeita de Parkinson, para que possam receber um diagnóstico mais rápido, afirmou Barran.

Para Milne, a esperança é que este trabalho acabe beneficiando os pacientes com essas condições. “Meu marido sofreu de [Parkinson] por 21 anos após seu diagnóstico, mas ele teve muitos anos antes disso. Eu gostaria de ver que as pessoas não sofrem do jeito que ele sofreu”, disse ela à Scientific American em 2015.