16/02/2023 - 12:47
Um novo estudo multidisciplinar internacional revelou a existência de perfurações no crânio de uma mulher lombarda (povo germânico que invadiu a Itália em 568 d.C.), encontrado no cemitério de Castel Trosino, perto de Ascoli Piceno, centro da Itália. A pesquisa, coordenada pela Universidade de Roma La Sapienza em colaboração com a Universidade Católica do Sagrado Coração, de Milão (ambas na Itália) o Instituto McDonald de Pesquisa Arqueológica da Universidade de Cambridge (Reino Unido), as universidades de Aix-Marseille e Caen (França) e a Universidade de Washington (EUA), foi publicada na revista International Journal of Osteoarchaeology.
- Vítima de assassinato medieval levou quatro golpes de espada no crânio
- Tomografia de múmia mostra que faraó morreu em execução cerimonial
- Descobertos na Península Ibérica ritos funerários neolíticos diferentes
As escavações no local também revelaram bens funerários luxuosos, como ouro e joias finas. Esses achados, porém, não se comparam à descoberta analisada no estudo, que segundo seus autores representa “a primeira evidência de uma modificação óssea em forma de cruz em um sujeito vivo”.
Análises macroscópicas, microscópicas e de tomografia computadorizada (TC) revelaram sinais de pelo menos duas operações realizadas no crânio, incluindo uma cirurgia em forma de cruz, pouco antes da morte da mulher. Além disso, graças a um novo método de investigação bioquímica de alta resolução aplicado a um dos dentes preservados, foram reconstruídas mudanças específicas na dieta e na mobilidade da mulher desde o início da vida até a idade adulta. Isso permitiu que os pesquisadores identificassem mudanças em sua dieta e ambiente ao longo de sua vida e destacassem o cuidado e o interesse prestado a ela pela comunidade.
Terapia de longo prazo
Aparentemente feita com uma ferramenta de raspagem de metal afiada, a cruz contém uma área arredondada de osso bem curado em seu centro. Essa cicatrização geralmente leva cerca de seis meses para ocorrer após uma lesão, o que, de acordo com os pesquisadores, sugere que a mulher sobreviveu ao procedimento. Por outro lado, um segundo conjunto de “marcas em forma de V” não apresenta essa cura, o que indica que a mulher provavelmente morreu logo após essa segunda operação. Mas ainda não está claro se ela faleceu em função dessa cirurgia.
“Descobrimos que a mulher havia sobrevivido a várias cirurgias, tendo sido submetida a terapia cirúrgica de longo prazo, que consistia em uma série de perfurações subsequentes”, disse Ileana Micarelli, da Universidade de Cambridge, ex-bolsista de pós-doutorado da La Sapienza e primeira autora do estudo.
“A última cirurgia”, afirmou Giorgio Manzi do Departamento de Biologia Ambiental da La Sapienza, “parece ter ocorrido pouco antes da morte do indivíduo. Não há lesões que sugiram a presença de traumas, tumores, doenças congênitas ou outras patologias. Além disso, embora seja intrigante considerar a possibilidade de um motivo ritual ou judicial, nenhuma evidência osteológica ou histórica suporta tais hipóteses”.
A descoberta das raras evidências de uma operação de perfuração abre caminho para futuros estudos sobre as razões e métodos de tratamento, bem como o papel de cuidado da comunidade para com os doentes durante a Idade Média.