Cerca de 15 mil mulheres de todo o país se inscreveram para se tornar a próxima Miss Alemanha, de acordo com os organizadores do concurso. E, entre as dez finalistas, reveladas nesta terça-feira (28/02), uma em particular chamou atenção: Saskia von Bargen, uma mulher trans.

Von Bargen mora com os pais e três irmãs mais novas em Friedrichsfehn, no estado da Baixa Saxônia. Ela sabia desde os cinco anos de idade que era uma menina e preferia brincar com garotas e usar vestidos.

“Já desde cedo meus pais perceberam que isso não era apenas uma fase”, afirmou a jovem de 19 anos, que elogia os familiares pelo apoio desde o início. Na escola, porém, as coisas nem sempre foram fáceis: ela usava roupas de menino para evitar bullying.

Aos 11 anos, Von Bargen começou a tomar medicamentos para atrasar a puberdade e, dois anos depois, iniciou uma terapia hormonal feminilizante. Foi também quando declarou sua identidade de gênero na escola, e a partir de então começou a se sentir mais aceita. Quando se tornou maior de idade, passou por uma cirurgia de redesignação sexual e escolheu o nome Saskia.

Miss Alemanha renova sua imagem

Vencer um concurso de beleza costumava ser associado a ter uma boa aparência e a capacidade de andar como uma modelo de passarela. Mas a Miss Germany Studios, a empresa que organiza o concurso nacional, mudou radicalmente os critérios de julgamento em uma tentativa de renovar a imagem da competição.

Desde 2019, as candidatas não desfilam mais na passarela de biquíni, e altura e peso também não são mais importantes. Na verdade, a aparência não desempenha nenhum papel, de acordo com Jil Andert, do Miss Germany Studios. As mulheres precisam demonstrar personalidade e “devem ser uma fonte de inspiração”, disse Andert à agência de notícias alemã DPA.

A socióloga Nina Degele, da Universidade de Freiburg, não se impressiona com a reformulação da competição e considera o formato do Miss Alemanha ultrapassado. Para ser relevante, ela acredita que “o formato teria que ser abolido e substituído por algo completamente diferente”.

Embaixadora trans

Von Bargen disse que o concurso de Miss Alemanha era a “plataforma perfeita” para ela contar sua história. Trainee de uma loja de moda, ela quer conscientizar as pessoas sobre como é ser uma mulher trans.

Ela fala abertamente sobre coisas que deram errado em sua primeira cirurgia. No total, ela passou por 12 procedimentos cirúrgicos. Apesar das dificuldades, não se arrepende.

Ela se candidatou à competição para promover a conscientização sobre questões transgênero e se vê como uma embaixadora da causa. Se vencer, receberá um prêmio de 25 mil euros (quase R$ 140 mil).

Não é a primeira mulher trans a chegar à final

Von Bargen não é a primeira mulher trans a chegar tão longe em um concurso de Miss Alemanha. No ano passado, Gadou, uma mulher trans de Hannover, também na Baixa Saxônia, conseguiu chegar à final.

Mas Von Bargen espera ser a primeira mulher trans a vencer. As finais acontecerão no próximo sábado (04/03), no Europa-Park em Rust, no estado de Baden-Württemberg.

Outras finalistas incluem uma consultora de energia que quer promover mulheres em um campo dominado por homens e uma parteira que deseja abrir sua própria casa de parto.

Realizado pela primeira vez em 1927 e proibido durante o período nazista, o concurso Miss Alemanha não deve ser confundido com o Miss Universo Alemanha, no qual é selecionada uma candidata oficial para o concurso de Miss Universo.

Brasileira venceu em 2022

No ano passado, a brasileira Domitila Barros foi eleita Miss Alemanha. Moradora de Berlim, Barros é ativista social, modelo e atriz.

Ela cresceu em uma favela do Recife, chamada “Linha do Tiro”, e ainda adolescente começou a trabalhar em um projeto social criado pelos pais que ensinava crianças da comunidade a ler e escrever, com apoio de aulas de teatro e dança.

Devido a esse trabalho, ela foi convidada pela Unesco para um evento nos Estados Unidos e recebeu um prêmio chamado Millennium Dreamer Award.

Graduada em Serviço Social em Pernambuco, ela se mudou para a Alemanha em 2006, para cursar um mestrado em ciências políticas e sociais na Universidade Livre de Berlim, com uma bolsa de estudos. Durante o curso, ela passou a trabalhar também como modelo e atriz.

fc/lf (DPA, DW)