27/12/2022 - 7:54
As mulheres, em média, são melhores do que os homens em se colocar no lugar dos outros e imaginar o que a outra pessoa está pensando ou sentindo, sugere um novo estudo com mais de 300 mil pessoas em 57 países.
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Os pesquisadores descobriram que as mulheres, em média, pontuam mais do que os homens no amplamente utilizado Teste de “Leitura da Mente nos Olhos”, que mede a “teoria da mente” (também conhecida como “empatia cognitiva”). Esse achado foi observado em todas as idades e na maioria dos países.
O estudo, publicado na revista PNAS, é o maior estudo da teoria da mente feito até hoje.
Avaliação bem aceita
Uma parte fundamental da interação e comunicação social humana envolve colocar-se no lugar de outras pessoas, imaginar os pensamentos e sentimentos de outra pessoa. Isso é conhecido como “teoria da mente” ou “empatia cognitiva”.
Durante décadas, os pesquisadores estudaram o desenvolvimento da teoria da mente, desde a infância até a velhice. Um dos testes mais amplamente usados para estudar a teoria da mente é o “Lendo a mente nos olhos” (ou teste dos olhos, para abreviar), que pede aos participantes que escolham qual palavra melhor descreve o que a pessoa na foto está pensando ou sentindo, apenas pela visualização de fotos da região dos olhos.
Desenvolvido pela primeira vez em 1997 pelo professor Sir Simon Baron-Cohen e sua equipe de pesquisa na Universidade de Cambridge (Reino Unido), o teste dos olhos foi revisado em 2001 e tornou-se uma avaliação bem estabelecida da teoria da mente. Ele está listado como um dos dois testes recomendados para medir as diferenças individuais em “Entendendo os Estados Mentais” pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos.
Ao longo das décadas, muitos estudos de pesquisa independentes descobriram que as mulheres, em média, pontuam mais alto que os homens em testes de teoria da mente. No entanto, a maioria desses estudos limitou-se a amostras relativamente pequenas, sem muita diversidade geográfica, cultural e/ou etária.
Diferença ao longo da vida
Para resolver essas deficiências, uma equipe de pesquisadores multidisciplinares liderada pela Universidade de Cambridge e com colaboradores nas universidades Bar-Ilan e de Haifa (Israel), Harvard e de Washington (EUA), bem como a Escola IMT de Altos Estudos de Lucca (Itália), fundiu grandes amostras de diferentes plataformas online para analisar dados de 305.726 participantes em 57 países.
Os resultados mostraram que, nos 57 países, as mulheres obtiveram, em média, pontuações significativamente mais altas que os homens (em 36 países) ou semelhantes aos homens (em 21 países) no teste dos olhos. É importante ressaltar que não houve nenhum país onde os homens obtiveram, em média, pontuações significativamente mais altas do que as mulheres no teste. A diferença média entre os sexos foi observada ao longo da vida, dos 16 aos 70 anos de idade. A equipe também confirmou essa diferença média entre os sexos em três conjuntos de dados independentes e em versões não inglesas do teste dos olhos, abrangendo oito idiomas.
O dr. David M. Greenberg, o principal cientista do estudo, que atua nas universidades Bar-Ilan e de Cambridge, disse: “Nossos resultados fornecem algumas das primeiras evidências de que o conhecido fenômeno – que as mulheres são em média mais empáticas do que os homens – está presente em uma ampla variedade de países em todo o mundo. É somente usando conjuntos de dados muito grandes que podemos dizer isso com confiança.”
Fatores biológicos e sociais
Embora o estudo não consiga discernir a causa dessa diferença média entre os sexos, os autores discutem com base em pesquisas anteriores que isso pode ser o resultado de fatores biológicos e sociais.
O professor Sir Simon Baron-Cohen, diretor do Centro de Pesquisa de Autismo da Universidade de Cambridge e autor sênior do estudo, afirmou: “Estudos de diferenças sexuais médias não dizem nada sobre a mente ou as aptidões de um indivíduo, uma vez que um indivíduo pode ser típico ou atípico para o seu sexo. O teste dos olhos revela que muitos indivíduos lutam para ler as expressões faciais, por uma variedade de razões. O suporte deve estar disponível para aqueles que o procuram”.
Os pesquisadores também mostraram que, além do sexo, as “pontuações D” (a diferença entre o impulso de uma pessoa para sistematizar e seu impulso para empatizar) são um preditor negativo significativo de pontuações no teste dos olhos. Isso se soma a um estudo anterior liderado por Greenberg em 2018 com mais de 650 mil participantes, também publicado na PNAS, que descobriu que as pontuações D representavam 19 vezes mais variação em traços autistas do que sexo ou qualquer outra variável demográfica. Assim, pontuações D parecem desempenhar um papel mais importante do que o sexo em aspectos da cognição humana.
A drª Carrie Allison, diretora de Pesquisa Aplicada do Centro de Pesquisa em Autismo da Universidade de Cambridge e membro da equipe de estudo, disse: “Este estudo demonstra claramente uma diferença de sexo amplamente consistente entre países, idiomas e idades. Isso levanta novas questões para pesquisas futuras sobre os fatores sociais e biológicos que podem contribuir para a diferença média observada entre os sexos na empatia cognitiva”.