05/09/2022 - 9:21
O impacto da inalação de gases de escapamento de diesel pode ser mais grave para as mulheres do que para os homens, de acordo com uma nova pesquisa que será apresentada no Congresso Internacional da Sociedade Respiratória Europeia em Barcelona (Espanha) de 2022, de 4 a 6 de setembro.
- Pouco tempo em engarrafamento já expõe motorista a altas doses de poluição
- Pandemia não fez níveis globais de poluição do ar caírem
- Poluição do ar reduz expectativa de vida de bilhões de pessoas
Os pesquisadores procuraram mudanças no sangue das pessoas provocadas pela exposição ao escapamento de diesel. Tanto em mulheres quanto em homens, eles encontraram alterações nos componentes do sangue relacionados à inflamação, infecção e doença cardiovascular, mas encontraram mais alterações nas mulheres do que nos homens.
A pesquisa foi apresentada pelo dr. Hemshekhar Mahadevappa, da Universidade de Manitoba, em Winnipeg (Canadá), e foi uma colaboração entre dois grupos de pesquisa liderados pela professora Neeloffer Mookherje, da Universidade de Manitoba, e pelo professor Chris Carlsten, da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver (Canadá).
Efeitos no sangue
O dr. Mahadevappa disse ao Congresso: “Já sabemos que existem diferenças sexuais em doenças pulmonares, como asma e infecções respiratórias. Nossa pesquisa anterior mostrou que respirar a exaustão do diesel cria inflamação nos pulmões e tem um impacto sobre como o corpo lida com infecções respiratórias. Neste estudo, queríamos procurar quaisquer efeitos no sangue e como eles diferem em mulheres e homens”.
O estudo envolveu dez voluntários, cinco do sexo feminino e cinco do sexo masculino, todos não fumantes saudáveis. Cada voluntário passou quatro horas respirando ar filtrado e quatro horas respirando ar contendo gases de exaustão de diesel em três concentrações diferentes – 20, 50 e 150 microgramas de material particulado fino (PM2.5) por metro cúbico – com um intervalo de quatro semanas entre cada exposição. O atual valor limite anual da União Europeia para PM2.5 é de 25 microgramas por metro cúbico, mas picos muito mais altos são comuns em muitas cidades.
Os voluntários doaram amostras de sangue 24 horas após cada exposição e os pesquisadores fizeram exames detalhados do plasma sanguíneo dos voluntários. O plasma é o componente líquido do sangue que transporta células sanguíneas, bem como centenas de proteínas e outras moléculas ao redor do corpo. Usando uma tecnologia de análise bem estabelecida chamada cromatografia líquida-espectrometria de massa, os pesquisadores procuraram mudanças nos níveis de diferentes proteínas após a exposição ao escapamento de diesel e compararam as mudanças em mulheres e homens.
Comparando as amostras de plasma, os pesquisadores encontraram níveis de 90 proteínas que eram distintamente diferentes entre voluntários do sexo feminino e masculino após a exposição ao escapamento de diesel. Entre as proteínas que diferem entre mulheres e homens, algumas são conhecidas por desempenhar um papel na inflamação, reparação de danos, coagulação do sangue, doenças cardiovasculares e no sistema imunológico. Algumas dessas diferenças ficaram mais claras quando os voluntários foram expostos aos níveis mais altos de exaustão de diesel.
Estudos mais aprofundados
A professora Mookherjee explicou: “Estas são descobertas preliminares; no entanto, elas mostram que a exposição ao escapamento de diesel tem efeitos diferentes nos corpos femininos em comparação aos masculinos e isso pode indicar que a poluição do ar é mais perigosa para as mulheres do que para os homens. (…) Isso é importante, pois doenças respiratórias como a asma são conhecidas por afetar mulheres e homens de maneira diferente, com as mulheres mais propensas a sofrer asma grave que não responde aos tratamentos. Portanto, precisamos saber muito mais sobre como mulheres e homens respondem à poluição do ar e o que isso significa para prevenir, diagnosticar e tratar suas doenças respiratórias”.
Os pesquisadores planejam continuar estudando as funções dessas proteínas para entender melhor seu papel na diferença entre as respostas imunes femininas e masculinas.
A professora Zorana Andersen, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), é presidente do Comitê de Saúde e Meio Ambiente da Sociedade Respiratória Europeia e não esteve envolvida na pesquisa. Ela disse: “Sabemos que a exposição à poluição do ar, especialmente a exaustão do diesel, é um importante fator de risco em doenças como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. Há muito pouco que podemos fazer como indivíduos para evitar o ar poluído, por isso precisamos que os governos estabeleçam e imponham limites aos poluentes do ar. (…) Também precisamos entender como e por que a poluição do ar contribui para a saúde precária. Este estudo oferece algumas informações importantes sobre como o corpo reage ao escapamento de diesel e como isso pode diferir entre mulheres e homens”.