23/09/2025 - 13:32
Presidente dos EUA afirmou que “Brasil está indo mal” e defende tarifaço, mas faz aceno para Lula. Americano também criticou ONU e aliados europeus e espalhou desinformação sobre migração e energias renováveis.O presidente dos EUA, Donald Trump, fez um discurso em parte improvisado na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (23/09) no qual lançou críticas à própria organização, ao Brasil, a aliados europeus, a imigrantes, ao antecessor Joe Biden, a energias renováveis, além de elogiar seu próprio governo e fazer campanha explícita em causa própria por um Prêmio Nobel da Paz.
Trump também defendeu o tarifaço imposto ao Brasil, criticando o governo brasileiro e o Judiciário do país sul-americano. Por outro lado, Trump disse que falou rapidamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes do seu discurso e anunciou que os dois concordaram em se reunir nos próximos dias. Trump também disse que o brasileiro “parece um homem muito agradável”.
“Química excelente”
“Eu só faço negócios com pessoas que eu gosto. E eu gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 30 segundos nós tivemos uma química excelente, isso é um bom sinal”, disse Trump, que discursou na tribuna da ONU logo depois de Lula.
“Eu estava entrando (no plenário da ONU), e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. Na verdade, concordamos que nos encontraríamos na semana que vem”, disse Trump. “Não tivemos muito tempo para conversar, tipo uns 20 segundos (…). Mas ele pareceu um homem muito agradável. Ele gostou de mim, e eu gostei dele”, disse Trump, na tribuna.
No entanto, antes e depois de dirigir palavras amistosas a Lula, Trump afirmou que o Brasil enfrenta tarifas “em resposta aos esforços sem precedentes de interferir nos direitos e liberdades de nossos cidadãos americanos, com censura, repressão, corrupção judicial, e mirando críticos políticos”.
“Como presidente, vou sempre defender nossa soberania nacional e o direito de cidadãos americanos. Sinto muito em dizer que o Brasil está indo mal e vai continuar indo mal. Eles só podem ir bem se estiverem trabalhando conosco”, disse Trump
A fala de Trump ocorre em um momento particularmente tenso entre o Brasil e os EUA. Essa foi a primeira vez que Lula viajou aos EUA desde que a Casa Branca sob Donald Trump impôs um tarifaço punitivo a exportações brasileiras e sanções a membros do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF), em retaliação ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro na esteira de uma tentativa de golpe.
Antes de Trump, Lula também abordou a tensão. Sem citar Trump ou Bolsonaro nominalmente, o brasileiro criticou o que chamou de “atentados à soberania e sanções arbitrárias”.
“Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”, disse Lula.
Ataques a aliados europeus por imigração
Ainda na ONU, Trump se congratulou pelo combate à imigração irregular lançado pelo seu governo, e instou países aliados na Europa a seguir o mesmo caminho, alertando que essas nações “estão indo para o inferno”.
“Tomamos medidas ousadas para acabar rapidamente com a migração descontrolada. Assim que começamos a deter e deportar todos os que atravessavam a fronteira e a expulsar os estrangeiros ilegais dos Estados Unidos, eles simplesmente deixaram de vir”, disse Trump.
Em seguida, ele chamou a taxa geral de imigração em toda a Europa de parte da “agenda globalista de migração”.
“É hora de acabar com a experiência fracassada das fronteiras abertas. Vocês [europeus] têm que acabar com isso agora”, disse ele. “Seus países estão indo para o inferno”, afirmou Trump.
Trump também atacou o prefeito muçulmano de Londres, Sadiq Khan, que nasceu num subúrbio da capital britânica. “Eles querem adotar a lei da sharia”, disse Trump, sem nenhum embasamento.
Críticas à ONU e campanha por Nobel
Logo no início do discurso, Trump usou a tribuna para criticar a própria ONU.
Trump também afirmou, sem apresentar provas, que a ONU também seria responsável pela “migração descontrolada” mundo afora.
“A ONU não está resolvendo problemas, como deveria, está criando novos problemas para que nós solucionemos. O melhor exemplo disso é o problema político número um: a crise de migração descontrolada. Está totalmente descontrolada. Os países estão sendo arruinados. A ONU está financiando um ataque aos países ocidentais e suas fronteiras”, afirmou. “A ONU sustenta e apoia as pessoas que entram nos EUA e a gente tem que expulsá-las. (…) A ONU deveria impedir invasões, e não criá-las”, disse Trump.
Trump também diz que fez mais do que a ONU para “finalizar guerras”e reafirmou uma alegação, sem base, que teria atuado para acabar com sete guerras no mundo.
“Eu finalizei sete guerras intermináveis”, afirmou Trump, mencionando conflitos entre Israel-Irã, Paquistão-Índia e Armênia-Azerbaijão, entre outros. No entanto, os EUA não tiveram papel de mediador no cessar-fogo entre indianos e paquistaneses, segundo os governos desses dois países. E, no caso de Israel e Irã, os EUA chegaram a tomar parte dos ataques israelenses a alvos iranianos.
“Eu tenho muito orgulho disso, mas foi uma pena que eu tive que fazer tudo isso em vez de as Nações Unidas tomarem a frente. Infelizmente, a ONU nem tentou ajudar em nenhuma dessas guerras. Eu encerrei sete guerras conversando com os líderes de cada um desses países que nunca receberam um telefonema das Nações Unidas.”
Trump também deixou claro que se considera merecedor de um Prêmio Nobel da Paz. “Todos dizem que eu deveria receber o Nobel da Paz por cada uma dessas conquistas”, disse.
O republicano também criticou, em diversos momentos o que chamou de “governo incompetente” de seu antecessor, o democrata Joe Biden, chegando a usar o apelido “Joe sonolento” para atacar o rival.
Ataques a energias renováveis e ciência climática
No seu discurso, Trump também atacou as energias renováveis, afirmando que elas “são uma piada” e que “não funcionam”. Desde que retornou ao poder, o presidente tem ordenado o cancelamento de projetos de turbinas eólicas e favorecido a indústria de combustíveis fósseis.
“Estamos nos livrando das falsamente chamadas energias renováveis. Aliás, elas são uma piada. Elas não funcionam. São muito caras. Não são fortes o suficiente para alimentar as usinas necessárias para tornar seu país grande”, disse.
Trump ainda afirmou que o conceito de mudança climática é “o maior golpe já aplicado ao mundo”, dizendo que ele foi criado “por pessoas estúpidas”. Ele ainda usou o termo “fraude verde” para se referir a políticas ambientais.
Críticas ao reconhecimento de Estado palestino
Trump também afirmou que o reconhecimento do Estado palestino por vários países nos últimos dias representa uma “recompensa” para o Hamas, ecoando argumentos de Israel, país aliado dos EUA.
“Não podemos esquecer o 7 de outubro. E agora, como se fosse para encorajar a continuidade do conflito, alguns nesta organização buscam reconhecer unilateralmente um Estado palestino? A recompensa seria grande demais para os terroristas do Hamas por suas atrocidades”, disse Trump na ONU.
O presidente americano estava reagindo à decisão de dez países, incluindo França, Portugal, Canadá, Austrália e Reino Unido, de reconhecer o Estado palestino.
Esse grupo de países elevou para 157 o número daqueles que reconhecem o Estado palestino, uma ampla maioria dentro dos 193 países com assento na ONU.
Trump também acusou o grupo extremista palestino Hamas de se recusar a “libertar os reféns ou aceitar um cessar-fogo” e garantiu que eles “rejeitaram repetidamente ofertas razoáveis para fazer a paz”.
“Isso poderia ter sido resolvido há tanto tempo, mas em vez de ceder às exigências de resgate do Hamas, aqueles que desejam a paz deveriam estar unidos com uma única mensagem: libertem os reféns agora. Apenas libertem os reféns agora”, declarou Trump.
Apesar de Trump ter acusado o Hamas de se recusar a aceitar uma trégua, a maioria das vezes em que um acordo nesse sentido foi alcançado, ele foi violado por Israel.
jps/md (ots)