Nascido há 125 anos, Erich Maria Remarque tornou-se internacionalmente famoso com seu romance antibélico. A mais recente versão cinematográfica do livro conquistou quatro Oscars.Publicado em 1929, Nada de novo no front é o romance antibélico por excelência. Nele, o alemão Erich Maria Remarque traça o retrato de uma geração que, recém-saída dos bancos escolares, partiu eufórica para o front para acabar sendo massacrada por uma máquina de guerra assassina.

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi praticamente a realização do desejo de muitos homens da época. Os tempos eram de grandes rupturas e incertezas. O progresso tecnológico ditava o compasso: fábricas, automóveis, descobertas científicas. A sociedade patriarcal apresentava fissuras, as mulheres se rebelavam contra os papéis predeterminados, exigiam em alta voz mais direitos.

O antigo se despedia, o novo se precipitava sobre os europeus, sobrecarregando sua capacidade de compreensão e processamento, sobretudo no universo masculino. A guerra, esperavam eles, poderia ser a “força purificadora” que conteria a transformação. Eles aclamaram a eclosão do conflito, no verão de 1914, e acreditavam firmemente que estariam em casa para o Natal.

Mas a realidade era outra: “Aprendemos que um botão bem polido era mais importante do que quatro volumes de Schopenhauer. De início perplexos, depois amargos, e por fim indiferentes, reconhecemos que a coisa decisiva aparentemente não era o intelecto, mas […] o treinamento.”

Horror cotidiano nas trincheiras

A carnificina nas trincheiras, a noite sob a chuva de granadas, o tédio entre as batalhas: o narrador na primeira pessoa de Remarque, um jovem recruta, vivencia tudo isso à flor da pele. De colegial sensível, ele se torna uma meia criatura brutalizada.

“Um sargento […] arrasta os joelhos destroçados atrás de si, um outro se dirige à estação de ataduras, e os intestinos transbordam sobre suas mãos que os estão segurando. […] O horror é suportável enquanto a pessoa simplesmente se esquiva, mas mata quando se reflete a respeito.”

Por mais drásticas que sejam as suas descrições, o próprio autor só teve que lutar no front por pouco tempo. Recrutado compulsoriamente aos 16 anos, ainda colegial, foi ferido pouco mais tarde e transferido para um hospital de campanha.

Lá, escutava as histórias dos feridos graves e tomava notas, que iriam resultar em seu romance. Para fins de marketing, porém, Remarque afirmou ter vivenciado tudo pessoalmente. Nada de novo no front só foi publicado em 1929, tornando-se de um dia para o outro um dos maiores sucessos da literatura alemã. Críticos de todo o mundo o celebraram como uma denúncia pacifista contra a guerra.

Condenado pelos nazistas

Os meios de direita da Alemanha, por outro lado, consideraram o romance uma ofensa à memória de seus soldados. Em 1933, após a tomada de poder pelos nacional-socialistas, ele foi queimado publicamente e banido. Seu autor já havia emigrado para a Suíça.

Remarque seguiu se beneficiando de sua imagem de pacifista e do sucesso precoce, sem conseguir repeti-lo, apesar de seguir escrevendo. Apenas anos mais tarde ele confessou ter sempre sido um cidadão apolítico.

Desde o lançamento, seu romance já foi levado às telas três vezes: logo em 1930 por Hollywood; em versão para a TV americana em 1979; e em 2022 na produção alemã dirigida por Edward Berger e várias vezes premiada, inclusive com os Oscars de Melhor Filme Internacional, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora.

Filho de imigrantes franceses, Erich Maria Remarque nasceu em 22 de junho de 1898 em Osnabrück, no noroeste da Alemanha. A partir de 1933, viveu alternadamente na Suíça e nos Estados Unidos, até morrer em 1970 na localidade suíça de Locarno.