05/10/2024 - 14:41
Sempre que você vir uma manchete sobre um asteroide em direção ao planeta, pode ficar tranquilo. Objetos rochosos grandes e pequenos passam pela Terra todo o tempo.Imagine a cena: um asteroide se aproxima da Terra. Ele é do tamanho da Torre Eiffel, tem o formato de um amendoim e é potencialmente perigoso. Parece assustador, certo?
E não se trata de um cenário hipotético. O asteroide em questão passou perto da Terra em setembro e tem nome: 2024 ON.
Desde a descoberta, em julho de 2024, a mídia e outros criadores de conteúdo fizeram barulho em torno do corpo celeste. Soube-se que ele tem 370 metros de diâmetro, viajava a cerca de 40 mil quilômetros por hora. Era considerado “potencialmente perigoso” pelas autoridades espaciais e vinha na direção da Terra.
Assim que o 2024 ON foi descoberto, contudo, os astrônomos calcularam que ele passaria pelo nosso planeta a uma distância de um milhão de quilômetros – mais do que o dobro da distância até a Lua. Não havia qualquer risco de colisão, ao contrário do que a mídia sugeria.
“As publicações precisam ter esses ‘clifhangers’ para receber visitas”, disse Juan Luis Cano, do Escritório de Defesa Planetária da Agência Espacial Europeia. A expressão em inglês quer dizer algo como estar “pendurado no precipício”, e se trata de um tipo de técnica de produção de texto e de conteúdo audiovisual que apresenta alguma situação limite para fisgar a audiência.
“Mas diariamente somos visitados por muitos objetos”, desmistifica o pesquisador.
De fato, cerca de 100 toneladas de material espacial atingem a Terra todos os dias. Felizmente, a massa é distribuída em muitas rochas minúsculas, em vez de um único grande bloco destruidor.
Nenhum grande objeto em direção à Terra
O Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior define os objetos próximos à Terra (NEOs) como qualquer asteroide ou cometa que passe perto da órbita da Terra.
Em termos mais técnicos, os NEOs são objetos com um periélio – sua distância orbital mais próxima do sol – inferior a 195 milhões de km.
Considerando que a Terra orbita o Sol a uma distância de cerca de 150 milhões de km, os NEOs estão bem dentro da nossa vizinhança solar.
Cientistas como Cano sabem da existência de cerca de 34 mil NEOs, mas nenhum dos maiores está atualmente a caminho da Terra.
Qual é a probabilidade de um impacto de asteroide contra a Terra?
Enquanto os pequenos NEOs atingem a Terra todos os dias, os maiores chegam com muito menos frequência. Asteroides do tamanho de 2024 ON podem vir uma vez a cada 10 mil anos.
Aqueles com mais de um quilômetro de diâmetro, como o asteroide Chicxulub, que levou os dinossauros à extinção há 66 milhões de anos, podem atingir a Terra em 260 milhões de anos.
“Estimamos que existam cerca de mil objetos maiores que um quilômetro e descobrimos 95% deles”, disse Cano. “Esses são os que podem causar um desastre global.”
Mas os menores também têm potencial destrutivo. Dependendo da velocidade e do ângulo de entrada na atmosfera da Terra, uma rocha de 40 metros de largura poderia arrasar uma cidade inteira. Centenas de milhares desses NEOs menores ainda não foram catalogados.
“Descobrimos cerca de 3.000 asteroides próximos à Terra [NEAs] todos os anos” afirma Cano.
Encontrar objetos próximos à Terra é uma tarefa “complicada”
O primeiro telescópio baseado no espaço com a função de encontrar objetos foi o Neowise, que documentou mais de 158 mil NEOs. O equipamento foi aposentado em 2024 após mais de dez anos de missão.
Em seu lugar, está prevista a missão Near-Earth Object Surveyor (“Pesquisador de objetos próximos à Terra”), que deve começar a operar em 2027. Seu objetivo é encontrar o restante dos asteroides potencialmente perigosos (PHAs) em um raio de 50 milhões de quilômetros da órbita da Terra.
“Uma das coisas mais complicadas de se fazer em astronomia é saber a que distância algo está”, revelou Amy Mainzer, cientista planetária da UCLA que chefiou a missão Neowise e chefiará a NEO Surveyor.
“Você pensaria: ‘Bem, nós vemos objetos nos limites do espaço, por que não sabemos o que está bem próximo de nós aqui na Terra? Será que não sabemos tudo?’ e a resposta é: ‘Não, é realmente muito difícil’.”
É importante manter o registro dos objetos avistados e comunicar essas descobertas, explica Mainzer.
Para isso, os astrônomos também usam telescópios baseados em solo para monitorar NEOs e asteroides potencialmente perigosos. Um dos mais novos é o Observatório Vera Rubin, em construção no Chile, que passará uma década criando um mapa do universo em time lapse (técnica de filmagem para uma reprodução acelerada).
“Isso vai revolucionar o número de asteroides que descobrimos”, disse Cano.
A Agência Espacial Europeia (ESA) também está construindo quatro pequenos telescópios com lentes múltiplas “Flyeye” para fazer observações de campo amplo do céu noturno.
Como o rastreamento de NEOs ajuda nossa defesa planetária
Nenhum asteroide conhecido está programado para atingir a Terra pelo menos até o próximo século. Sabemos disso graças aos nossos sistemas de defesa planetária. O rastreamento de NEOs faz parte desse sistema.
Depois que um objeto é identificado, pesquisadores como Mainzer e Cano fazem observações repetidas para traçar a trajetória de um NEO de forma rápida e precisa. Isso pode ajudar a diminuir as preocupações com um NEO e faz parte do que os cientistas chamam de defesa planetária.
É o caso do Apophis. Quando identificado pela primeira vez, em 2004, o objeto celeste de 340 metros de largura foi considerado o potencialmente mais perigoso já descoberto. Acreditava-se que ele poderia atingir a Terra em 2029, 2036 ou 2068.
Cálculos posteriores descartaram essa possibilidade. Ele chegará a 30 mil km do planeta no fim desta década – mais próximo do que a Lua e ao alcance de satélites geoestacionários, mas sem atingir a Terra.
Mas o que aconteceria se um NEO trapaceiro fosse visto em rota de colisão com a Terra? Com aviso suficiente, os engenheiros poderiam tentar desviá-lo do alvo.
Em 2022, a missão Double Asteroid Redirection Test (DART) da NASA colidiu com sucesso uma espaçonave em um asteroide chamado Dimorphos. Isso demonstrou que uma colisão calculada pode mudar a direção de um corpo celeste e defender nosso planeta.
A ESA programa lançar uma missão de reconhecimento chamada Hera neste mês para inspecionar o resultado da missão da DART.