12/06/2025 - 15:15
A mineira Laysa Peixoto Sena Lage, de 22 anos, marcou as notícias da última semana após anunciar que seria a primeira mulher brasileira a ir ao espaço. Poucos dias após a declaração, uma reviravolta no caso: a jovem foi desmentida pela própria Nasa e por diversas outras instituições das quais alega ter participado.
Por meio das redes sociais, Laysa esbanja conquistas relacionadas astronomia e fotos com uniforme da Nasa. Segundo ela, é formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente faz mestrado em computação aplicada e física quântica na Universidade de Columbia, em Nova York, nos EUA. Tais informações, no entanto, foram refutadas.
A Revista Planeta procurou as entidades e elenca os principais pontos para entender a trama de Laysa.
Onde tudo começou
Laysa ficou conhecida em 2021, quando começou a estudar Física na UFMG e identificou um asteroide inédito. Ela chegou a batizá-lo de LPS003 em homenagem às suas iniciais. A descoberta fez com que a jovem fosse vista por instituições públicas, como a Câmara Municipal de Contagem (MG) – cidade de origem dela – e o Ministério da Ciência e Tecnologia.
Em 2022, ela divulgou que visitaria a Nasa e que começaria um treinamento de astronauta. O curso que a jovem alegou participar, chamado de Programa L’Space, incluía desafios de engenharia e atividades de trabalho coletivo que criam simulações de viagens especial de duração estendida.
Alegações
A jovem mineira alega ter concluído curso de Física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, agora estuda na Universidade de Columbia, em Nova York, para fazer mestrado em computação aplicada e física quântica.
Na última semana, ela anunciou por meio do Instagram que seria a primeira brasileira a viajar em uma missão espacial, que seria organizada pela empresa privada Titans Space. Na publicação, que ainda está disponível, ela diz que foi selecionada para se tornar astronauta de carreira, atuando em voos espaciais tripulados para estações espaciais privadas, e para futuras missões tripuladas à Lua e para Marte. “Sou oficialmente astronauta da turma de 2025 e farei parte do voo inaugural da Titans Space”, comemora.
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Em seu perfil também consta um post sobre a lista “Under 30” da revista Forbes – título para pessoas bem-sucedidas antes dos 30 anos. De acordo com as informações, ela teria sido destacada como líder de uma equipe que procura achar água na superfície da Lua.
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Informações falsas
Apesar de realmente ter estudado na Física na Universidade Federal de Minas Gerais, Laysa não finalizou o curso. Segundo nota enviada à Revista Planeta, ela teria sido desvinculada da instituição em 2023, após não renovar a matrícula.
“Laysa Peixoto Sena Lage não possui vínculo com a UFMG, tendo sido desligada do curso de Física por não matrícula no segundo período letivo de 2023. A estudante cursou 2021/1, 2021/2, 2022/1 e 2022/2. Teve um trancamento total em 2023/1, vindo a ser desligada por não matrícula em 2023/2.”
A reportagem também procurou a Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) para verificar se a jovem possui algum tipo de conexão com a entidade. De acordo com a instituição, Laysa “não é funcionária da Nasa, pesquisadora principal ou candidato a astronauta”. A Nasa também fez questão de lembrar que não possui qualquer afiliação à missão espacial da Titans Space.
“O Programa L’Space é um workshop para estudantes – não é um estágio ou emprego na Nasa. Seria inapropriado alegar afiliação à Nasa como parte dessa oportunidade”, ponderou a empresa.
Outra contradição da versão de Laysa é que a empresa Titans Space, teoricamente responsável pela expedição de 2029, não detém de autorização da Administração Federal de Aviação para operações comerciais de voos espaciais tripulados. Além disso, o nome da jovem não consta entre a lista de tripulantes no site oficial da instituição.
Sobre a alegação de que estaria estudando mestrado na Universidade de Columbia, em Nova York, a reportagem apurou que trata-se de uma informação inverídica. Segundo nota enviada pela Universidade, não há absolutamente nenhum registro de Laysa nos arquivos da entidade.
A revista Forbes, que chegou a incluir Laysa como uma das personalidades “Under 30”, foi procurada pela reportagem mas não respondeu até o momento. A Titans Space também foi procurada, mas não forneceu explicações.
O que diz Laysa
A assessoria de Laysa divulgou um comunicado para o “Jornal de Minas” sobre o caso. Nele, afirma-se que a jovem nunca alegou trabalhar para a Nasa. Leia na íntegra:
“Laysa Peixoto Sena Lage é mineira, nascida em Belo Horizonte. Após cursar o ensino médio técnico em Informática na FUNEC, ingressou na Universidade Federal de Minas Gerais, no curso de Física. A matrícula foi feita após o Enem 2020, com os estudos sendo iniciados em 2021 devido à pandemia. Laysa permaneceu na UFMG de 2021 a 2023, quando se transferiu para a Manhattan College (Manhattan University), em Nova Iorque, Estados Unidos.
Durante sua formação, participou do programa NASA L’Space, aberto a jovens estudantes e profissionais da área, com objetivo de aprendizado de propostas tecnológicas para a NASA. Durante o curso, os alunos desenvolvem propostas de projetos de estudo, e o de Laysa Peixoto foi aceito – Project Investigator – AquaMoon, NPWEE, Proposal para a Nasa.
Em um post em 2023 no Instagram, Laysa postou uma foto mostrando o nome do programa e nunca afirmou que trabalhava para à Nasa, mas que liderava equipes no programa L’SPACE. A participação no programa L’Space gera dois certificados: Nasa NPWEE e Nasa Mission Concept Academy.
Em 2022 Laysa concluiu o curso Advance Space Academy, feito no Alabama, um treinamento que acontece no Marshall Space Flight Center e U.S. Space and Rocket Center, que contou com a presença do Astronauta Larry DeLucas na formatura da Expedicao (sic) 36 do Advanced Space Academy.
Laysa também possui os seguintes cursos de formação no MIT: Machine Learning, Modeling, and Simulation Principles – ministrados online.
Laysa foi selecionada pela Titan Space para se tornar uma astronauta de carreira, atuando em voos espaciais tripulados para estações espaciais PRIVADAS e para futuras missões tripuladas a lua e para Marte. O único vinculo (sic) indireto do vôo em relação à NASA, é que será comandado pelo astronauta veterano Bill McArthur. Vale esclarecer que somente cidadãos americanos podem ser selecionados como astronautas de carreira da NASA.
No dia 11/06/2025, o site da Titan Space se encontra desatualizado, informação confirmada através do representante da Titans Space, Neal Lachman, que também confirmou a entrada de Laysa na formação da empresa.
Outras conquistas relevantes:
-Medalha de Mérito do MCTI e do Patrick Miller da NASA/IASC pela detecção do Asteroide 2021 PS59, recebida por Marcos Pontes na época, mérito Educacional Carlos Drummond de Andrade,na Câmara de Contagem, em 2021.
-Medalha de Prata na Olimpíada Brasileira de Astronomia e selecionada para a etapa internacional (2020-2021).
-Bolsa de estudos para piloto pela empresa VelAir, em Belo Horizonte, através de certificados e méritos acadêmicos.
-Selecionada em 2023 para ir a Washington DC, participar de um encontro regional de jovens líderes da United Nations Foundation com sponsorship.
No anúncio feito no Instagram, a única declaração dada até o momento (11/06), não tendo conferido nenhuma entrevista até então, Laysa explica que foi selecionada como astronauta pela empresa privada Titans Space.
Em nenhum momento existe uma citação a NASA, ou que seria uma astronauta da agência. O post nunca foi editado.
Está explícito e claro: Laysa foi selecionada para se tornar astronauta de carreira pela Titans Space, que terá como comandante da missão, Bill McArthur, um astronauta veterano da Nasa – única menção feita sobre a NASA no post.
Em post feito em 23/05/2023, em que Laysa segura o laptop mostrando o nome específico do programa da Nasa do qual participou, o L’SPACE Academy, foi confirmada a sua participação pelo NASA L’SPACE Program”.
*Estagiária sob supervisão