12/11/2025 - 17:21
A NASA confirmou a redescoberta do Camp Century, uma antiga base militar secreta dos Estados Unidos construída durante a Guerra Fria e encoberta pelo gelo da Groenlândia há mais de meio século. A estrutura foi localizada em abril de 2024, durante um voo de pesquisa que utilizava radar de penetração no gelo para mapear o subsolo. Os restos da instalação foram detectados a cerca de 30 metros de profundidade, segundo comunicado da agência espacial.
O achado ocorreu quando o cientista Chad Green e sua equipe sobrevoavam a região a bordo de uma aeronave Gulfstream III. O radar da NASA registrou sinais anômalos sob a superfície, que mais tarde revelaram o contorno de túneis e compartimentos subterrâneos. “No início não sabíamos o que era, mas os dados mostraram estruturas muito bem definidas, semelhantes às de uma pequena cidade subterrânea”, afirmou Alex Gardner, pesquisador da agência.
Os dados confirmaram que se tratava do Camp Century, um complexo de 21 túneis construído pelos Estados Unidos em 1959 com o objetivo de abrigar uma rede de possíveis lançadores de mísseis nucleares. O projeto foi desenvolvido em sigilo durante o auge da tensão entre Washington e Moscou. Oficialmente, o governo americano apresentou a base como um experimento científico para testar técnicas de engenharia em condições árticas extremas, mas documentos posteriores mostraram que o plano incluía o “Projeto Iceworm”, um sistema militar subterrâneo capaz de armazenar ogivas nucleares.
A instalação era alimentada por um reator nuclear portátil, e embora nunca tenha recebido armamentos, funcionou até 1967, quando o deslocamento do gelo tornou impossível manter as estruturas estáveis. O reator foi removido, mas registros indicam que resíduos radioativos e químicos permaneceram no local. Desde então, o acampamento foi gradualmente coberto por camadas de gelo e esquecido.
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A nova detecção reacendeu preocupações ambientais. O derretimento acelerado das geleiras da Groenlândia pode expor os materiais tóxicos e radioativos aprisionados no subsolo, segundo especialistas. “Os dados mostram que o gelo que protege o local está se movendo e afinando rapidamente. Se os resíduos forem liberados, haverá impactos ambientais significativos no Ártico”, alertou Gardner.
Além do valor histórico, a descoberta ajuda a NASA a compreender como as mudanças climáticas estão afetando a estrutura interna das calotas polares. O estudo da agência faz parte de um projeto de monitoramento global das massas de gelo e suas implicações no aumento do nível do mar. Gardner destacou que entender a espessura e a estabilidade dessas camadas é essencial para prever futuros cenários climáticos.
O governo dinamarquês, responsável pela Groenlândia, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso. A redescoberta do Camp Century reabre um capítulo pouco conhecido da Guerra Fria e expõe um legado de risco ambiental deixado sob o gelo por um dos períodos mais tensos da história moderna.
