01/04/2016 - 15:46
Embora os modernos equipamentos usados na exploração do espaço já tenham flagrado incontáveis corpos celestes, o nascimento de um planeta ainda era inédito. Esse status mudou em novembro, com a publicação de um artigo na revista Nature no qual as pesquisadoras americanas Stephanie Sallum, da Universidade do Arizona, e Kate Follette, da Universidade Harvard, apresentam evidências da formação de um astro a 450 anos-luz da Terra. Denominado LkCa 15 b, ele está crescendo e aparentemente se tornará um planeta com dimensões semelhantes às de Júpiter.
“Essa é a primeira detecção incontestável de um planeta ainda em processo de formação – o chamado ‘protoplaneta’”, afirma Kate na revista. O astro está se formando em um disco de transição, um anel de poeira e detritos rochosos que orbita a estrela-mãe, LkCa 15. Para os cientistas, as clareiras centrais dentro de discos de transição são criadas pela formação de planetas, que “varrem” a poeira e o gás do disco conforme orbitam a estrela. Até o advento do LkCa 15 b, porém, eles nunca haviam flagrado esse momento com boas condições de visibilidade.
Kate e sua equipe contornaram o problema criando um aparelho capaz de captar imagens características da formação de um planeta, seja ele rochoso ou gasoso. Ao transitar do disco para o núcleo do protoplaneta, o hidrogênio se aquece e brilha feito uma lâmpada fluorescente. O comprimento de onda característico desse movimento, chamado de hidrogênio alfa, aparece na cor vermelha no espectro visível.
Usando seu aparelho associado ao Grande Telescópio Binocular, ou LBT (o maior telescópio do mundo atualmente), e ao telescópio Magellan, no Chile, Kate e sua equipe flagraram o hidrogênio alfa saindo da LkCa 15 rumo ao protoplaneta. Os cientistas chegaram a esse resultado processando as imagens para remover a luz da estrela, o que lhes permitiu visualizar a luz bem mais fraca do protoplaneta. Stephanie Sallum observou independentemente a mesma estrela utilizando uma técnica complementar e chegou à mesma conclusão da colega.
Kate ressalta que a nova tecnologia permitirá uma melhor compreensão do processo que leva os planetas a se formar, verificando se o surgimento do Sistema Solar foi uma regra ou uma exceção no universo. Ela também pretende refinar a tecnologia para poder detectar exoplanetas semelhantes à Terra. “Sempre fui inspirada na famosa imagem ‘pálido ponto azul’ da Terra tirada pela sonda Voyager quando ela passou por Saturno”, afirma. “Realmente gostaríamos de fazer isso algum dia para um planeta em torno de outra estrela, e esse tipo de trabalho está nos movendo nessa direção.”