01/11/2021 - 9:02
Muitos navios holandeses passaram pela costa da Austrália Ocidental durante a rota para o Sudeste Asiático nos anos 1600 – e o naufrágio do Batavia, navio listado como patrimônio nacional, revelou através de suas madeiras a história dos materiais de construção naval que permitiram à Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC, na sigla em holandês) prosperar contra grandes rivais europeus pela primeira vez.
Construído em Amsterdã em 1626-1628 e naufragado em sua viagem inaugural em junho de 1629 no Morning Reef, perto da Ilha Beacon (Arquipélago de Houtman Abrolhos), o Batavia é o ponto alto da construção naval da VOC no ápice da sua Idade de Ouro, revelam especialistas em um estudo liderado pela arqueóloga Wendy van Duivenvoorde, professora associada da Universidade Flinders (Ausatrália), que teve como coautoras Aoife Daly, professora associada e bolsista na Universidade de Copenhague (Dinamarca), e Marta Domínguez-Delmás, pesquisadora associada e professora da Universidade de Amsterdã (Holanda).
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“O uso de serrarias movidas pelo vento tornou-se lugar-comum na República Holandesa em meados do século 17, permitindo que os holandeses produzissem um número sem precedentes de navios oceânicos para viagens de longa distância e o comércio inter-regional na Ásia, mas como é que eles organizaram o fornecimento de uma atividade de construção naval tão intensiva? A República Holandesa e o interior do país certamente careciam de recursos internos”, disse Wendy van Duivenvoorde.
Parte do quebra-cabeça
A amostragem de madeiras do casco do Batavia colhida para a pesquisa dendrocronológica, publicada na revista de acesso aberto PLoS ONE, oferece uma parte do quebra-cabeça do início da construção naval holandesa e da navegação marítima global do século 17 que ainda estava faltando.
No século 17, a VOC cresceu para se tornar a primeira empresa comercial multinacional holandesa, o que levou à emergência do mercado de ações e do capitalismo moderno. Durante esse século, 706 navios foram construídos nos estaleiros da VOC na República Holandesa. Desse total, 75 deles naufragaram e 23 foram capturados por forças inimigas ou piratas.
No entanto, pouco se sabe sobre as madeiras usadas que permitiram aos holandeses construir seus navios oceânicos e dominar o comércio internacional contra concorrentes na França, em Portugal e na Europa continental.
“O carvalho era o material preferido para a construção naval no norte e no oeste da Europa, e as nações marítimas lutavam a fim de garantir suprimentos suficientes para atender às suas necessidades e sustentar suas frotas em constante crescimento. Nossos resultados demonstram que a VOC conseguiu lidar com a escassez de madeira no início do século 17 por meio da diversificação das fontes de madeira”, explicou Marta Domínguez Delmás.
Escolha nada arbitrária
Felizmente, os restos mortais do navio Batavia foram recuperados na década de 1970 e estão em exibição no Western Australian Shipwrecks Museum em Fremantle, na Austrália Ocidental. Isso permitiu que arqueólogos e dendrocronologistas da Universidade Flinders , da Universidade de Amsterdã e da Universidade de Copenhague fizessem a amostragem e a análise das madeiras do casco.
“A preferência por produtos de madeira específicos de regiões selecionadas demonstra que a escolha da madeira estava longe de ser arbitrária. Nossos resultados ilustram a variedade de fontes de madeira que abasteciam o estaleiro da VOC em Amsterdã na década de 1620 e demonstram a seleção cuidadosa da madeira e habilidade artesanal dos construtores”, disse Aoife Daly.
Seção transversal de uma prancha de casco de carvalho do navio Batavia, de 1629, mostrando seus anéis de árvores. Essa amostra foi extraída de uma prancha de casco solta em 2007, antes que a equipe de pesquisa descobrisse um método de amostragem muito menos destrutivo. Crédito: Patrick E. Baker, Western Australian Museum
“Nossos resultados contribuem para o conhecimento coletivo sobre o comércio de madeira no norte da Europa e ilustram a extensão geográfica das áreas que forneciam madeira para a construção naval na República Holandesa no século 17”, concluiu Wendy van Duivenvoorde.