Novo pleito acontecerá em março. Ex-presidente da Suprema Corte, Sushila Karki foi nomeada primeira-ministra interina com apoio dos manifestantes.O presidente do Nepal, Ramchandra Paudel, dissolveu o parlamento nesta sexta-feira (12/09) e convocou novas eleições para 5 de março após uma semana de protestos anticorrupção que deixaram 51 mortos e 1.300 feridos em todo o país.

Na mesma ocasião, Paudel nomeou a ex-presidente da Suprema Corte do Nepal, Sushila Karki, como primeira-ministra interina. Primeira mulher a chefiar o governo no país, ela foi conduzida ao cargo após intensas negociações entre Paudel, o chefe do Exército Ashok Raj Sigdel e os líderes das mobilizações.

Conhecida por sua independência jurídica, Karki se tornou a favorita dos próprios manifestantes que debatiam os próximos passos por meio do aplicativo Discord. Ao longo de sua gestão na Justiça, promoveu a igualdade de gênero e protagonizou decisões judiciais contra casos de corrupção.

Os protestos desencadearam a pior convulsão do Nepal desde o fim da guerra civil e da abolição da monarquia em 2008 e prédios do governo foram incendiados. Eles foram promovidos pelo movimento autodenominado “Geração Z” (nascidos entre 1997 e 2012), que tomou as ruas após o governo do ex-primeiro-ministro K.P. Sharma Oli proibir 26 plataformas de redes sociais, como o Instagram.

Oli foi forçado a renunciar após embates com forças de segurança saírem do controle e policiais dispararem contra a multidão, deixando dezenas de mortos.

Normalidade volta à capital nepalesa

Neste sábado a normalidade começava a retornar ao país de 30 milhões de habitantes, com a reabertura de lojas e a volta dos veículos às ruas de Katmandu, após a suspensão de ordens restritivas que estavam em vigor desde terça-feira.

Os soldados também reduziram sua presença nas ruas. Em sua primeira agenda como primeira-ministra, Karki visitou jovens manifestantes feridos.

Organizações internacionais de direitos humanos divulgaram uma declaração conjunta pedindo que o novo governo acabe com a “impunidade do passado”.

O Nepal enfrenta instabilidade política e econômica desde a abolição da monarquia, enquanto a falta de empregos levou milhões de jovens a buscar trabalho em países como Coreia do Sul e Malásia.

Familiares das vítimas pedem justiça

Para muitos nepaleses, a nomeação de Karki carrega tanto peso simbólico quanto a promessa de mudança.

Ela terá pela frente a tarefa de reconquistar a confiança da população, conduzir as eleições parlamentares sem turbulências e dar respostas concretas às demandas da geração Z. O maior desafio, porém, será assegurar que os responsáveis pelas mortes nos protestos sejam levados à justiça.

Familiares dos mortos se reuniram em frente à residência oficial de Karki, em Katmandu, exigindo o status de mártir para os que perderam a vida, além de compensação financeira.

Alguns se recusam a retirar os corpos de seus parentes do necrotério até que suas demandas sejam atendidas.

“Meu irmão deveria ser declarado mártir, pois morreu pelo país, e o governo deve indenizar meus pais”, disse Sumitra Mahat, irmã de Umesh Mahat, de 21 anos, morto durante o protesto.

gq (AFP, Reuters, OTS)