21/03/2025 - 8:38
Demissão de chefe do Shin Bet gera protestos e ocorre enquanto agência israelense investigava assessores do premiê sobre supostas conexões financeiras com o Catar.O gabinete israelense votou por unanimidade nesta quinta-feira (20/03) a favor da decisão do primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, de demitir Ronen Bar, chefe do Shin Bet, o serviço de inteligência interna de Israel, informou o gabinete do premiê em nota.
Trata-se da primeira vez na história do país que um governo demite o líder do Shin Bet, segundo a imprensa israelense.
Ao justificar a demissão, Netanyahu disse que Bar tinha uma “abordagem branda e não agressiva o suficiente” para os interesses de Israel e ainda insinuou que ele esteve envolvido em vazamentos de informações sigilosas.
Ao longo da semana, quando surgiram notícias de que Netanyahu pretendia forçar a demissão, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo.
A demissão ocorre enquanto o Shin Bet, junto com a polícia israelense, investiga vários assessores de Netanyahu suspeitos de terem recebido vantagens financeiras por parte do governo do Catar.
Bar não compareceu à reunião em que foi votada a sua demissão. Ele optou por enviar uma carta ao gabinete, que depois foi reproduzida pela imprensa israelense. No documento, ele afirma que o processo de sua demissão foi “inapropriado para qualquer funcionário, muito menos para um de alto escalão, muito menos para o chefe do Shin Bet”.
Bar escreveu que, para ele, a argumentação do líder israelense para justificar a demissão esconde “os reais motivos” por trás da decisão, que ele classificou como “profundamente equivocados”.
Bar descreveu ainda sua demissão como sendo motivada pelos “interesses pessoais” de Netanyahu e reagiu à alegação de Netanyahu de que ele havia perdido a confiança no líder do Shin Bet. “Não se trata de falta de confiança, mas da percepção de lealdade pessoal em detrimento da lealdade ao público”, escreveu.
A polícia israelense fez várias prisões após centenas de manifestantes que se dirigiam à residência oficial do primeiro-ministro israelense entrarem em confronto com policiais.
Relatos da imprensa israelense sugerem que alguns dos manifestantes tentaram romper as barricadas policiais em frente à casa de Netanyahu. Várias pessoas ficaram feridas.
Apoio ao cessar-fogo
Yair Golan, o chefe do partido de oposição Democrata, foi ao chão após ser empurrado por policiais enquanto participava da manifestação. “Alguns empurrões não vão me deter”, afirmou, em postagem no X. “Agora, continuamos lutando, trazemos os reféns de volta e impedimos o golpe.”
Os manifestantes também expressaram sua decepção com a retomada dos combates em Gaza que rompeu um cessar-fogo de dois meses, principalmente devido às implicações da decisão sobre a perspectiva de mais reféns retornarem do cativeiro.
Muitos dos reféns libertados durante o cessar-fogo de dois meses recorreram às redes sociais para criticar a decisão do governo. Alguns disseram se tratar de uma sentença de morte para os reféns ainda mantidos pelo grupo islamista Hamas.
O Hamas, designado como organização terrorista por Israel, Alemanha, Estados Unidos e vários outros países, ainda mantém 59 reféns sequestrados em seus ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, com cerca de 20 deles ainda vivos. Os atentados deixaram 1.218 mortes, a maioria civis, de acordo com números israelenses.
De acordo com pesquisas de opinião recentes, a maioria dos israelenses gostaria que o governo mantivesse as negociações sobre um acordo de troca de reféns que encerraria a guerrae resultaria em uma retirada completa dos soldados israelenses da Faixa de Gaza.
Operações terrestres em Gaza
Nesta quinta-feira, o Exército israelense expandiu as operações terrestres em Gaza, após relatar mísseis interceptados do Iêmen e disparos de foguetes em direção a Tel Aviv por militantes do Hamas.
Estes ataques teriam sido a primeira reação militar do Hamas após a retomada de bombardeios aéreos e operações terrestres de Israel em Gaza nesta semana, depois de um impasse nas negociações em torno de uma expansão do cessar-fogo.
A ofensiva israelense foi alvo de ampla condenação e quebrou uma relativa calma no território palestino desde o início da trégua, em 19 de janeiro.
O número total de mortos em Gaza desde o início da guerra é de 49.617, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.
rc (DPA, Reuters, AFP)