Uma década depois da adoção do histórico tratado climático para frear o aquecimento global, as energias renováveis ​​estão crescendo – mas as emissões de CO2 também.Quando o martelo bateu para selar o Acordo de Paris em 2015, lágrimas rolaram, líderes mundiais deram as mãos e os participantes da Conferência do Clima da ONU daquele ano, a COP21, aplaudiram de pé.

Era um momento crucial na ação climática. Pela primeira vez, quase 200 nações adotaram um tratado vinculativo para limitar o aquecimento global a um patamar bem abaixo de 2 ºC, esforçando-se para limitar o aumento a 1,5 °C.

Os cientistas consideravam o limite de 1,5 °C uma linha de defesa crítica contra os danos mais severos e irreversíveis das mudanças climáticas. A ONU agora afirma que ultrapassar esse limite é “inevitável”, com “consequências devastadoras” para o mundo.

Apesar de alguns avanços notáveis ​​na ação climática desde aquele momento em Paris, especialistas alertam que o mundo se encontra em uma encruzilhada crítica. À medida que os países continuam a queimar petróleo, gás e carvão, as temperaturas sobem, causando tempestades mortais, inundações e ondas de calor.

A última década foi a mais quente já registrada, e o ano passado superou essa sequência sombria.

Temperaturas subiram desde então

Enquanto líderes mundiais se reúnem em Belém para a COP30, cientistas alertam que, por mais quente que o mundo já esteja, cada fração de grau importa – fazendo a diferença entre a segurança e o sofrimento de milhões de pessoas.

O aumento do calor está matando aproximadamente uma pessoa por minuto e a poluição do ar causada pela queima de combustíveis fósseis mata cerca de 2,5 milhões de pessoas por ano.

O calor também está causando um enorme impacto econômico, com perdas estimadas em 304 bilhões de dólares (R$ 1,6 trilhão) no ano passado.

Enquanto isso, ecossistemas críticos estão sendo levados ao limite. Este ano, o mundo ultrapassou seu primeiro “ponto de inflexão” climático – um limiar que desencadeia mudanças irreversíveis –, enquanto o aquecimento dos oceanos causa a morte em massa de corais. Os recifes de coral são um dos ecossistemas mais biodiversos do mundo, sustentando um quarto da vida marinha.

Cientistas alertam que outros pontos de inflexão, como o declínio da Floresta Amazônica e o colapso de correntes oceânicas vitais, estão perigosamente próximos.

O que foi alcançado desde 2015?

Embora a ação climática em geral esteja criticamente atrasada, existem impressionantes focos de progresso.

O crescimento global das energias renováveis ​​disparou, superando até mesmo as expectativas dos otimistas. A queda acentuada dos custos está ajudando a impulsionar esse crescimento, num momento em que investimentos em energia limpa vêm aumentando e agora já são o dobro do dinheiro destinado aos combustíveis fósseis.

A participação das energias renováveis ​​na matriz energética global mais que triplicou desde o Acordo de Paris. Em 2024, o mundo registrou o maior aumento de geração de energia renovável de sua história, representando agora 40% da eletricidade global. No primeiro semestre deste ano, a geração de energia solar e eólica superou o carvão pela primeira vez.

A capacidade global de energia solar é mais de quatro vezes maior do que a prevista em 2015, dobrando a cada três anos, e a energia eólica triplicou, de acordo com uma análise da Energy and Climate Intelligence Unit, uma organização sem fins lucrativos sediada no Reino Unido.

A China está na vanguarda, tendo instalado no ano passado mais capacidade solar do que o resto do mundo combinado.

Na última década, os veículos elétricos saltaram de cerca de 1% das vendas de carros para quase um quarto. O mundo está prestes a atingir antes do previsto a meta do Acordo de Paris, de 100 milhões de veículos nas ruas até 2030.

No entanto, há ressalvas importantes a esse progresso. As energias renováveis ​​podem estar batendo recordes, mas o carvão também: o combustível fóssil mais poluente atingiu um recorde de uso global no ano passado. E embora mais dinheiro esteja sendo investido em energia verde, o financiamento público para combustíveis fósseis também aumentou para 1,6 trilhão de dólares (R$ 8,4 trilhões) por ano.

Será possível cumprir metas?

Especialistas alertam que as ações climáticas atuais ainda estão muito aquém do esperado. Embora o progresso da última década tenha ajudado a evitar o aquecimento de 4 °C até o final do século, conforme previsto em 2015, o planeta ainda está a caminho de um aquecimento de 2,6 °C até 2100. Mesmo esse cenário menos drástico levaria a 57 dias extras de calor extremo a cada ano, em comparação com os dias atuais.

Antes da cúpula em Belém, os países ainda se esforçavam para apresentar novos compromissos climáticos. As promessas feitas até agora representariam apenas uma redução de 10% nas emissões até 2035.

O mundo precisa de uma enorme aceleração na ambição e na redução das emissões em todos os setores, de acordo com o recente relatório Estado da Ação Climática, do think tank Climate Analytics.

Isso inclui eliminar o carvão dez vezes mais rápido nesta década, aumentar os esforços para deter o desmatamento em nove vezes, dobrar o crescimento das energias renováveis, aumentar o financiamento climático global em quase 1 trilhão de dólares por ano e expandir rapidamente a infraestrutura de transporte público nas cidades mais poluentes do mundo.