Djalma Rodrigues da Silva Júnior é um rapaz tímido de 16 anos que pretendia fazer faculdade de educação física quando entrou para o programa Guri Santa Marcelina, em 4 de agosto de 2008. “Eu precisava optar entre jogar futebol e fazer música. Perguntei para um professor e ele disse que música dava mais futuro. Ouvi seu conselho, e agora está surgindo um monte de oportunidades”, conta.

Abrir a porta do universo musical é um dos objetivos do Guri, um programa da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo que desde 2008 está na gestão da Santa Marcelina – Organização Social de Cultura. O recurso financeiro, vindo do governo do Estado de São Paulo, é administrado para suprir os 20 polos assumidos pela instituição, sendo 17 deles em Centros de Educação Unificados (CEUs). “Quando a Santa Marcelina Cultura assumiu a iniciativa, identificamos a necessidade de aulas de música nos CEUs. Tinha um bom espaço e instrumentos musicais disponíveis que estavam subaproveitados. Então, foi feita a proposta para a Secretaria”, recorda Giuliana Frozoni, gestora do programa.

Por enquanto, a implantação tem se mostrado positiva. Segundo Giuliana, as comunidades abraçam a ideia. Tanto que cerca de 7 mil jovens, entre 6 e 18 anos, já estão inscritos no Guri. O programa oferece três tipos de cursos: os de iniciação, para crianças de 6 a 9 anos (duas vezes por semana), os sequenciais, para jovens de 10 a 18 anos (de segunda a sextafeira), e os modulares, também para essa última faixa etária (uma vez por semana). “A maior parte dos nossos alunos são adolescentes, a partir dos 12 anos, de baixa renda, mesmo porque nossos polos são inseridos em áreas de alta vulnerabilidade social. Mas isso não é um limitador. Nosso único requisito é que o jovem esteja matriculado em uma instituição educacional”, informa a gestora.

É no CEU Parque Veredas, na zona leste da cidade de São Paulo, que Djalma tem aulas de saxofone, no curso sequencial. Cristina Palazzo, assistente social do polo, lembra que Djalma era muito tímido e que, aos poucos, foi se socializando. “No começo, ele não sabia tocar saxofone, mas é um menino muito batalhador. Está sempre sorrindo, nunca reclama e estuda todos os dias. Tão dedicado que foi convidado para participar do grupo sinfônico do Guri, composto por alunos dos polos”, ressalta orgulhosa. Djalma diz que foi o instrumento, o saxofone, que o escolheu. “Não dá para explicar, mas gosto do timbre e do formato do saxofone. Quando estou tocando, me sinto realizado. Acho que a melhor coisa para o músico é tocar o instrumento que mais aprecia”, relata. Apesar de ser apaixonado pela música, ele também destaca que o que mais gosta do Guri é dos funcionários acolhedores.

A música é uma oportunidade que os jovens têm de melhorar sua autoestima. Eles adquirem um conhecimento que antes era distante de sua realidade.

A equipe de cada polo é composta por um assistente social, um monitor (responsável pela parte administrativa), um agente de apoio (que cuida dos instrumentos e das salas), estagiários de música e professores. Todos trabalham em conjunto para que o aluno e sua família se sintam acolhidos. Por exemplo, os professores contam aos assistentes sociais quando um jovem parece chateado e vice-versa para trabalharem juntos pelo bem-estar do estudante. “Aqui no polo tem um aluno que é muito extrovertido. Outro dia, eu e o professor observamos que ele estava meio tristonho. Fui conversar com ele, que estava sentindo falta da avó”, conta Cristina.

Giuliana acrescenta que existem dois pilares que sustentam o Guri Santa Marcelina: o primeiro, o conteúdo pedagógico para a educação musical, e o segundo, o apoio social, que engloba conversas e visitas aos familiares dos jovens e palestras sobre temas relacionados à comunidade de cada polo. Cada unidade do Guri tem um assistente social responsável por fazer contato com as famílias e acompanhar a frequência dos alunos. O objetivo desse monitoramento é que não haja desistência. “O Guri Santa Marcelina enxerga o aluno como pessoa. A gente quer saber por que ele faltou. Ligamos para a família, conversamos com o aluno. Queremos que ele se sinta valorizado”, explica Cristina.

Segundo ela, a ausência tem várias causas – um exemplo é doença na família. Nesse caso, o assistente social identifica o problema, conversa, propõe alguns recursos, como estudo em grupo, e cuida para que não haja o desligamento do aluno com o programa. Há também as rodas de conversa, nas quais os alunos podem sugerir melhorias, novos projetos e falar sobre problemas eventuais. Cristina lembra que logo no início do programa alguns pais falavam que a música não tinha futuro. No entanto, após começar a frequentar o polo, eles acabam mudando de ideia. “A mãe de um aluno de flauta reclamava dessa questão. Hoje, ela não perde uma apresentação do filho.”

De acordo com Giuliana, a distância é uma das maiores dificuldades dos jovens. Alguns alunos enfrentam uma caminhada de uma hora ou mais para chegar ao polo. Mas Cristina também reflete que, apesar da distância e da vida puxada de alguns – que trabalham, estudam e frequentam o Guri –, a vontade de aprender e a paixão pela arte musical faz com que poucos faltem ou desistam. “São alunos extremamente interessados pela música. E eles amam estudar. Tem disputa por agenda para marcar estudo em grupo. Tem sempre horário lotado para estudos fora do horário de aula. São muito dedicados, participam de todas as atividades, sejam sociais ou pedagógicas”, afirma.

Muitos jovens consideram o Guri um ambiente de estudo que não deixa de ter o caráter de uma grande família. Além do aprendizado de uma nova linguagem, Giuliana assinala como fundamental o convívio social dos adolescentes com outros que têm o mesmo interesse. “É um lugar onde, além do ensino musical e da técnica, há um espaço para a conversa, para a amizade. Pode parecer estranho, mas muitos deles não tinham isso até então.”

Com os bons resultados colhidos até agora, a meta de expansão para 2010 é assumir mais polos, totalizando 30. Este ano, o programa já abriu novas vagas para os cursos. As inscrições podem ser feitas pelo site: www.gurisantamarcelina.org.br.