02/01/2025 - 19:39
País quer zerar comercialização de veículos a combustão até o final de 2025. Governo aposta em incentivos fiscais e benefícios para motoristas.Nove em cada dez carros novos vendidos na Noruega em 2024 eram elétricos, segundo dados divulgados pela Federação Norueguesa de Estradas (OFV) nesta quinta-feira (02/01).
Dos 128.691 carros novos registrados no ano passado, 114.400 eram movidos a bateria, o equivalente a 89%. Essa é a maior participação de veículos do tipo de qualquer grande mercado nacional de carros. A quantidade também supera a participação de 82% registrada no país em 2023.
Apesar de ser um grande produtor de petróleo e gás, a Noruega pretende atingir “emissão zero” a partir de 2025, zerando a venda de carros a combustão. A data adianta em uma década o prazo estabelecido pela União Europeia, da qual a Noruega não faz parte.
As marcas mais vendidas foram Tesla, seguida por Volkswagen e Toyota. Carros elétricos chineses agora representam quase 10% das vendas.
“A Noruega será o primeiro país do mundo a praticamente tirar os carros com motores a gasolina e diesel do mercado de carros novos”, disse Christina Bu, chefe da associação de veículos elétricos da Noruega.
A Dinamarca tenta seguir o mesmo caminho, Em 2024, 51,5% dos 173 mil carros vendidos eram elétricos.
Pacote de incentivos impulsiona mercado
Em 2012, os carros elétricos representavam apenas 2,8% das vendas, mas desde então explodiram graças a vários incentivos.
A Noruega penaliza os carros a combustão com impostos mais altos, enquanto isenta os elétricos de alguns impostos para torná-los mais competitivos.
Condutores destes veículos também não precisam pagar pedágios ou estacionamentos públicos, e podem utilizar faixas exclusivas para transporte público.
Embora alguns impostos tenham sido reintroduzidas em 2023, em especial para proteger o mercado europeu dos produtos chineses, os incentivos acabaram popularizando os veículos a bateria.
A política tem funcionado porque foi consistente ao longo do tempo, mantida por governos de várias espectros políticas, disseram especialistas.
“É crucial manter os incentivos que favorecem a compra de carros elétricos se o governo e o parlamento quiserem atingir a meta que eles mesmos estabeleceram”, disse Oyvind Solberg Thorsen, diretor da OFV, em nota à imprensa.
Para equilibrar o ônus dos incetivos, o país usa um fundo soberano de 1,7 trilhão de dólares (R$ 9,3 trilhões), alimentado pelos lucros da produção de petróleo.
“Muito frequentemente vemos em outros países que alguém coloca incentivos fiscais ou isenções e depois recua novamente”, disse Christina Bu.
Na Alemanha, por exemplo, a experiência é oposta. Em dezembro de 2023, o país acabou com subsídios para compra de carros elétricos, que barateiam o produto, devido a uma crise orçamentária. No Brasil, a reforma tributária recentemente aprovada no Congresso também seguiu no caminho contrário, ao sobretaxar os veículos deste tipo.
Para Ulf Tore Hekneby, chefe da maior importadora de carros da Noruega, Harald A. Moeller, outro ponto favorável é o fato de a Noruega não ter um lobby ativo de fabricantes de automóveis. “Não somos um país produtor de carros. Então, tributar fortemente os carros no passado foi simples”, disse.
“Essa é a grande lição: juntar um pacote amplo [de incentivos] e torná-lo previsível para o longo prazo”, disse a vice-ministra dos Transportes da Noruega, Cecilie Knibe Kroglund.
Infraestrutura deve se adequar
Com o avanço das vendas, os carros elétricos agora representam mais de 28% de todos os veículos em circulação no país nórdico, segundo dados da Administração Pública de Estradas, e também já superam a quantidade total de carros a gasolina.
A crescente participação pressiona outros setores a se adaptarem. Nos postos de combustível, agora as bombas de gasolina estão sendo substituídas por carregadores elétricos rápidos.
“Nos próximos três anos, teremos pelo menos o mesmo número de estações de carregamento que temos de bombas de combustível”, disse Anders Kleve Svela, gerente sênior da Circle K, maior varejista de combustíveis da Noruega.
Resistências
Embora quase todos os novos compradores de carros na Noruega tenham optado por modelos elétricos, alguns ainda resistem.
“Os principais compradores de carros com motor de combustão interna na Noruega são as empresas de aluguel, porque muitos turistas não estão familiarizados com os carros elétricos”, disse Hekneby.
“Às vezes, sinto falta de apenas encher o tanque e sair dirigindo cinco minutos depois”, disse Desire Andresen, 28, cuidadora domiciliar, enquanto carregava seu carro elétrico em uma estação Circle K nos arredores de Oslo.
“Mas estou mais confortável com um carro elétrico… É melhor para o meio ambiente e os carros a diesel não produzem tanto cheiro.”
gq (AFP, Reuters, DPA)