Ganhar uma boa classificação para investimentos, em princípio, é algo positivo – ainda mais quando se está sem nenhuma há dez anos. Mas a notícia pega o Brasil num mau momento, tanto político quanto econômico.À primeira vista, o anúncio de 1º de outubro da agência de classificação de risco Moody’s é uma boa notícia: basta subir mais um grau, e o Brasil recupera o rating de investimento perdido em 2015, quando caiu para o nível especulativo.

Uma notação de investimento é importante para um país emergente como o Brasil, pois facilita e barateia a obtenção de créditos estrangeiros. Não só o Estado, mas também empresas e bancos podem, assim, se financiar melhor. Segundo a Moody’s, o motivo principal para essa promoção seria um crescimento econômico acima da média, já pelo terceiro ano seguido.

Entre as grandes economias da América Latina – além da Argentina, afligida por superinflação e recessão –, o Brasil é a única sem uma classificação de investimentos. Chile, México, Peru e Colômbia dispõem de um selo de qualidade expedido pelas agências de risco. Ao contrário do Brasil, porém, nos últimos meses as perspectivas pioraram para todos esses países. No médio prazo, poderá haver rebaixamentos.

Essa é a boa notícia. A ruim é que quase nenhum banco de investimento ou economista brasileiro está convencido da avaliação da Moody’s. Para a Faria Lima, o déficit orçamentário nacional é grande demais, e os esforços governamentais para equilibrá-lo não são dignos de crédito.

Por isso, o endividamento deverá crescer rapidamente, possivelmente com consequências negativas para o governo nos próximos dois anos. Desde o início da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a dívida estatal já inflou quase dez pontos percentuais.

Em vez de gastar cada vez mais, o governo deveria fazer cortes, exigem os mercados financeiros. Mas Lula pressiona agora por um alívio fiscal para as rendas até R$ 5 mil. Como se financiará esse rombo de arrecadação, é algo que está totalmente no ar.

Drama nacional de 2015 pode ser repetir em 2025

Contudo, o petista tem um argumento para seguir na mesma trilha: com seu segundo mandato, em 2008, ele conseguiu obter um rating de investimento. Também na época, os bancos de investimentos desaconselharam intervenções e aumento de gastos estatais.

O perigo no momento é faltarem ao ministro das Finanças, Fernando Haddad, argumentos para convencer Lula, o gabinete e seu próprio Partido dos Trabalhadores (PT) a adotarem uma maior disciplina orçamentária. “Mas a Moody promoveu a gente”, provavelmente rebaterão, toda vez que ele tentar impor medidas de austeridade.

E o perigo é a história se repetir: em 2015 o governo de Dilma Rousseff perdeu a nota de investimentos devido a sua Nova Matriz Econômica, baseada na esperança de impulsionar o crescimento através de endividamento e truques de balancete. Mas num certo ponto os juros dispararam, as dívidas explodiram, o real se desvalorizou, e a pressão inflacionária saiu do controle – o desfecho dramático é bem conhecido.

Entretanto, em comparação com 2015, a economia e o governo federal brasileiros estão bem pior: os débitos são ainda mais altos, com uma parte considerável acoplada à taxa básica de juros. Caso a Selic aumente, crescem também os juros das dívidas e, com eles, os gastos do orçamento estatal.

Além disso, o governo tem representação bem mais fraca no Congresso: as eleições municipais acabaram de comprovar a falta de respaldo para a esquerda em torno de Lula.

Essa combinação de política financeira sob críticas ferrenhas e vulnerabilidade política pode se repetir em meados de 2025. Em 2015, Dilma perdeu seu cargo devido a uma política econômica e financeira catastrófica – e a um Congresso hostil.

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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.